Quando se soube que Simone Biles iria voltar à competição, dois anos depois de uns Jogos Olímpicos de Tóquio em que deu prioridade à saúde mental e abdicou de quatro finais, a dúvida generalizada foi apenas uma: como, de que maneira e em que forma é que a ginasta norte-americana iria regressar? E ela fez questão de responder rapidamente.

Voltou no início de agosto, no US Classic, e no final do mês conquistou desde logo o oitavo título nacional de ginástica de solo — quebrando um recorde que durava desde 1933, quando Alfred Joachim se sagrou campeão nacional pela sétima vez na carreira. Em San Jose, onde decorreram os Nacionais de ginástica dos Estados Unidos, tornou-se ainda a mais velha de sempre a ganhar a competição nacional de conjunto, aos 26 anos e uma década depois de a ter vencido pela primeira vez.

O passo seguinte passava pelos Mundiais de Antuérpia, na Bélgica: a primeira competição internacional em que Simone Biles iria participar depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio. E apesar de saber que teria todos os olhos nas suas costas, como acontece desde que impressionou o mundo inteiro ao conquistar quatro medalhas de ouro em 2016 no Rio de Janeiro, a ginasta não tinha grandes dúvidas na hora de explicar o porquê de ter decidido voltar a competir.

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“Acho que grande parte foi imaginar-me daqui a 10 anos, a olhar para trás, e pensar nos arrependimentos que posso ter. Quero estar a ver imagens dos Mundiais ou dos Jogos de Paris na televisão e pensar ‘uau, se eu tivesse só voltado ao ginásio, se me tivesse esforçado mais um pouco…’? Porque vou sempre fazer tudo aquilo que me apetecer fazer depois de a minha carreira acabar. Mas não vou ter a minha carreira para sempre. Acho que agora o sucesso significa algo um bocadinho diferente para mim. Agora é só aparecer, estar bem mentalmente, divertir-me lá fora e o que acontecer, acontece”, atirou a norte-americana numa entrevista recente ao site do Comité Olímpico Internacional.

Simone Biles faz história: ginasta conquista oitavo título dos EUA e bate recorde de 1933

E o que está a acontecer, por agora, é impressionante. Este domingo, nas eliminatórias dos Mundiais de Antuérpia, Simone Biles tornou-se a primeira mulher a conseguir completar um duplo Yurchenko no cavalo — considerado um dos saltos mais complexos de sempre — em competições internacionais. A ginasta norte-americana já tinha alcançado o salto na perfeição tanto em 2021 como nos Nacionais de agosto, mas nunca o tinha concluído internacionalmente. Nem ela, nem qualquer outra mulher.

Tornando-se a primeira a realizar o salto em competição internacionais, Simone Biles vai agora dar nome ao movimento: a partir de agora, o duplo Yurchenko passa a chamar-se Biles II, com a ginasta a ter agora cinco saltos batizados por si entre cavalo, solo e trave. A equipa dos Estados Unidos terminou as eliminatórias dos Mundiais no primeiro lugar e Simone Biles liderou a qualificação no all around com o registo mais alto do atual ciclo olímpico — colocando-se em boa posição para, já na próxima sexta-feira, conquistar um sexto título mundial que seria um recorde.

Dois anos depois, Simone Biles vai voltar. Se vai aos Jogos Olímpicos de Paris, só ela sabe

Com o cartão de apresentação nos Mundiais e a quase certeza de que vai conquistar medalhas ao longo da semana, Simone Biles deixa praticamente claro que vai marcar presença nos Jogos Olímpicos de Paris. A menos de um ano do evento, a realizar saltos que nunca tinham sido alcançados internacionalmente e a sublinhar que não quer ter arrependimentos nem ficar a assistir a provas pela televisão, realizou uma recuperação notável em que soube parar, descansar e decidir voltar sem que ninguém a obrigasse.

Pelo meio, cruzou-se com sangue português. No ano passado, quando a ginasta norte-americana ainda dava os primeiros passos no pós-Tóquio, o ginásio de Houston onde é treinada por Cecile e Laurent Landi recebeu uma nova atleta: Mélanie de Jesus dos Santos, francesa de 23 anos que tem pai português e mãe da Martinica, sendo que o pai vive atualmente em Portugal com duas meias-irmãs da ginasta. Também nascida na Martinica, Mélanie mudou-se para França com apenas 10 anos e desde logo para se dedicar à ginástica, sendo agora uma das grandes esperanças francesas para os Jogos Olímpicos de Paris.