Quando não se pode convencer todos, agrada-se a todos: Portugal, Espanha e Marrocos vão ter a organização do Campeonato do Mundo de 2030 mas a prova terá início na América do Sul. A primeira confirmação foi a da realização de jogos no Uruguai, na Argentina e no Paraguai, numa informação revelada pelo líder da CONMEBOL, Alejandro Domínguez. A FIFA confirmou depois todo o modelo da competição.

Ainda antes da confirmação oficial por parte do órgão que tutela o futebol mundial, o Observador soube que, nas últimas semanas, até mesmo após a saída de Luis Rubiales da presidência da Real Federação Espanhola de Futebol, as reuniões entre os representantes máximos dos três países foram acontecendo até ao desfecho que acaba por ser surpreendente, tendo em conta que nunca um Campeonato do Mundo teve este tipo de moldes entre continentes, neste caso a começar na América do Sul e a seguir na Europa e em África. O encontro mais importante acabou por ser há três semanas, quando Pedro Rocha, que liderava a Comissão de Gestão da Real Federação Espanhola de Futebol, recebeu em Madrid Fernando Gomes e Fouzi Lekjaa, líder da Federação Marroquina de Futebol, mas as reuniões foram depois continuando de forma não presencial.

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“Em 2030, o Campeonato do Mundo da FIFA reunirá três continentes e seis países, convidando o mundo inteiro a participar na celebração do futebol, do Centenário e Mundial da FIFA. O Conselho da FIFA decidiu, por unanimidade, que a candidatura única será a de Marrocos, Portugal e Espanha, que acolherão o evento em 2030 e se qualificarão automaticamente a partir da atual atribuição de vagas, sob reserva da conclusão de um processo de candidatura bem sucedido conduzido pela FIFA e de uma decisão do Congresso da FIFA em 2024. Além disso, tendo em conta o contexto histórico do primeiro Campeonato do Mundo de Futebol da FIFA, o Conselho da FIFA decidiu ainda, por unanimidade, organizar uma cerimónia única de celebração do centenário na capital do país, Montevideu, onde se realizou o primeiro Campeonato do Mundo de futebol da FIFA em 2030, bem como três jogos do Campeonato do Mundo no Uruguai, Argentina e Paraguai, respetivamente”, anunciou a FIFA, através de uma declaração de Gianni Infantino.

“Num mundo dividido, a FIFA e o futebol lutam por unir. Dois continentes, África e Europa, unidos não apenas na celebração do futebol mas também a promover uma coesão cultural e social únicas. Que grande mensagem de paz, tolerância e inclusão. Em 2030, teremos uma pegada mundial única, com três continentes, África, Europa e América do Sul, e seis países, Argentina, Marrocos, Paraguai, Portugal, Espanha e Uruguai, a dar as boas-vindas e unindo o Mundo enquanto se celebra o ‘jogo bonito’ e o centenário do Mundial”, confirmou o presidente da FIFA na mensagem depois do anúncio da decisão.

“Marrocos, Portugal e Espanha garantem que vão trabalhar para preparar o melhor dossier de candidatura alguma vez apresentado e organizar um Mundial que honre a diversidade e celebre a história da competição com a paixão que une os três países pelo futebol. Depois da decisão hoje anunciada pela FIFA que, pela primeira vez, abre as portas a um Mundial de futebol organizado por três países de confederações e continentes diferentes, as Federações de Futebol de Marrocos, Portugal e Espanha confirmam o seu compromisso em apresentar um dossier de candidatura que honre a história da competição e deixe um legado em diversas áreas. A decisão hoje conhecida transmite da FIFA a confiança no trabalho já desenvolvido e na capacidade e no profissionalismo que cada um dos três países, em momentos diferentes, já demonstrou no planeamento de eventos desta dimensão. Marrocos, Portugal e Espanha assumem a exigência e a ambição de preparar o melhor dossier de candidatura alguma vez apresentado”, destacou a FPF.

“É um momento importante na história de Marrocos, uma grande conquista sob a liderança de Sua Majestade o Rei Mohammed VI. É um orgulho e uma responsabilidade o que temos pela frente, e um privilégio unir forças com os nossos homólogos de Portugal e Espanha para preparar um dossier de candidatura que, tenho a certeza, fará história e levará a organização para um nível nunca antes alcançado”, comentou Fouzi Lekjaa. “Cada um dos nossos países traz para a mesa uma vibrante tradição futebolística, uma inigualável experiência organizativa e uma capacidade de inovar que seguramente marcará o futuro da competição”, salientou Fernando Gomes. “A ilusão que é poder trazer de regresso a Espanha, quase 50 anos depois, a organização de um Campeonato do Mundo de Futebol.  Tenho a certeza de que juntamente com Marrocos e Portugal vamos organizar o melhor Mundial de sempre”, destacou Pedro Rocha.

Da parte da América do Sul, já existe uma espécie de festa pela decisão. Sendo a única candidatura além da protagonizada por Portugal, Espanha e Marrocos, consegue entrar na prova com a realização dos encontros inaugurais do certame no Uruguai, na Argentina e no Paraguai (o Chile acaba por cair da lista inicial que ia concorrer) e, com isso, assinalar aquele que será o Mundial do Centenário com o regresso da principal competição de seleções a Montevideu, onde se disputou a primeira final em 1930. “Vão existir três aberturas no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. Tudo irá começar no Uruguai. A FIFA providenciará mais detalhes acerca daquilo que irá acontecer na Argentina e no Paraguai”, acrescentou Alejandro Domínguez.

A lista final de estádios está ainda por desvendar, sendo certo que Portugal terá três recintos com encontros na competição: Luz, Alvalade (Lisboa) e Dragão (Porto). Já Marrocos tem em cima da mesa seis hipóteses, sem que se saiba ainda quantos ou quais ficarão: Rabat, Casablanca, Tanger, Agadir, Marraquexe e Fez. De Espanha existem 15 estádios propostos, devendo ficar apenas 11 como sedes entre Balaídos, El Molinón, Riazor, San Mamés, Anoeta, La Romareda, Camp Nou, Cornellà-El Prat, Santiago Bernabéu, Metropolitano, Nuevo Mestalla, Nueva Condomina, La Cartuja, La Rosaleda e Gran Canaria. As únicas certezas é que os estádios de abertura e da final terão mais de 80.000 espectadores (daí que o encontro decisivo deva ser no Santiago Bernabéu) e que os recintos das meias-finais terão mais de 60.000.

Esse não é o único ponto ainda por desvendar, sendo que os sul-americanos, assumindo que tiveram uma primeira vitória com a organização dos primeiros jogos no Uruguai, na Argentina e no Paraguai, ainda não desistiram de terem também pelo menos uma partida no Chile e/ou mais encontros da fase de grupos num dos países continente. A imprensa espanhola revela também um ponto vital para este acordo: o caso Luis Rubiales. Em condições normais, a candidatura de Portugal, Espanha e Marrocos sentia que tinha a vitória da organização muito bem encaminhada mas a polémica que envolveu o antigo líder da RFEF abalou essa confiança, o que fez com que avançassem as diligências para “neutralizar” a única “ameaça”. A nível de bastidores, o Conselho Superior dos Desportos de Espanha foi trabalhando para minimizar o impacto do caso Rubiales, sendo que o primeiro-ministro Pedro Sánchez se encontrou com Gianni Infantino em Nova Iorque.

A Federação Portuguesa de Futebol e o Governo não apresentaram qualquer “caderno de encargos” nesta fase para os custos e as receitas que o Mundial-2030 trará, sendo que em Espanha esse já é um assunto que começa a ser discutido. Assim, cumprida que foi essa vontade de organizar o Campeonato do Mundo após uma subvenção aprovada no ano passado de 7,5 milhões de euros para promoção da candidatura, estima-se que seja necessário investir um total de 1,43 mil milhões de euros, entre os 750 milhões para renovação e construção de infraestruturas e 680 milhões para gastos da organização (muito abaixo do que foi gasto pelo Qatar, por exemplo), mas que o volume de negócio gerado ascenda a 5,12 mil milhões de euros, com mais 82.513 empregos a tempo inteiro, que podem ascender ainda, de acordo com os estudos encomendados a instituições académicas universitárias, a mais 5,5 mil milhões com o turismo gerado. Segundo o jornal As, Portugal pode ter receitas que ascendem aos mil milhões de euros com 26.000 novos empregos.

Ainda não conhecidos todos os detalhes sobre a candidatura única que irá ser sufragada no Congresso da FIFA do próximo ano mas fica essa certeza de que Portugal, Espanha, Marrocos, Argentina, Uruguai e Paraguai têm apuramento garantido para a competição de 2030. Em paralelo, começa já a surgir alguma especulação sobre a possibilidade de a Arábia Saudita poder receber o Mundial de 2034, seja numa proposta conjunta como aquela que retirou para 2030 com Egito e Grécia, seja como único país anfitrião.