O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, manifestou este domingo ao seu homólogo chinês a “profunda preocupação” pela “interferência chinesa na democracia parlamentar britânica”, após a revelação de uma detenção por espionagem, disse um porta-voz de Downing Street.

O chefe do governo britânico encontrou-se com o primeiro-ministro chinês Li Qiang à margem da cimeira do G20 em Nova Deli, na ìndia, e manifestou a sua “profunda preocupação com a interferência chinesa na democracia parlamentar britânica”, na sequência da revelação de que um jovem que trabalhava no parlamento de Westminster tinha sido detido por espionagem em março.

Segundo o The Sunday Times, as autoridades britânicas detiveram, em março, dois funcionários do parlamento, acusados de violar a Lei dos Segredos Oficiais por alegadamente espiarem para a China.

Um destes antigos funcionários do parlamento tinha ligações estreitas com vários deputados de topo do Partido Conservador. O alegado espião foi detido a 13 de março, juntamente com outro homem, indicou o jornal.

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O principal suspeito é um jovem com cerca de 20 anos que terá tido contactos com o ministro da Segurança, Tom Tugendhat, e com a presidente da Comissão dos Assuntos Externos, Alicia Kearns, entre outros, segundo a Sky News.

Fontes do parlamento britânico disseram ao jornal que se trata de “uma grande escalada” por parte da China e que “nunca antes” se tinha visto um caso destes.

O jovem foi detido em Edimburgo, informação que foi confirmada pela Scotland Yard, a polícia da capital britânica. O outro suspeito foi detido no condado inglês de Oxfordshire.

Ainda à margem da cimeira do G20, o ministro da Justiça britânico, Alex Chalk, afirmou que a questão da China é um desafio que “define uma época”.

O grupo de pressão da Aliança Interparlamentar para a China afirmou estar “chocado com os relatos de infiltração no parlamento britânico por alguém que alegadamente atua em nome da China”.

O caso do assessor do Parlamento detido em março

Um assessor do Parlamento do Reino Unido foi detido em março por suspeitas de espionagem para a China, revelou no sábado a Polícia Metropolitana, responsável pela região de Londres.

“Agentes do Serviço de Polícia Metropolitana detiveram dois homens em 13 de março sob suspeita de crimes” referentes à Lei de Segredos Oficiais de 1911, um na região de Oxford, no sudeste de Inglaterra e o outro em Edimburgo, capital da Escócia, confirmou a polícia.

Os dois homens foram libertados sob fiança.

De acordo com a imprensa britânica, o segundo homem trabalhava no parlamento do Reino Unido e teve contacto com deputados do Partido Conservador, atualmente no poder.

Entre eles estavam o ministro da Segurança, Tom Tugendhat, e Alicia Kearns, a presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento.

O suspeito trabalhou em política internacional, nomeadamente nas relações com Pequim, e já trabalhou na China.

O caso está a ser investigado por agentes do Comando Antiterrorista da Polícia Metropolitana.

A Aliança Interparlamentar para a China, que reúne dezenas de deputados de vários países, disse estar “chocada com as notícias de infiltração no Parlamento do Reino Unido por alguém supostamente agindo em nome da República Popular da China”.

Em Julho, a Comissão de Inteligência e Segurança da Câmara dos Comuns alertou num relatório que os serviços secretos chineses estão a interferir de “forma prolífica e agressiva” com o Reino Unido.

A China conseguiu “penetrar com êxito em todos os setores da economia do Reino Unido” e “não é difícil detetar” a interferência do governo chinês em vários setores, desde as universidades à energia nuclear, sublinhou o documento.

No ano passado, a inteligência britânica acusou Christine Lee de “se envolver em atividades de interferência política em nome do Departamento Frente Unida”, uma organização responsável pelo desenvolvimento de ligações entre o Partido Comunista Chinês e entidades estrangeiras.

De acordo com o MI5, ela desempenhou o papel de intermediária, ao fazer “doações financeiras a partidos políticos, deputados, aspirantes a deputados e pessoas que concorriam a cargos políticos no Reino Unido”, em nome de cidadãos da China e de Hong Kong.

Christine Lee é suspeita de ter doado centenas de milhares de libras esterlinas a Barry Gardiner, um ex-líder do Partido Trabalhista, bem como ao próprio partido.

A suposta agente foi também fotografada com o ex-primeiro-ministro conservador David Cameron, em 2015, e, noutra ocasião, com o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn.

Em 2019, Christine Lee foi condecorada pela primeira-ministra conservadora Theresa May pela sua contribuição para as boas relações entre o Reino Unido e a China.

Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China garantiu respeitar o princípio de não-ingerência nos assuntos de outros países.