André Silva não tem dúvidas: o PAN acaba de cometer um “enorme erro político”, ao assinar um acordo parlamentar para sustentar o governo de Miguel Albuquerque na Madeira por quatro anos. Numa análise às negociações com o PSD, o antigo líder do PAN não deixa pedra sobre pedra e acaba mesmo por concluir que, seguindo por este caminho, o partido “deixa de incomodar” e “não serve para nada”.

O antecessor de Inês Sousa Real foi questionado sobre o assunto no programa de análise política cujo painel integra, o Café Duplo, na TSF, e não hesitou em criticar ponto por ponto o acordo firmado entre PAN e PSD-Madeira. “O PAN acaba de cometer um erro político enorme e sinto-me profundamente envergonhado“, começou por disparar.

E chegou mesmo a acusar o seu partido, onde o seu papel é agora apenas o de um militante de base, de cometer uma “fraude política” ao aliar-se a Albuquerque. “O PAN deu a Miguel Albuquerque o que os madeirenses não quiseram dar: a perpetuação do regime que gere a região de forma autoritária e sem prestação de contas. Em menos de 24 horas o PAN assume uma autêntica fraude política, porquanto tem propostas e ideiais antagónicos aos que governam a Madeira e fez toda uma campanha de oposição às práticas do regime para de seguida garantir nada menos do que quatro anos de estabilidade”.

Assim, o que o PAN acaba por fazer, acredita André Silva, é “defraudar os que votaram em defesa do Ambiente e dos animais”. E vai mais longe: o problema é também o caderno de encargos “profundamente confrangedor” que o partido apresentou, composto por dez pontos que incluem uma taxa turística ou vacinas gratuitas para animais.

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“O conjunto de medidas é muito fraco, é uma total indigência política. Basta atentar ao que sobre estas disse o insuspeito Nuno Melo: as matérias relativas ao acordo entre PSD e PAN são matérias inócuas que dificilmente seriam recusadas por qualquer partido e algumas já faziam parte do programa da coligação”, lamentou.

“O silêncio sobre as medidas é revelador: a não existência de nenhum incómodo ou clamor por parte de nenhum setor atividade económico ou partido político diz tudo sobre estas medidas. Não incomodam ninguém. Quando um partido como o PAN deixa de incomodar, não serve para nada“.

“PAN está a preço de saldo.” Oposição interna critica acordo “cozinhado à porta fechada” que beneficia Governo “nepotista e conservador”

O controverso acordo foi criticado também pela oposição interna do partido, que considerou que o PAN está “a preço de saldo”, e até por elementos que fazem parte do Executivo da Madeira: pelo CDS, que integra a coligação vencedora ao lado do PSD, Nuno Melo veio demarcar-se do acordo e garantir que “obviamente” teria, no lugar do PSD, escolhido a Iniciativa Liberal e não o PAN como parceiro.

Nuno Melo demarca-se do acordo de Albuquerque: “Obviamente que escolhia a IL”

Por seu lado, a sucessora de André Silva, Inês Sousa Real, quis avisar Albuquerque de que o partido retirará “consequências” se as medidas não forem sendo cumpridas, orçamento a orçamento.

Durante a sua liderança, André Silva conduziu negociações para vários acordos a nível nacional, mas à esquerda, tornando-se mais um elemento da geringonça.

O PAN tem sempre insistido que não se coloca nem à esquerda nem à direita do espetro político, embora em 2021, quando Bloco de Esquerda e PCP decidiram chumbar o Orçamento de Estado do PS, Sousa Real se tenha colocado do lado do PS e criticado duramente estes partidos por fazerem cair o Executivo socialista e darem espaço à direita da IL e do Chega.