Era difícil prever o que esta corrida podia oferecer. Os 17 quilómetros finais de subida ao Grand Colombier eram, certamente, um potencial motivo de apreensão para os ciclistas com as pernas menos frescas. Restava saber que importância lhe davam os homens da geral. Afinal de contas, o perfil da etapa 13, salvo a parte final, era simpático, ainda que, pelo meio, tivesse uma pequena subida não categorizada com um sprint intermédio numa zona nada propícia aos velocistas. Com a camisola verde de Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck) longe das pretensões da concorrência, não era de esperar que alguém fizesse um grande esforço para retirar algo dali.

Quanto à subida final, os candidatos à camisola amarela podiam, numa abordagem mais cautelosa, não ver grande interesse nela. Uma análise às etapas de sábado e domingo (segunda-feira é dia de descanso e terça-feira há contrarrelógio) fazia imaginar que as fichas podiam ser colocadas todas num fim de semana que se espera que seja duro com etapas complicadas do início ao fim. Ou seja, um ataque no Grand Colombier podia não dar qualquer fruto e a investida ia-se refletir, com juros, no desgaste que o fim de semana promete depositar nas pernas dos corredores.

Ainda assim, a etapa 13 podia ser uma hipótese para ciclistas de segunda linha tentarem dar um passo em frente. Na classificação geral, apenas 22 segundos separam o quarto e o sétimo. Ao mesmo tempo, o terceiro colocado, Jai Hindley (BORA-hansgrohe) está já a 2.40 minutos do camisola amarela Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma). O dinamarquês estava inclusivamente à vontade para controlar à distância a investida de outros corrdores, exceto de Tadej Pogacar (UAE Emirates) que se mantinha a 17 segundos. “Estou ansioso pela etapa 13. Nunca estive no Grand Colombier, mas acho que vai ser super duro e sim, é o Tour, então vai ser muito difícil”, disse Jai Hindley, deixando em aberto a possibilidade de ser protagonista.

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Depois da vitória de Ion Izaguirre (Cofidis), na etapa 12, Jonas Vingegaard disse-se pronto para a subida ao Grand Colombier. “Todos os dias de corrida são intensos. Está a ser um grande Tour. A etapa 12 foi muito difícil. As consequências dessa dificuldade vão-se fazer sentir na terceira semana”, disse o dinamarquês. “Estou pronto para uma grande batalha e espero que as minhas pernas estejam bem”. O líder da Jumbo-Visma precisava da sua melhor condição uma vez que o Grand Colombier é um território de Pogacar, onde o esloveno venceu Roglic categoricamente ao sprint em 2020, a última vez que uma etapa do Tour terminou naquele local.

Izagirre deu segunda vitória à Espanha e Vingegaard segurou a amarela no Tour

Na quinta-feira, Rúben Guerreiro foi protagonista ao tentar novamente uma vitória na etapa. O ciclista da Movistar ficou longe de o conseguir, terminando no nono lugar a 1.27 minutos de Izaguirre. Desta vez, foi Nélson Oliveira, também da Movistar, a conseguir integrar a fuga do dia para tentar o triunfo. O português teve a companhia de mais 18 ciclistas na frente: Michal Kwiatkowski (Ineos Grenadiers), Quentin Pacher (Groupama-FDJ), Alberto Bettiol, James Shaw (EF Education-EasyPost), Kasper Asgreen (Soudal-Quick Step), Matej Mohoric, Fred Wright (Bahrain Victorious), Jasper Stuyven (Lidl-Trek), Adrien Petit, Mike Teunissen, Georg Zimmerman (Intermarché-Circus-Wanty), Hugo Houle (Israel-PremierTech), Luca Mozzato (Arkéa-Samsic), Maxim Van Gils (Lotto-Dstny), Cees Bol, Harold Tejada (Astana Qazaqstan), Anthon Charmig (Uno-X) e Pierre Latour (TotalEnergies).

Bryan Coquard (Cofidis) tentou integrar o grupo, provavelmente olhando aos pontos que o deixariam mais perto da camisola verde de Jasper Philipsen, mas acabou por falhar nessa intenção. No pelotão, era a UAE Emirates que comandava com a Bora-hansgrohe logo a seguir. A Jumbo-Visma, nem vê-la. O que levantava outra questão: Pogacar corria o risco de ficar isolado nos quilómetros finais? Tudo porque a Jumbo-Visma tem mostrado ao longo do Tour funcionar melhor coletivamente do que os rivais e, mesmo quando marca o ritmo do pelotão, mantém sempre alguém com Vingegaard nos momentos decisivos. Ora, a UAE Emirates muitas vezes deixa Pogacar à mercê das suas próprias capacidades em corridas em que pouco passa pela frente do pelotão, o que abria a porta à possibilidade de, num dia em que apostavam em liderar o grupo principal durante a maior parte do tempo, poderem não ter condições de acompanhar o esloveno no final.

A velocidade da corrida seguia muito alta. O pelotão estava bastante estendido e comia quilómetros a um ritmo atroz. A fuga estava a 2.20. Com as movimentações à chegada do sprint intermédio, começaram a ficar para trás os primeiros corredores do grupo da frente.

O trabalho da UAE Emirates não era suficiente para anular os fugitivos que alargaram a vantagem para quatro minutos. Caleb Ewan (Lotto-Dstny) acabou por abandonar o Tour na entrada para os 20 quilómetros finais. Nélson Oliveira continuava na frente.

Deixar a perseguição para a subida era sinal de que o pelotão nunca ia colar com a fuga. Nélson Oliveira perdeu o contacto com a frente nos primeiros quilómetros da subida. Sobravam Pacher, Van Gils, Tejada e Shaw. Vindo de trás, Michal Kwiatkowski conseguiu recuperar isolou-se na liderança.

Para satisfação de Pogacar, a UAE Emirates manteve dois corredores junto do esloveno. Em relação aos homens da Jumbo-Visma, Sepp Kuss fazia companhia a Vingeggard. A seis quilómetros do fim, Nélson Oliveira foi alcançado pelo pelotão. Pogacar e Vingegaard passaram bem na subida. Adam Yates (sexto na geral) ficou encarregue de lançar o caos.

Michal Kwiatkowski foi o melhor a andar aos S’s que se desenhavam no topo do Grand Colombier, onde ganhou a sua segunda etapa da Volta a França. No último quilómetro, Pogacar lançou o ataque e ganhou escassos, mas valiosos segundos a Vingeggard. Por um lado, ficou confirmado que não era dia para se conseguirem grandes diferenças. Depois, percebeu-se novamente que, apesar de estarem muito equilibrados, Pogacar é que vai dando sinais mais positivos nesta fase do Tour, conseguindo, sempre que o procura fazer, ganhar tempo a Vingegaard. Por fim, os ciclistas de segunda linha, tal como se previa, também se conseguiram aguentar.

No dia em que França comemora a Tomada da Bastilha, Pogacar, entre a vantagem que conseguiu na estrada e as bonificações, ganhou oito segundos a Vingegaard. Neste momento, o esloveno está a nove segundos da camisola amarela.