Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar vinham dizendo que a luta pela camisola amarela se ia arrastar até Paris. A verdade é que na penúltima etapa da Volta a França, a liderança da classificação geral estava mais do que definida a favor do ciclista da Jumbo-Visma. O dinamarquês chegava à etapa 20 com uma vantagem de 7′ 35” para o rival da UAE Emirates e só uma quebra anormal ou um abandono o poderiam impedir de ganhar o Tour.

Até ao contrarrelógio do início da semana, tudo estava equilibrado. Um desempenho monstruoso de Vingegaard valeu-lhe uma vantagem assinalável. No dia seguinte, quando tentou responder, Pogacar caiu e ficou incapacitado de acompanhar o camisola amarela.

De se lhe tirar o capacete: Vingegaard apostou tudo no contrarrelógio, deu ao pedal mais do que todos e fugiu a Pogacar

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“É difícil e cruel ser um ciclista profissional”, disse Matej Mohoric, após vencer a etapa 20 do Tour, num discurso que também assentaria bem ao compatriota esloveno. “Sofremos muito na preparação, sacrificamos a nossa vida e a nossa família, fazemos tudo para estarmos prontos. Depois, percebemos que todos são incrivelmente fortes e que às vezes é difícil segui-los”. O corredor da Bahrain Victorious dedicou a vitória, que conseguiu por centímetros no sprint com Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), ao antigo colega de equipa Gino Mader, que morreu na Volta à Suíça após uma queda violenta numa descida. “Em 2021, não teria disputado a vitória numa subida como esta, mas esmaguei-me na subida, porque sabia que o Gino era um trepador. Queria dar o meu melhor, porque não o pode fazer mais”.

Pogacar caiu e capitulou, Vingegaard acelerou e fez o xeque-mate: etapa rainha deixa dinamarquês ainda mais líder e com o Tour no bolso

Na reta final do Tour, nem tudo estava decidido. A penúltima etapa, entre Belfort-Le Markstein Fellering, tinha três subidas de segunda categoria, uma de terceira e duas de segunda concentradas em 133 quilómetros. Isto significava que havia 98 pontos por distribuir (um ciclista podia, no máximo, conseguir 37). À entrada para a corrida, Giulio Ciccone (Lidl-Trek) liderava a classificação da montanha com 88 pontos, uma margem muito curta para Felix Gall (AG2R) com 82 e para Vingegaard com 81. Havia então a curiosidade de perceber se o ciclista da Jumbo-Visma tinha pernas e vontade de vencer também o prémio de melhor trepador.

Pogacar era ainda líder da classificação da juventude, e estava responsável pela última imagem que ia deixar no Tour. “A estratégia para hoje é andar a todo o vapor. Vou tentar vencer a etapa”, projetou o esloveno.

Com a primeira subida logo ao quilómetro 24, estava difícil existir qualquer tipo de fuga uma vez que Giulio Ciccone dava resposta a todos os ataques, pois queria os pontos disponíveis no topo de Ballon d’Alsace. A falta de um ritmo constante levou à desorganização total do pelotão. A primeira contagem de montanha mostrou que Vingegaard não tinha qualquer interesse em usar também aquela camisola.

Ainda assim, o dinamarquês chegou-se à frente com um grupo que pretendia tornar aquela agitação inicial numa fuga efetiva. De repente, Vingegaard estava no grupo dos líderes, mas abdicou desse posicionamento rapidamente. Na parte de trás do pelotão, Carlos Rodriguez (INEOS Grenadiers), quarto na geral, caiu, levando consigo Sepp Kuss (Jumbo-Visma), e foi obrigado a um esforço extra para regressar ao grupo principal.

Quando a organização voltou a imperar, Giulio Ciccone, Tom Pidcock (INEOS Grenadiers), Mattias Skjelmose (Lidl-Trek), Krists Neilands (Israel-Premier Tech), Warren Barguil (Arkéa-Samsic) e Maxim Van Gils (Lotto Dstny) formaram o grupo da frente. Em relação à geral, passava despercebido, mas, entre sétimo classificado, Jai Hindley (BORA-hansgrohe), e o quarto, Carlos Rodríguez, havia apenas 1′ 49” de diferença. Por isso, a BORA-hansgrohe jogou ao ataque, tentando juntar Hindley aos fugitivos. A UAE Emirates respondeu de imediato para defender, não fosse acontecer alguma coisa fora do normal, o segundo lugar de Pogacar e, em especial, o terceiro de Adam Yates.

Sem Felix Gall presente na fuga, Ciccone ia colecionando o maior número de pontos possível, acabando por garantir a conquista da camisola do melhor trepador. Enquanto isso, o português Nélson Oliveira (Movistar) teve uma avaria.

Pogacar tinha prometido lutar pela etapa e, por isso, a UAE Emirates responsabilizou-se pela perseguição da fuga. Thibaut Pinot, que se juntou mais tarde ao grupo da frente, ao sentir a aproximação fez tudo para se destacar. Ainda assim, nem tudo eram boas notícias para a Groupama-FDJ, porque David Gaudu, décimo na geral, caiu a 20 quilómetros do fim.

Pinot acabou por ser apanhado. Pogacar atacou no início da última subida. Vingegaard foi com ele, juntando-se também Felix Gall. O esloveno tinha uma promessa para cumprir. Num grupo com a maioria dos ciclistas da geral, Pogacar bateu o camisola amarela ao sprint, saindo com a vitória na etapa. Vingegaard não sai desiludido, pois só tem que chegar a Paris para ser o vencedor da Volta a França 2023.