O presidente do Níger, Mohamed Bazoum, deposto em 26 de julho e detido desde então, não se demite e “decidiu lutar para salvaguardar a democracia”, garantiu a sua filha numa carta aberta publicada no diário francês Le Figaro.

Na carta, Zazia Bazoum Mohamed, que vive em Paris, apelou à libertação do seu pai, detido no palácio presidencial, e ao “restabelecimento da ordem constitucional” no Níger.

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Zazia recorda que o pai foi “democraticamente eleito”, “é a escolha do povo” e “deixou uma marca positiva, tanto a nível nacional como internacional”. “Ele fez da luta contra a corrupção e a má governação a sua principal batalha“, continuou, salientando que também foram feitos progressos na frente económica.

“Hoje, feito refém juntamente com a sua família, não se demite porque está empenhado nos valores democráticos e sempre lutou contra os regimes militares”, acrescentou. “Está a lutar e a sacrificar-se pelo futuro do nosso querido país, o Níger, pelo Sahel e por toda a África Ocidental”, acrescentou.

A filha de Bazoum destacou que o pai podia ter desistido, “poupado a família a este sofrimento” e “ter encontrado um cargo importante a nível internacional”, mas, sublinhou, “decidiu lutar para salvaguardar a democracia no Níger“.

Os militares que derrubaram o presidente Bazoum, eleito em 2021, justificaram o seu golpe de Estado principalmente com a “deterioração da situação de segurança”. Esses argumentos são “completamente falaciosos“, lê-se na carta.

“Todos os ataques terroristas denunciados pelos sequestradores tiveram lugar antes de o meu pai ser presidente e, melhor ainda, todos os sequestradores e os seus cúmplices já faziam parte do sistema que denunciam”, escreveu.

Além disso, sublinhou, “desde que sequestraram o país” assiste-se “com impotência e tristeza a um aumento alarmante dos atentados terroristas: mais de sete atentados em três semanas, com muitos mortos”, detalhou.

É difícil encontrar uma saída para a crise, uma vez que os países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) exigem que Mohamed Bazoum seja reintegrado no seu cargo e libertado imediatamente, o que os militares golpistas se recusam a fazer.

A CEDEAO ameaçou com uma intervenção militar, mas continua a privilegiar a via diplomática, sem resultados até à data.

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“Esta injustiça contra a minha família e contra o Níger leva-me a pensar se não haverá uma ligação com o facto de o Níger se tornar um país exportador de petróleo dentro de três meses”, afirma Zazia Bazoum Mohamed.

Segundo ela, “os sequestradores e os seus cúmplices sabem que ninguém beneficiará pessoalmente dos lucros do petróleo” com o seu pai à frente do país. Mohamed Bazoum “assegurará sempre que esta riqueza beneficie o povo do Níger e não uma elite que se considera superior ao povo do Níger”, garantiu.