A história da Fórmula 1 ficou escrita nas duas últimas corridas. No Japão, a Red Bull assegurou a revalidação do título que alcançara em 2022, quebrando uma hegemonia de quase uma década da Mercedes que teve o seu início quando Sebastien Vettel perdeu o toque de Midas na marca austríaca antes de passar para a Ferrari em 2015. No Qatar, Max Verstappen confirmou o inevitável e assegurou o tricampeonato naquilo que foi um passeio no parque que nada teve a ver com a forma como chegou pela primeira vez ao primeiro lugar naquela dramática corrida de Abu Dhabi em 2021. No entanto, todos os textos com muitos parágrafos têm sempre os seus subtítulos para dividir e facilitar a leitura. Em 2023, entre várias possibilidades e dúvidas que ainda estavam em aberto, havia uma acima de todas as outras: quem ficava na segunda posição?

Fez a festa, atirou os foguetes e apanhou as canas: Verstappen vence no Qatar já enquanto tricampeão

A cumprir a terceira época na Red Bull depois de um 2020 de “explosão” em que terminou o Campeonato na quarta posição na Racing Point atrás dos Mercedes de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas e do Red Bull de Max Verstappen, Sergio Pérez estava melhor do que nos dois anos anteriores mas em pior condição do que nos dois anos anteriores. Expliquemos: em 2021, o mexicano terminou o Mundial em quarto mas foi valorizado pela Red Bull pela forma como ajudou em algumas corridas Verstappen até ao título; em 2022, acabou em terceiro mas apenas a três pontos de Charles Leclerc numa luta muito renhida; agora, até pela vantagem com que o neerlandês se sagrou campeão, esperava-se mais de Pérez que parecia a certa altura ter o segundo lugar garantido mas foi ficando cada vez mais “apertado”. Por isso, a marca austríaca terá mesmo perdido a paciência: ou ficava como vice-campeão ou dava lugar a Daniel Ricciardo. Estava feito o “repto”.

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2021 trouxe a surpresa, 2022 trouxe a afirmação, 2023 trouxe a hegemonia: Verstappen, o predestinado tricampeão mundial

A corrida sprint da véspera não tinha sido propriamente famosa nesse sentido. Pérez não tinha conseguido melhor do que um sétimo lugar no sprint shootout e só recuperou duas posições na corrida, perdendo mais cinco pontos para Lewis Hamilton que ultrapassou na prova Charles Leclerc para chegar em segundo à frente do piloto da Ferrari (Max Verstappen ganhou mas isso já se tornou quase uma nota de rodapé, tamanha é a hegemonia em 2023). Agora o cenário também não era melhor, com os Red Bull a terem registos muito modestos que colocaram o neerlandês a sair em sexto e o mexicano em nono, tendo na frente Leclerc, Lando Norris, Hamilton, Carlos Sainz e George Russell. À exceção de Fernando Alonso, no modesto 17.º posto, todos os rivais diretos na luta pelo segundo lugar começavam na frente de Sergio Pérez.

“Não foi uma qualificação tranquila. Tive problemas de equilíbrio no carro nas zonas de alta velocidade para baixa velocidade e, principalmente, nas curvas de baixa velocidade. Fizemos algumas alterações que provavelmente não nos ajudaram muito, mas as diferenças na qualificação foram tão curtas que um décimo teria sido um resultado muito diferente. Estamos do lado errado”, comentou o mexicano após a qualificação, provavelmente mais calmo (ou não) com o que pode ser o seu futuro depois das palavras do assessor da Red Bull, Helmut Marko. “Volto a dizer, o Pérez tem contrato e queremos respeitá-lo. Estamos a fazer todos os possíveis para que volte à normalidade. Contrato? Simplesmente não temos alternativas. Caso contrário, ele poderia ter um problema. Tem contrato até 2024 e está inteiramente nas mãos dele. Temos três pilotos na AlphaTauri e Lawson serve como reserva para as duas equipas. Então, muitas coisas podem acontecer. Neste momento só vejo uma pessoa que poderia aproximar-se do nível do Max e essa pessoa é Fernando Alonso”, referiu o antigo piloto, garantindo que Verstappen não estaria a ajudar o companheiro.

O arranque teve emoção para dar e vender com a particularidade de se evitarem saídas precoces de pista. Lando Norris, com melhor tempo de reação, saltou para a frente de Leclerc, ao mesmo tempo que Sainz foi mais rápido do que Hamilton e Verstappen subiu a quinto. Oscar Piastri foi quem mais beneficiou no grande arranque, subindo quatro lugares para sexto, ao passo que George Russel perdeu três posições para oitavo. Sergio Pérez, esse, continuou no nono posto, sem conseguir corrigir o lugar que fez na qualificação. Aliás, era aí que estava o principal foco de curiosidade, com Russell e Pérez a ultrapassarem Esteban Ocon na terceira volta. Logo a seguir, Hamilton superou Sainz aproveitando uma má saída da reta do espanhol e passou para o terceiro lugar, colocando o piloto da Ferrari no radar de Max Verstappen, que não demorou a superar Sainz. Lá na frente, Norris ia conseguindo ganhar algum terreno a Leclerc.

As dificuldades da Ferrari eram evidentes, chegando talvez apenas mais cedo do que se esperava. Foi isso que possibilitou que Lewis Hamilton chegasse à sétima volta já em segundo, foi isso que permitiu a Verstappen ficar muito perto do monegasco para a ultrapassagem na 11.ª volta. Mais atrás, fruto de um toque numa das curvas iniciais, Ocon teve de deixar a corrida e Piastri sentiu também dificuldades, perdendo vários lugares até chegar às boxes para desistir. Estava a aproximar-se a fase de passagem pelas boxes neste caso para trocar pneus, sendo que Lewis Hamilton e George Russell ficaram em pista tentando perceber aquilo que poderia ser ou não uma tática que arriscasse apenas uma paragem e não duas como os restantes pilotos. Não aconteceu, parou pouco depois mas não tirou grandes dividendos, saindo atrás de Norris e Verstappen.

A meio da corrida veio aquilo que parecia inevitável: Verstappen assumiu a liderança, sendo o quarto piloto diferente na frente. E quando Norris fez a segunda paragem, o neerlandês aproveitou logo para ir colocar duros para o resto da corrida, carimbando praticamente aí mais uma vitória neste Mundial até porque Lewis Hamilton também não demoraria a ir às boxes. A única surpresa no desenho global acabava por ser o ritmo dos Ferrari, que depois de um mau início foram melhorando os tempos de corrida ainda que sem hipóteses de lutar por pódios a não ser que Leclerc não parasse mais (como viria a acontecer). Assim, as posições iam ficando consolidadas, com Max Verstappen a igualar as 15 vitórias que são recorde num ano de 2022 (e com quatro provas ainda para bater mais um registo histórico), Hamilton em segundo a ganhar mais pontos a Pérez, que foi quinto atrás de Sainz, e Lando Norris a fazer o quarto pódio seguido para a McLaren.

No entanto, umas horas depois, tudo acabou por mudar com Pérez a ser um dos principais beneficiados: a FIFA decidiu desqualificar Lewis Hamilton e Charles Leclerc porque os blocos de derrapagem, que estão na parte de baixo dos carros, não estavam de acordo com aquilo que dizem as regras. “Os comissários sublinham que a responsabilidade recai sobre o construtor de garantir que o carro esteja em conformidade com os regulamentos”, defenderam os dirigentes a propósito da sanção, sendo que as justificações da Mercedes de que o desgaste na prancha de madeira se deveu às condições da pista acabou por não ter seguimento. “Onde outros acertaram nós errámos e não há margem de manobra nas regras. Precisamos de enfrentar isso, aprender e voltar mais fortes no próximo fim de semana”, referiu Toto Wolff, diretor da Mercedes. Desta forma, Carlos Sainz Jr. acabou por subir ao pódio, ao passo que Sergio Pérez, que ficou assim em quarto, passou a ter 39 pontos de vantagem sobre Lewis Hamilton na luta pela segunda posição (240-201).

Notícia atualizada com a desqualificação de Lewis Hamilton e Charles Leclerc após o Grande Prémio dos EUA