O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou nesta quarta-feira à “solidariedade europeia” e pediu mecanismos eficazes para enfrentar os fluxos migratórios procedentes do norte de África em direção à Europa.

“É essencial assumir o conceito de responsabilidade europeia, porque o esforço não pode ser colocado apenas nos países nas fronteiras”, disse Guterres durante uma conferência de imprensa em Nova Iorque para apresentar as suas prioridades para a Semana de Alto Nível da Assembleia-Geral da ONU, que arranca na próxima semana. O secretário-geral insistiu que este não é um problema exclusivo dos países que recebem estes fluxos migratórios, mas sim de todo o continente europeu, razão pela qual apelou à criação de mecanismos eficazes para partilhar esta pressão.

As declarações de Guterres surgem poucas horas após a ilha de Lampedusa, em Itália, ter atingido um novo recorde histórico de chegada de imigrantes num único dia (entre seis mil e sete mil, segundo diferentes balanços).

O grande número de chegadas acabou por saturar as infraestruturas locais, onde durante terça-feira se formou um engarrafamento de embarcações à espera para desembarcar na pequena ilha siciliana. O centro de acolhimento (hotspot) de Lampedusa, com capacidade para 400 pessoas, está completamente sobrelotado, com cerca de 6 mil migrantes.

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Guterres reconheceu que parte destes migrantes chega por razões humanitárias, pelo que estas pessoas deveriam ser consideradas refugiados, enquanto outros o fazem na esperança de melhorar as suas perspetivas económicas. O representante sublinhou que esta distinção é importante, realçando, porém, que nos dois casos “os direitos humanos” devem ser respeitados.

Embora os números estejam em constante evolução, até agora, este ano, desembarcaram em Itália 123.863 imigrantes, quase o dobro dos 65.517 no mesmo período de 2022 e o triplo de 2021 (41.286), segundo dados atualizados do Ministério do Interior. Já em Espanha foi registada, este ano, a entrada de 21.025 pessoas, grande parte (40%) nos meses de verão.

O vice-primeiro-ministro de Itália, Matteo Salvini, lamentou nesta quarta-feira a situação registada na ilha de Lampedusa, defendendo que tal cenário é uma demonstração do “fracasso da Europa“. “O que está a acontecer em Lampedusa e hoje em Estrasburgo é apenas o fracasso da Europa no acordo com os socialistas”, afirmou o também líder da Liga (partido de extrema-direita), em declarações na Associação de Imprensa Estrangeira, em Roma.

E acrescentou: “Os desembarques (de imigrantes) são o símbolo de uma Europa inexistente, distante, distraída e cúmplice, que abandona os países quando se trata de enfrentar os problemas“.

Itália, Grécia, Espanha ou Malta são reconhecidos como os países da “linha da frente” ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.