A audição surgiu após um requerimento potestativo do grupo parlamentar da Iniciativa Liberal, a presença na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto de Ana Catarina Mendes, ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, não trouxe propriamente nenhuma resposta “nova” aos contornos do papel de Portugal na organização da fase final do Campeonato do Mundo de 2030 com Espanha e Marrocos (que terá as três partidas iniciais na América do Sul, entre Uruguai, Argentina e Paraguai). E não trouxe por razões que se poderiam antever à partida: 1) só depois da apresentação da carta oficial de intenção será dado o pontapé de saída no processo; 2) o estudo existente não contemplava a entrada de Marrocos entre os países que recebem a competição nem um número total de 104 jogos, tendo em conta o aumento de participantes.

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Ainda assim, e numa audição que durou cerca de uma hora e meia, Ana Catarina Mendes confirmou e/ou avançou com os dados possíveis nesta fase com uma ideia que ficou como a mais importante de todo o leque de esclarecimentos prestados: a “lição” do Europeu de 2004 foi aprendida e Portugal não irá construir mais nenhum estádio para receber uma grande competição internacional. Assim, a ministra confirmou três estádios nacionais na proposta, entre Luz, Dragão e Alvalade, “mais de uma dezena” de encontros da fase final em Portugal e cerca de 30 centros de treino e/ou de estágio que já existem e serão disponibilizados para a organização. Mais do que isso, apenas “o orgulho e a importância” pela realização de uma prova com tanto impacto em termos mundiais e a promessa de que, no futuro, mais esclarecimentos poderão ser prestados.

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No entanto, e em termos internos junto das pessoas próximas da organização, há mais ideias em relação ao que pode ser o papel de Portugal no certame após o papel ativo que a Federação Portuguesa de Futebol teve sempre em todo o processo, nomeadamente em alturas mais tensas como quando a Ucrânia acabou por deixar o plano de organização por troca com Marrocos ou quando o escândalo em torno do antigo líder da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, “ameaçou” nos bastidores o sucesso de um projeto que há muito era o favorito – daí que a Arábia Saudita, que tentava avançar com um plano conjunto com Grécia e Egito para tentar juntar três continentes, tenha desistido cedo também a pensar no Mundial de 2034. Aliás, as principais dúvidas que ainda existem não devem afetar diretamente aquilo que Portugal deverá receber.

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Em relação aos estádios, nenhuma dúvida: serão propostos três, Luz, Dragão e Alvalade, que fazem parte dos recintos que, caso o Mundial fosse amanhã, estariam preparados para receber de imediato jogos, num total de encontros a realizar em território nacional entre os 13 e os 15 (ou seja, 15% ou menos do total). O que falta saber? Se entre os 18 que serão apresentados existirão 11 de Espanha e quatro de Marrocos ou dez de Espanha e cinco de Marrocos. Na decisão poderá também pesar algo que falta “fechar”: o local da final. Em condições normais, o Santiago Bernabéu, em Madrid, era a escolha natural mas Marrocos ainda sonha em ter a decisão no novo estádio que será construído em Benslimane com capacidade para 113.000 pessoas (maior de África, segundo maior do mundo). Pelo meio, falou Joan Laporta, presidente do Barcelona.

Numa entrevista à Catalunya Radio, que nasceu sobretudo dos desenvolvimentos no “caso Negreira”, o líder dos catalães falou por várias vezes naquilo que descreve como um “madridismo sociológico” e deu como mais um exemplo a escolha do Bernabéu para a final. “Mundial de 2030? Sim, pedimos para ser sede do Mundial, acreditamos que vamos no mínimo ter uma meia-final mas gostaria de ter a final. Temos um estádio com maior capacidade mas sei que aí voltaremos a chocar com o madridismo sociológico e deve ir para o Santiago Bernabéu. Nós vamos pedir a final mas não sei se conseguiremos esse objetivo”, atirou. As contas para a decisão ganham então um leque de três hipóteses entre Madrid, Barcelona e Benslimane, sendo que Portugal confia que irá ter uma das meias-finais no Estádio da Luz. Dúvida: quem vai saltar das opções?

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Mais afastada parece estar a hipótese também ventilada de a América do Sul poder organizar mais jogos do que os três primeiros de inauguração da prova. Depois do anúncio da CONMEBOL da decisão tomada para respeitar o centenário do Campeonato do Mundo na cidade de Montevideu, com um jogo no Uruguai, outro na Argentina e outro no Paraguai, os sul-americanos terão tentado um pouco mais. Porquê? Por um lado, os argentinos mostraram interesse em ter mais partidas; por outro, existe vontade de acrescentar o Chile no grupo, tal como estava na proposta de candidatura ao Mundial-2030 que existia. Todavia, tudo aponta para que fique como está, com os 101 jogos restantes distribuídos entre Espanha, Marrocos e Portugal.

“Todos ficamos satisfeitos e orgulhosos por Portugal fazer parte da decisão da FIFA. É um momento histórico, também para o Estado português. O trabalho feito pela Federação foi notável e o Governo também esteve empenhado. Hoje o sucesso é de todos os portugueses. Portugal não foi escolhido por acaso, ao longo dos anos tem registado uma boa prestação nos grandes eventos. Agora, até dia 31, Portugal irá apresentar uma carta de intenções, que apresenta as obrigações e responsabilidades em relação à organização deste Mundial que junta dois continentes, várias culturas e demonstra que o desporto pode ser integração e coesão. Estamos numa fase muito primitiva, o trabalho era garantir que Portugal estava na organização e está feito, conseguimos. Vamos ter três estádios que são os únicos que cumprem requisitos, mais de uma dezena de jogos e não vamos construir novos recintos, nunca foi uma hipótese. Vai haver um impacto positivo no PIB, vai criar postos de trabalho e gera maior receita fiscal”, disse Ana Catarina Mendes.

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“Foi apresentada uma estimativa de custos mas só agora começa tudo com carta de intenções, só agora se vai saber quanto se vai gastar. O plano de mobilidade, de segurança e de saúde estarão sempre garantidos, custos é prematuro porque não sabemos a realidade daqui a sete anos. O Estado e a Federação estarão envolvidos no melhor Mundial de sempre, que é a celebração do centenário”, salientou ainda a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares. “É um momento de afirmação do desporto mas também de racionalizar todos os investimentos feitos ao longo dos anos. Daí ser preciso reforçar que não vai ser construído nenhum estádio e que existem mais de três dezenas de centros de estágio e de treino. Veremos se é preciso reforçar ou melhorar as suas respostas, sendo que são infraestruturas que ficarão para os nossos jovens praticarem desporto. Não implica custos de dinheiros públicos, sustentabilidade é a palavra de ordem. Sustentabilidade económica, sustentabilidade social e também sustentabilidade ambiental. Em 2004 tivemos a avaliação sobre todas as derrapagens. Há coisas que devemos aprender com o passado e uma delas é não construir estádios novos, foi o que estive a dizer a manhã toda…”, acrescentou a esse propósito Ana Catarina Mendes.

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