O Presidente da República recebeu em Toronto elogios do secretário de Estado das Comunidades, que considerou que o Presidente recebe mais carinho fora de Portugal, e prometeu voltar ao Canadá antes do fim do mandato. Na mesma deslocação Marcelo Rebelo de Sousa recusou comentar o último livro do seu antecessor, Cavaco Silva.

O chefe de Estado e o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, estiveram juntos na cerimónia de lançamento da primeira pedra do futuro Centro Magalhães, que será um lar para idosos e centro social para a comunidade portuguesa, mas ainda não tem financiamento total.

No seu discurso, o Presidente da República defendeu que é preciso realizar esta obra e disse que, no regresso a Portugal, na primeira audiência que tiver com António Costa, lhe falará do assunto: “Senhor primeiro-ministro, para o ano é a sua vez de ir às Nações Unidas, pois além das Nações Unidas vai ao Canadá e vai a Toronto e entra numa iniciativa de recolha de fundos para a obra, que bem preciso é”.

“É isso que vou dizer ao senhor primeiro-ministro. Mas depois eu assumo também um compromisso: em 2025 eu venho cá e fica prometido que a última visita que faço antes do fim do meu mandato é ao Canadá e é, dentro do Canadá, também aqui a Toronto”, prometeu o chefe de Estado, que termina o seu mandato em março de 2026.

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Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que, se ainda faltarem fundos nessa altura para o Centro Magalhães, tentará “convencer alguém” a completar o financiamento, enquanto está em funções como chefe de Estado, porque “é mais seguro”.

“O poder dos antigos presidentes da República é muito grande, mas é um poder de magistério distante, é assim que deve ser. O poder do Presidente da República sempre é de alguma presença corporal próxima”, observou.

Antes, Marcelo Rebelo de Sousa ouviu o secretário de Estado das Comunidades elogiá-lo, desde logo, pelo seu contacto com os emigrantes portugueses. “Mais do que um Presidente, é um português que respeita os portugueses que vivem fora de Portugal”, considerou o governante, o que motivou palmas por parte da assistência. Paulo Cafôfo sustentou depois que o Presidente da República, “fora de Portugal, ainda tem e recebe mais afetos e mais carinho do que em Portugal”, afirmação que suscitou mais aplausos.

Em resposta a estes elogios do governante do PS, o chefe de Estado declarou: “Eu devo dizer, em relação ao secretário de Estado — não é para agradecer o que ele disse de mim –, que ele se saiu muitíssimo melhor do que a encomenda, muitíssimo melhor”. “Eu conhecia-o muito bem, eu gostava dele. Estou muito à vontade, porque era de um partido diferente do que era o meu. Agora o Presidente está suspenso do partido, o partido do Presidente é Portugal. Mas, quando tinha um partido, ele era de outro”, prosseguiu.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Cafôfo “apaixonou-se pelas comunidades” emigrantes portuguesas, o que “era fácil para um madeirense, mas há madeirenses e madeirenses, há uns mais apaixonados e outros menos apaixonados — ele é um super apaixonado”.

“Não vou comentar antigos presidentes” 

O Presidente da República recusou comentar a ideia defendida por Durão Barroso de que faz falta um “pulmão direito” em Portugal, destacando antes as medidas do Governo para fazer face aos juros. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, essa ação do Governo “dá – aí sim – um pulmão, dois pulmões” até, pelos seus efeitos económicos e também políticos.

“Não li e sabem que eu, por princípio, não comento. Não vou comentar antigos presidentes da República e futuros presidentes da República”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que a sua orientação nesta matéria “é muito pacífica e muito civilizada”.

Interrogado em concreto sobre a ideia defendida por Durão Barroso de que “o país está demasiado desequilibrado à esquerda” e de que faz falta um “pulmão de direita” no espaço público em Portugal, o chefe de Estado declarou: “Não comento. Mais depressa vos digo uma coisa, que é: tenho acompanhado com interesse, e com interesse positivo, aquilo que está a ser estudado de medidas para tentar mitigar as consequências da subida de juros”.

“E vejo com interesse e como positivo aquilo que se está a pensar relativamente a encontrar fórmulas de, nos próximos tempos, isso não pesar nas famílias portuguesas”, prosseguiu o Presidente da República, defendendo que “isso tem duas vantagens”, que se podem comparar a “dois pulmões”.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira vantagem é “esperar que a situação económica melhore”, mas a ação do Governo para mitigar a subida dos juros tem outra “vantagem política adicional”, no seu entender: “Descomprime o debate ou uma parte do debate nas europeias” de 2024.

“Um dos problemas de um debate nas europeias feito sob uma pressão muito grande relativamente à situação apertada de quem tem crédito à habitação com juros altos era fazer crescer aquelas correntes contestatárias que tiram proveito sempre das situações mais aflitivas de crise. Nesse sentido, pode ter duas vantagens”, sustentou.