Era a hora da despedida. Portugal entrava no último jogo da fase de grupos do Mundial, contra as Ilhas Fiji, eliminado, o que não é exatamente a mesma coisa que dizer que já não havia nenhum objetivo a cumprir. A vitória com que os Lobos tanto sonharam e que escapou por um par de vezes, continuava em cima da mesa. Tendo em conta que várias gerações de jogadores de râguebi passaram desde que a seleção nacional esteve pela primeira vez no Mundial e o momento em que Portugal regressou ao maior palco da modalidade, somar o primeiro triunfo na competição era uma daquelas situações limite de ou agora, ou nunca. Os Lobos guardaram para o fim a alegria, mas não desperdiçaram a oportunidade de serem felizes.

Tem sido hábito Portugal lidar com inícios de jogo caóticos. O jogo com as Fiji não foi exceção. Para sorte dos Lobos, no meio de tanta loucura, a seleção nacional não saiu em desvantagem. Só mais tarde, quando tudo já tinha acalmado, Frank Lomani optou por ir aos postes e marcar três pontos através de uma penalidade. O resultado arrastou-se assim até bem perto da primeira parte. Portugal beneficiou de várias hipóteses para chutar aos postes, mas optou por tentar o ensaio que não conseguiu na primeira parte. De modo a deixar o jogo empatado ao intervalo, Samuel Marques foi também ele aos postes.

A partida estava repartida até aqui. Só por uma ocasião os Lobos estiveram perto de conceder o ensaio, mas os fijianos deixaram a bola cair para a frente quando tinham vantagem dentro dos 22 metros nacionais e a jogada ficou por aí. De resto, a grande exibição de Manuel Cardoso Pinto e de Rodrigo Marta faziam Portugal galgar metros relevantes. A bola até esteve quase a ir de uma ponta à outra, aterrando nas mão de Storti. O ensaio ficou a milímetros de acontecer.

Contra as Ilhas Fiji, o selecionador nacional, PatriceLagisquet, realizava o último jogo no cargo que ocupa desde 2019. “Só quero ver se [os jogadores conseguem] me surpreender mais uma vez e alcançar o sucesso que merecem por tudo o que têm dado desde o início. Tenho a certeza que [o resultado] não mudará o que sinto por esta equipa, mas só quero partilhar mais uma vitória, mais uma coisa boa com eles”, garantiu o técnico em tom de despedida.

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Se era espetáculo que Lagisquet queria, foi espetáculo que Lagisquet teve. Portugal entrou muito bem no segundo tempo com um ensaio de Raffaele Storti conseguido quase todo através do jogo ao pé. Inicialmente, foi Jerónimo Portela que levantou a bola e, depois, com critério, Pedro Bettencourt levou-a até à ponta, onde Storti a esperava. O problema foi que a resposta surgiu imediatamente. Sireli Maqala colocou as Fiji muito perto da linha de ensaio e Levani Botia fez o mais fácil. Os Lobos não baixaram os braços e Stevy Cerqueira foi a personificação disso mesmo. O avançado foi bem lá acima buscar o alinhamento e o maul luso levou ao ensaio de Francisco Fernandes.

Portugal aproveitou na perfeição a superioridade numérica após Levani Botia ter visto um cartão amarelo. As Fiji ficavam assim a perder por sete pontos e numa situação delicada uma vez que se perdessem por uma diferença maior do que a que se encontrava naquele momento no marcador eram eliminadas. Ainda assim, o adversário do Pacífico Sul viria a restabelecer a igualdade por intermédio de Mesake Doge. A partir daí, parecia que tudo podia correr mal a Portugal. As Fiji usaram duas penalidades, que Frank Lomani não desperdiçou, para se colocarem na frente e dispararem para uma vantagem de seis pontos. O melhor de Portugal estava para vir. Nos últimos instantes, Rodrigo Marta chegou ao ensaio e deixava na conversão de Samuel Marques todo o peso da responsabilidade. O médio não errou o pontapé e carimbou o 24-23 ao lado da história dos Lobos.

O destino estava ainda por escrever no grupo C. Portugal estava no quinto e último lugar, mas com a possibilidade de, com um ponto bónus defensivo, ou seja, perdendo por sete pontos ou menos, saltar para o quarto posto, o que seria a melhor participação de sempre em termos classificativos. Tendo em conta que a seleção nacional fez bem mais do que isso, o quarto lugar ficou assegurado sem ser preciso recorrer aos últimos critérios de desempate. As Fiji jogavam por um lugar nos quartos de final, algo que conseguiam se levassem de Toulouse um ponto, arredando a Austrália pela primeira vez da fase a eliminar. O País de Gales, já se sabia, ganhou o grupo C com 19 pontos e vai defrontar a Argentina. Com uma derrota por apenas um ponto, os fijianos seguem em frente.