O início dificilmente poderia ter sido melhor, o prolongamento desse mesmo início acabou por trazer o outro lado da moeda. Após a conquista da Taça dos Campeões Árabes, com uma vitória frente ao Al Hilal de Jorge Jesus por 2-1 no prolongamento com dois golos de Cristiano Ronaldo, o Al Nassr pagou a fatura do sucesso no arranque do Campeonato saudita, perdendo a abrir com o Al-Ettifaq de Steven Gerrard apenas 48 horas depois da final e voltando a ceder de seguida na estreia em casa frente ao Al Taawon. Com os outros três conjuntos que passaram a ser propriedade do Fundo Soberano do país a contratarem também alguns nomes de peso para a temporada, a margem de erro na Liga diminuiu e a equipa partia já partia com atraso.

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Sendo uma competição diferente, havia agora esse “peso” de voltar aos triunfos no playoff de acesso à Liga dos Campeões Asiática na receção ao Shabab Al-Ahli do Dubai. E as notícias que chegavam da Arábia Saudita não eram particularmente claras, com uma primeira indicação de que o balneário estaria a “ferro e fogo” após a exclusão de Anderson Talisca da lista de possíveis convocados devido às limitações do número de jogadores estrangeiros antes de uma segunda informação de que o brasileiro não só estava inscrito como iria entrar em jogo para uma partida sem margem de erro tendo em conta tratar-se de um dos objetivos da época.

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“Precisamos contratar um jogador para o coração da defesa. Se ganhamos, não vemos os erros, mas quando perdemos, tudo é negativo. Não fomos uma equipa organizada no primeiro tempo e a nossa defesa foi muito permissiva para o adversário. São momentos difíceis para nós após um excelente início de temporada com a conquista da Taça dos Clubes Campeões Árabes”, assumiu Luís Castro após a derrota caseira frente ao Al Taawon por 2-0 na segunda jornada da Liga, antes de uma entrevista ao canal GOAT onde não só abordou o atual crescimento do futebol saudita como falou também de como é trabalhar com Cristiano Ronaldo.

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“Futurologia não faço, falo sobre o momento. Onde estão os melhores jogadores do mundo, tem de ser das melhores ligas do mundo, e se a Arábia Saudita neste momento tem dos melhores jogadores do mundo, claramente vai ser das melhores ligas do mundo. É a propriedade da transição. Tem os melhores, vai ser melhor”, destacou, recusando em paralelo a ideia de ter sido contratado por indicação do número 7.

“Não vou validar a teoria de que o Ronaldo me quis como treinador, não vou validar porque ele nunca me disse. Falo do estar aqui e do desafio. Pouco tenho a falar dele que o mundo não saiba, o foco que ele tem no dia a dia no futebol. Mas a verdade é que ele transmite uma energia ao jogo e aos colegas que é bastante contagiante. O exemplo que ele é no dia a dia de treino, na recuperação, nos cuidados a ter para voltar a jogo, acho que é fantástico. Ele é um capitão por aquilo que faz em cada segundo do seu dia e o que dá ao futebol: a recuperação, alimentação, descanso, horas de sono e os dados que ele tem todos os dias sobre o desempenho faz com que chegue a jogo nas melhores condições. É esse jogador que pode dar e ir aos limites dele próprio, porque ele sabe os seus limites”, salientou o antigo treinador do Botafogo.

Entre elogios e promessas de crescimento, era fundamental a entrada na fase de grupos da Champions da Ásia onde já estavam Al-Ittihad, Al Hilal e Al-Fayha. Aconteceu. Mas aconteceu num encontro em que todos os atuais problemas do Al Nassr ficaram expostos, com facilidades defensivas que só não provocaram uma mossa maior porque em menos de dez minutos a partir dos 88′ a equipa virou de 1-2 para 4-2 num encontro em que Talisca foi o grande destaque e Ronaldo andou furioso pelos penáltis que não foram marcados.

O “tabu” Talisca foi desfeito logo a abrir, com o brasileiro a entrar na ficha de jogo como um dos cinco atletas estrangeiros a par de Konan, Ronaldo, Sadio Mané e Brozovic (Fofana foi o preterido, Alex Telles ficou de fora por questões físicas) e a precisar apenas de dez minutos para inaugurar o marcador, num cabeceamento que mais parecia um remate após canto de Brozovic da esquerda (10′). Tudo apontava para que o Al Nassr pudesse estabilizar o seu jogo e partir para uma qualificação tranquila mas os problemas defensivos que Luís Castro abordava, e que ficaram ainda mais expostos sem Fofana no meio-campo, voltaram a aparecer e da pior forma com Munas Dabbu a fazer o que quis pela direita antes de assistir Al-Ghassani para o 1-1 (18′). Até ao intervalo Ronaldo teve ainda dois remates com algum perigo mas a igualdade iria mesmo manter-se, com o português a sair visivelmente irritado e a contestar dois penáltis (mão e falta de Milivojevic).

O Al Nassr teria de fazer mais e melhor para derrubar um conjunto do Dubai que se estava a revelar bem mais complicado do que se poderia considerar inicialmente e o cenário tornou-se ainda mais difícil logo no recomeço da partida, com Al-Ghassani a ser lançado em profundidade pela esquerda, a ganhar em velocidade ao central contrário e a picar a bola por cima de Nawaf Alaqidi para o 2-1 (46′). Talisca, logo na resposta, deu o primeiro sinal de perigo da equipa de Riade (48′) e Konan, num cruzamento/remate mais largo, acabou por acertar no poste (62′) mas a desvantagem continuava e os minutos iam passando com a equipa da casa quase instalada no meio-campo contrário mas sem criatividade para desfazer a muralha do Shabab Al-Ahli até que o lateral Sultan Al-Ghannam entrou na área ao segundo poste para empatar de cabeça (88′), deixando tudo em aberto para os descontos onde Talisca seria o herói com novo golo de cabeça aos 90+5′ antes de mais uma saída rápida que teve Cristiano Ronaldo a assistir Brozovic para o 4-2 que fechou o jogo (90+7′).