Já morreram, pelo menos, 6.000 pessoas na sequência das inundações “catastróficas” em diversas cidades costeiras do norte da Líbia, de acordo com acordo com os números oficiais, citados pela Aljazeera esta quarta-feira. A Cruz Vermelha adianta que pelo menos 10.000 pessoas estão desaparecidas devido à tempestade Daniel e estima que o número de mortos possa situar-se nos 20 mil, de acordo com o The Guardian. As autoridades locais e internacionais avisam que o número de vítimas pode aumentar nas próximas horas.
Por outro lado, a Agência para as Migrações das Nações Unidas dá conta nesta quarta-feira de pelo menos 30 mil deslocados na cidade de Derna, no leste da Líbia, num relatório a que a agência Lusa teve acesso.
Contactado pelo Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que “não há conhecimento” de cidadãos portugueses nas regiões afetadas pelas cheias. Fonte oficial da tutela de João Gomes Cravinho adianta também que nenhum cidadão nacional contactou a representação diplomática mais próxima, na Tunísia.
Já durante a manhã desta terça-feira, o Governo português tinha expressado “solidariedade para com a Líbia”.
Portugal expressa a sua solidariedade para com a Líbia, face à devastação causada por cheias sem precedentes naquele país. As mais sinceras condolências às famílias e amigos das vítimas e votos de rápida recuperação aos feridos. https://t.co/G90fc1Y7hj
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) September 12, 2023
O Governo também não recebeu, de forma oficial, nenhum pedido de ajuda por parte da Líbia. A operação, a ocorrer, deverá ser feita de acordo com os mecanismos da União Europeia.
Tamer Ramadan, responsável da Federação dos Organismos da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, compara, em declarações à agência de notícias Associated Press, a situação na Líbia com a destruição do sismo em Marrocos. E avisa: o número de mortos vai ascender aos milhares, durante os próximos dias.
[Já saiu o último episódio da série em podcast “Um Espião no Kremlin”, a história escondida de como Putin montou uma teia de poder e guerra que pode escutar aqui. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto aqui ]
Entretanto, três voluntários desta organização morreram, enquanto ajudavam vítimas no terreno. A informação é confirmada na rede social X pelo diretor da Federação dos Organismos da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
Heartbreaking news from Libya. Three volunteers from @LibyaRC lost their lives while on duty helping families stranded by floods after #StormDaniel.
I express our profound sadness & send my deepest condolences to their families & our colleagues at the Libyan Red Crescent.
— Jagan Chapagain (@jagan_chapagain) September 12, 2023
A maioria das vítimas mortais concentra-se em Derna, cidade no leste da Líbia. As mortes confirmadas já passavam, na segunda-feira, as dezenas após a tempestade Daniel, que entretanto se transformou num furacão no Mediterrâneo, ter provocado cheias devastadoras que arrasaram bairros inteiros, mas o balanço das autoridades sanitárias ainda não incluía a cidade de Derna, a mais atingida e ainda sem possibilidade de acesso para equipas de socorro.
O chefe do governo paralelo do leste líbio, Osama Hammad, definiu a situação em Derna de “catastrófica” ao referir-se a “milhares de desaparecidos, bairros inteiros arrasados e levados por um mar com os seus habitantes”.
Depois de Espanha, a Grécia: chuvas torrenciais já fizeram um morto. E o mau tempo está para durar
Segundo o Centro Nacional de Meteorologia líbio, a precipitação ultrapassou os 400 mililitros por hora, um valor que não se registava há quatro décadas. Um membro do Conselho Municipal de Derna, Ahmed Amdur, pediu uma intervenção internacional “urgente” para “salvar a cidade”.
O colapso de zonas residenciais e de edifícios e infraestruturas públicas e privadas, incluindo dois diques, implicou o bloqueio dos acessos rodoviários, com Amdur a pedir um corredor marítimo para fornecer auxílio aos habitantes desta cidade costeira situada na zona leste do país.
A destruição pode ser vista em vídeos comparativos que começam a surgir nas redes sociais, com cidades completamente inundadas. E o deserto ganhou lagos enormes, de cerca de 40 km, como mostram as imagens de satélite.
Here’s the first post-event high-resolution satellite image of the port city of Derna.
Libya's 9/11. pic.twitter.com/HirE59i1Bn
— Nahel Belgherze (@WxNB_) September 12, 2023
???? The devastating floods in eastern Libya have left over 5,300 dead 10,000 people missing and around 30,000 displaced in Derna and other towns. Derna was hit hard, experiencing waves up to 7 meters (23 feet) high that submerged the city and caused extensive destruction. Access… pic.twitter.com/nTnZmVdvuy
— Volcaholic ???? (@volcaholic1) September 13, 2023
#ImageOfTheDay#StormDaniel causes severe floods in #Libya ????????
➡️At least 5,200 casualties have been reported and 8,000 people are still missing
The flooded areas????after Daniel's passage through the Libyan desert are visible when comparing the #Sentinel2 images of↙️2 &↘️12 Sept pic.twitter.com/IEimCGouAh
— Copernicus EU (@CopernicusEU) September 13, 2023
Normalmente en el desierto no hay lagos de 40 km.#Lybia #Darnah pic.twitter.com/aAQvMvFuXx
— Javi P.Tarruella ⚒????❄️ (@jpereztar) September 12, 2023
Tempestade Daniel inunda Grécia, passa a medicane e causa tragédia líbia
A tempestade Daniel, que já tinha sido destrutiva para Grécia, Turquia e Bulgária, ganhou intensidade e força através da água quente e evoluiu para um medicane, furacão típico do Mar Mediterrâneo, que se têm tornado cada vez mais perigosos. Um estudo citado pela CNN revela que estes ciclones tropicais do Mediterrâneo se vão tornar num problema maior graças ao aquecimento global, uma vez que o aumento da temperatura da água implica o aumento da intensidade da tempestade.
The devastating Medicane that hit #Libya deadly flooding, can be seen in Met-11 imagery as it made landfall, via Jochen Kerkmann #LibyaFloods pic.twitter.com/VLXFcBbd3j
— EUMETSAT Users (@eumetsat_users) September 12, 2023
Full timelapse of Storm #Daniel ⛈️
Daniel brought devastating flooding to central Greece as the system stalled in the Mediterranean Sea.
When the system finally moved south, it strengthened into a Medicane tropical-like system before landfalling near Benghazi, Libya. pic.twitter.com/nCs0icxua3
— Zoom Earth (@zoom_earth) September 10, 2023
Aumenta para oito o número de mortos em cheias na Turquia, Grécia e Bulgária
Abdulhamid Debiba, o primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional (GUN) com sede em Tripoli (oeste) prometeu que o Estado vai indemnizar as populações atingidas pelas inundações e decretou três dias de luto nacional pelas vítimas. Em simultâneo, anunciou o envio para Derna de 50 ambulâncias e uma equipa de 75 médicos e enfermeiros, para além de diverso material destinado a reforçar os hospitais das zonas rurais.
A missão das Nações Unidas na Líbia (Unsmil) declarou em comunicado que acompanha e perto a situação de emergência e manifestou “disponibilidade para fornecer apoio aos afetados”.
Após ter atingido a Grécia e Turquia nos últimos dias, o ciclone Daniel tornou-se numa tempestade subtropical em 9 de setembro e esperava-se que enfraquecesse sobre a Líbia a partir desta segunda-feira, quando se dirigia para o vizinho Egito, segundo o centro meteorológico regional árabe.
After bringing severe flooding to #Libya, the remnants of #StormDaniel have moved into northern Egypt today, kicking up Saharan dust as it spins.
The system will continue to weaken, but Alexandria could see moderate to heavy rain in the next 24 hours. pic.twitter.com/vBxHs6iy8j
— Zoom Earth (@zoom_earth) September 11, 2023
Que países enviaram ajuda para a Líbia?
O Qatar enviou pelo menos dois aviões de ajuda humanitária para a Líbia, de acordo com a Al Jazeera, incluindo bombas de água, tendas, cobertores e equipamentos para hospitais de campanha. O minitro dos Negócios Estrangeiros da Turquia também disse que enviaria três aviões com uma equipa de resgate composta por 168 elementos, além de dois veículos e dois barcos de salvamentos.
Os Emirades Árabes Unidos enviaram dois aviões com 150 toneladas de alimentos e materiais médicos. Itália vai enviar uma equipa com bombeiros e oficiais de segurança civil. O Egito, a Jordânia, a Tunísia, os EUA e o Kuwait também se comprometeram a enviar apoio.