Marcelo Rebelo de Sousa diz que António Costa desmentiu publicamente ter ficado em silêncio no Conselho de Estado “contra o Presidente da República”. O primeiro-ministro, na verdade, não disse textualmente isso. Costa disse apenas que não tinha “nenhum diferendo” com Marcelo, mas não justificou a razão do silêncio, alegando que não comentava publicamente o que se passava naquele órgão consultivo do chefe de Estado.

O Presidente, em declarações esta quarta-feira, esteve particularmente empenhado em defender a ideia de que Costa não o quis afrontar. O chefe de Estado começou por dizer que não comenta “as intervenções e os silêncios dos membros do Conselho de Estado”, mas logo acrescentou: “O primeiro-ministro veio desmentir notícias de hoje sobre as quais o seu silêncio era contra o Presidente da República. Eu tinha lido essas notícias e ficado estupefacto com elas, mas percebo que ele tenha esclarecido que não se tratava disso.”

Mais à frente, na mesma declaração, Marcelo diz que ficou mesmo “incomodado” com a ideia de que o primeiro-ministro o queria afrontar com o silêncio, mas ficou satisfeito com a explicação dada esta quarta-feira: “O primeiro-ministro silencioso não foi nenhuma querela com o primeiro-ministro”.

Depois de socialistas terem vindo criticar as fugas de informação no Conselho de Estado, Marcelo deu a entender que saírem notícias sobre o que se passa no Conselho de Estado não é novo, nem sequer é exclusivo do seu mandato presidencial: “Já sou membro do Conselho de Estado há 20 anos. Somando o tempo da presidência de Jorge Sampaio e de Cavaco Silva são cerca de 20 anos. Ao longo de 20 anos vão saindo várias versões, várias interpretações sobre o que se passou ou não passou no Conselho de Estado.”

O Presidente da República fugiu também várias vezes a dizer que balanço faz da situação política — algo que tinha prometido para depois da comissão de inquérito à gestão da TAP. A não-resposta foi lacónica: “Os portugueses têm acompanhado a minha perspetiva e visão sobre a realidade.”

Sobre a convocação do Conselho de Estado, Marcelo diz que “valeu a pena”, já que “muitos conselheiros partilham opiniões na praça pública” e, por isso, “era útil haver uma troca de impressões no Conselho de Estado.” É aí que surge nova indireta ao primeiro-ministro, Marcelo considera útil que os conselheiros possam “comparar opiniões” e que haja “uma interação natural” naquele órgão. Ora, Costa fugiu a qualquer tipo de interação.

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