Citando o antigo basquetebolista Kobe Bryant, Coco Gauff recusou-se a celebrar quando assegurou um lugar na final do US Open contra Aryna Sabalenka. “A tarefa ainda não está concluída.” Coco Gauff subiu ao court para o jogo decisivo e desde aí que pareceu um cubo de gelo. Entre os pontos, quer os ganhasse, quer os perdesse, a feição parecia ser a de quem tinha feito um pacto silencioso onde o prometido era só respirar quando tudo isto acabasse.

Os 25 anos de Sabalenka faziam-na parecer uma veterana face à adversária na final do US Open. Coco Gauff tornou-se profissional aos 14 anos e jogava a segunda final de um Grand Slam aos 19. Depois de ter perdido, em 2022, a final do Roland Garros para Iga Swiatek, a norte-americana tinha pela frente a jogadora que ia sair deste major como número um do mundo pela primeira vez na carreira.

Para Sabalenka, este não era o duelo que desejava. “Sinceramente, não queria que Iga perdesse, pensava que ela ia chegar à final. Não queria tornar-me número um desta maneira, queria uma batalha com ela”, referiu a bielorrussa em relação à rival Iga Swiatek que foi eliminada na quarta ronda frente a Jelena Ostapenko. No fundo, isto podia significar que a vencedora do Open da Austrália talvez não considerasse que Coco Gauff tivesse valor suficiente para a disputa deste major.

Gauff tinha nesta final a possibilidade de começar o caminho para ser a lenda que todos esperam que se torne. Numa espécie de passagem de testemunho, a jovem de 19 anos tornou-se na mais nova finalista do US Open desde que, em 1999, Serena Williams, na altura com 17 anos, venceu pela primeira vez o major de Nova Iorque.

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No caminho até à final, Sabalenka ganhou experiência em ter Arthur Ashe contra si, uma vez que eliminou a também norte-americana Madison Keys na meia-final. A bielorrussa sofreu após ter perdido o primeiro set por 6-0 e ter precisado do tie-break para vencer os outros dois. Frente a Karolina Muchova, Coco Gauff não pode dizer que tenha tido tarefa fácil, mas, pelo menos, o sofrimento não foi tanto para compensar aquele que viria a sentir no início da final do US Open.

Estava tudo montado para que Sabalenka perdesse o controlo emocional do encontro. Apesar de, logo a abrir, ter conseguido um break de vantagem, a jogadora de 25 anos errou nas subidas à rede e cometeu duas duplas faltas consecutivas. Bateu a bola que lhe sobrou no bolso contra o piso, olhou para o teto fechado, desabafou com ele e, após o momento de frustração, voltou a ligar-se ao encontro. Coco Gauff tinha recuperado do break sofrido e feito o 2-2, mas, sem saber, estava a dar força a Sabalenka para vencer quatro jogos consecutivos (6-2).

Coco Gauff deixava de estar tranquila em relação à possibilidade de perder a final. Ainda assim, a consciência não lhe podia pesar, porque não deu nada de borla à adversária. Não existiam sinais de desmotivação que destoassem do foco que encarnava. Assim, a tenista da Flórida foi empurrada para um início perfeito de segundo set. Sabalenka voltou às duplas faltas e fez, de si para si, o sinal de dãããã, passando a mão em frente à cara. Um break abaixo aos 3-2, a bielorrussa celebrou de forma audível um ponto ganho no auge das capacidades momentâneas e recebeu como eco o rugido do público quando Gauff igualou o encontro (6-3).

No set decisivo, não dava para conter a emoção. Nem Coco Gauff conseguiu conter o entusiasmo e soltou aquele come onnnn quando começou com um break. Nesse jogo, respondeu a tudo o que Sabalenka lhe atirou com um deslizamento defensivo que fazia chiar as solas das sapatilhas no chão, a fazer lembrar um encontro de terra batida. A número seis do mundo já tinha deixado cair a máscara da racionalidade. A bielorrussa pediu assistência médica com o parcial em 4-1. Coco Gauff estava numa situação muito vantajosa e, a servir para vencer, não vacilou, fechando a partida em 6-2.

De trás para a frente, esta foi a primeira vitória de Coco Gauff num Grand Slam na segunda participação na final de um major. A derrota não inverte a subida de Sabalenka a número um do mundo.