A coordenadora do Bloco de Esquerda desafiou o primeiro-ministro a “dizer o que vai acontecer às rendas em 2024”, após manifestações no país pelo direito à habitação, e criticou o “silêncio ensurdecedor” de António Costa. “Desde aqui deixo um desafio muito concreto e muito claro ao primeiro-ministro: pois que fale aos milhares de pessoas que saíram [à rua] pelo direito à habitação com o mínimo dos mínimos, que é dizer o que acontecerá às rendas em 2024. Tranquilize já as pessoas que não sabem o que vai acontecer”, desafiou Mariana Mortágua.

Em conferência de imprensa, no final de uma reunião da Mesa Nacional do BE — órgão máximo entre convenções — Mariana Mortágua afirmou que a crise na habitação foi o tema central da discussão deste órgão e começou por saudar as manifestações pela habitação que ocorreram em vários pontos do país no sábado.

A líder bloquista adiantou que o BE “vai levar ao parlamento propostas muito concretas” sobre o tema e apelou a todos os partidos para que “se posicionem e respondam aos milhares de pessoas que estiveram na rua pelo direito à habitação”.

“Achamos que é esse o dever de quem faz política e o dever do Governo. Apesar de ser esse o dever do Governo, do primeiro-ministro só ouvimos silêncio, um silêncio ensurdecedor sobre a habitação e sobre a dificuldade de quem vive com a corda na garganta”, criticou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Salientando que “há milhares de pessoas que não sabem o que vai acontecer no próximo ano às suas rendas”, Mortágua realçou que “o Governo sabe que o aumento será de 7%” caso não seja fixado pelo executivo um limite para a atualização das rendas em 2024 e “sabe disto há mais de um mês”.

“Soube-o no momento em que o BE o soube e apresentou uma proposta para parar esse aumento em 2024 e, apesar de saber isto, não disse nada. O Governo está a gerir o tempo, está a gerir politicamente uma agenda, está a brincar com milhares de pessoas que estão aflitas com a corda ao pescoço e que não sabem se podem continuar a pagar a sua habitação, e é incapaz de dizer o que vai acontecer às rendas em 2024”, criticou.

Mariana Mortágua foi ainda questionada sobre a promulgação pelo Presidente da República do pacote “Mais Habitação” — após um primeiro veto do chefe de Estado – e o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter afirmado que “prefere qualquer coisa, mesmo que curto, a nada”.

“As pessoas que ontem [no sábado] saíram à rua não precisam de alguma coisa curta, precisam de medidas que resolvam as suas vidas. Se os preços da habitação não baixarem, Portugal continuará a criar emigrantes todos os dias”, alertou. Na ótica do BE, “é preciso combater o fenómeno dos não residentes que compram casas em Portugal e que puxam para cima o preço da habitação”.

Mariana Mortágua foi ainda questionada sobre o facto de a Ordem dos Médicos ter pedido hoje uma reunião urgente ao ministro da Saúde para encontrar soluções imediatas que coloquem fim ao que classifica de “grave situação que o Serviço Nacional de Saúde (SNS)” atravessa. “O que os profissionais de saúde nos dizem é que para manter o SNS é preciso contratar médicos e profissionais e, para isso, é preciso garantir-lhes condições de trabalho. O que o Governo diz é que está disposto a negociar desde que nada mude e desde que a despesa estrutural não mude — isso é uma impossibilidade”, afirmou.

Para a líder do BE, “hoje o Governo é o problema que impede que o SNS possa atrair profissionais e prestar um serviço às populações”.