A revolução assumida na presente temporada pela Liga saudita trouxe uma confirmação, uma surpresa e uma certeza. Por parte: a confirmação é que o nível global da competição aumentou, o que se percebeu bem na primeira jornada da Liga dos Campeões asiáticas e na diferença de qualidade com e sem bola das equipas do país a comparar com as restantes; a surpresa é que conjuntos como o Al Taawon ou o Al-Ettifaq estão a conseguir furar a regra dos Big 4 mesmo sem tantas estrelas em quantidade e qualidade; a certeza é que os encontros entre as quatro formações que passaram a ser propriedade do Fundo Soberano tinham chancela de espectáculo garantido, como se viu bem no triunfo do Al Hilal de Jorge Jesus diante do Al-Ittihad de Nuno Espírito Santo por 4-3. Agora, seguia-se mais um duelo grande entre o Al Nassr e o Al Ahli.

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De um lado, Cristiano Ronaldo, Sadio Mané, Brozovic, Otávio, Fofana, Laporte, Talisca ou Alex Telles. Do outro, Mahrez, Firmino, Saint-Maximin, Mendy, Kessié, Ibañez Demiral ou Gabri Vega (jogador que ficou como o grande sinal de perigo para a Europa pelo perfil de jogador que é, as possibilidades de clubes grandes que tinha em Espanha e a própria idade). Muitos internacionais sauditas, vários jogadores que nesta altura iam marcar presença em milhares de equipas da Fantasy League da Champions pelo número de pontos elevado que garantia, uma enorme qualidade que poderia ser de um qualquer Jogo das Estrelas mas que tinha esse estatuto oficial que conferia uma maior competitividade do que um mero particular. E o resultado era mesmo importante, tendo em conta aquilo que se passou até aqui nas seis jornadas iniciais.

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Após as duas derrotas a abrir o Campeonato numa fase em que “festejava” ainda a vitória na final da Taça dos Campeões Árabes diante do Al Hilal, o Al Nassr ficou quase proibido de perder mais pontos tendo em conta as campanhas dos adversários mais diretos mas o passar das rondas mostrou que os “pequenos” podiam bater o pé aos “grandes” com maior frequência do que se esperava (o Al Ahli foi goleado pelo Al Fateh por 5-1). Ainda assim, novo deslize deixaria o Al-Ittihad e o Al Ahli já a seis pontos depois de uma vitória no Irão com o Persepolis que mostrou como Ronaldo não precisa de marcar para ter o mundo a seus pés.

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“O Ronaldo é uma estrela entre outras estrelas na minha equipa. Hoje [Quarta-feira] deu-nos uma exibição maravilhosa, tudo o que tinha e o melhor. Conseguimos obter um bom resultado frente a uma boa equipa, agora a atenção vira-se para o próximo jogo. Fomos melhores que o Persepolis e ganhámos. O nosso objetivo é qualificar-nos para a fase a eliminar como vencedores do grupo. A nossa defesa fez um grande jogo e também conseguimos controlar o meio-campo, além de termos conseguido jogar no terreno do nosso oponente”, comentou Luís Castro após a partida em Teerão que funcionou apenas como pausa na série de golos que vai continuando a marcar no Médio Oriente e que prosseguiu ao ter o primeiro jogo grande.

Com o campo a ter ainda duas enormes nuvens de fumo pelos potes abertos pelas duas claques cada uma no seu topo atrás da baliza (o Al Ahli trouxe muitas pessoas de Jeddah), Ronaldo aproveitou um lance que teve início num corte de Otávio a meio-campo para receber uma assistência de Sadio Mané e rematar cruzado na área de pé esquerdo para o 1-0 (4′). Pouco depois, numa jogada de novo trabalhada por Otávio na direita, Talisca tentou um remate que se tornou assistência e Ronaldo fez o mais difícil acertando no poste (8′). O Al Ahli era uma sombra do que já conseguiu fazer esta temporada, tendo só uma tentativa de Mahrez à figura de Nawaf Alaqidi, e foi o Al Nassr que chegou de forma natural ao 2-0 por Talisca, na sequência de um livre lateral na direita batido por Alex Telles ao segundo poste com assistência do central Laporte (17′).

O Al Nassr estava em vantagem e tinha o encontro na mão, conseguindo gerir como queria os momentos de jogo sempre em busca de mais golos com Sadio Mané, a cair mais na esquerda, a ter várias arrancadas que depois não tiveram continuidade. No entanto, o controlo fomentou quase o adormecimento e foi isso que recolocou o Al Ahli de novo na corrida, com Kessié a fazer uma desmarcação de rutura aproveitando uma cratera no centro da defesa do conjunto de Riade para ficar isolado e atirar sem hipóteses para o 2-1 (30′). O ambiente eletrizante das bancadas chegava ao campo e ainda houve um lance em que Saint-Maximin esteve perto do empate mas, após um livre direto de Ronaldo defendido por Mendy, Talisca teve mais um golo de antologia a bater ainda na trave com muitos protestos dos visitantes por uma possível falta de Mané (45+6′).

O jogo estava frenético quando chegou ao intervalo, o jogo voltou frenético após o intervalo – e com golos. A abrir, Talisca teve um gesto inadvertido na área e permitiu que Mahrez reduzisse de grande penalidade logo aos 50′ mas esse 3-2 durou pouco mais de dois minutos, com Ronaldo a receber à entrada da área, a preparar o remate para o pé esquerdo e a bisar naquele que foi o nono golo no Campeonato (melhor marcador isolado da prova) e o 15.º oficial da temporada em 14 jogos. Numa semana em que muito se falou sobre um anúncio onde aparece vestido como um saudita, o avançado mostrou que existe uma tradição transversal onde quer que esteja: marcar golos. E esse acabou mesmo por ser o momento decisivo, com o Al Ahli a não conseguir mais do que reduzir a desvantagem perto do final por Feras Albrikan após assistência de Mahrez (87′) apesar de ver Sumayhan Al-Nabit desviar de cabeça à trave após livre lateral na esquerda aos 90+7′.