O segundo trimestre de 2023 foi, para a Lucid Motors, quase tão mau quanto o primeiro. De Abril a Junho, o construtor registou 764 milhões de dólares de prejuízo, um pouco menos do que os 780 milhões correspondentes ao 1.º trimestre do ano.

Ninguém contesta a qualidade do Lucid Air, a berlina eléctrica topo de gama que é uma das mais luxuosas do mercado, além de ser a mais potente e aquela com maior autonomia. Porém, depois de lutar com dificuldades em produzir o modelo a um ritmo interessante, a Lucid Motors tem agora pela frente um desafio ainda mais complicado, que consiste em encontrar clientes para os (poucos) veículos que fabrica.

Numa fase em que já prepara o arranque da produção do SUV Gravity, agendado para final de 2024, a Lucid fabricou 2173 berlinas Air no 2.º trimestre, tendo apenas vendido 1404, o que fez crescer em 769 unidades o stock de berlinas Air em armazém, à espera de clientes. E o inventário já superou as 5000 unidades, o que equivale a quase dois trimestres de produção e a mais de três trimestres de vendas.

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De Janeiro a Março, a Lucid comercializou 1406 unidades, praticamente o mesmo valor de Abril a Junho. Isto ensombra as perspectivas para o futuro, mesmo depois de a marca ter reduzido o preço do Air mais barato, o Pure, em cerca de 10.000 dólares, visando torná-lo mais acessível. Mas tudo indica que a gama ainda está muito cara, mesmo para o (muito) que oferece.

Menos mal que a Lucid não só encontrou novas formas de financiamento, como outro tipo de negócios para continuar a facturar, para além da venda dos modelos que fabrica. Primeiro, encontrou a Aston Martin como cliente, desejosa de tirar partido da sua tecnologia para bater a concorrência na produção dos seus primeiros veículos eléctricos, recorrendo à carga ultra rápida a 900V, potências bem superiores a 1200 cv e autonomias de quase 900 km, graças a baterias de 120 kWh.

Paralelamente, a Lucid é fornecedora das mecânicas a todas as equipas da Fórmula E e, como se isto não bastasse, os sauditas e os seus bolsos sem “fundo” controlam cada vez mais a marca, detendo já mais de 60,5% da empresa, o que explica que uma segunda fábrica vá começar a produzir na Arábia Saudita em Setembro. De caminho, talvez fosse conveniente que Peter Rawlinson, ex-funcionário da Tesla e actual CEO da Lucid, revelasse mais exuberância nos resultados que apresenta do que nas críticas à concorrência, que depois acabam por chamar a atenção sobre o seu mau desempenho.

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