Diz a sabedoria popular que existem razões que a própria razão desconhece. Diego Armando Maradona morreu em novembro de 2020, há quase três anos, e os deuses do futebol decidiram homenageá-lo na temporada passada: a Argentina conquistou o Campeonato do Mundo, o Barcelona foi campeão espanhol, o Nápoles venceu a Serie A. A homenagem, porém, só ficou completa esta segunda-feira. No dia em que Maradona faria 63 anos, Messi ergueu a oitava Bola de Ouro da carreira.

Sem qualquer surpresa, o argentino de 36 anos foi novamente eleito o melhor jogador do mundo e alargou um registo máximo que há muito lhe pertence: num ano em que Cristiano Ronaldo nem sequer integrou o lote de 30 finalistas, pela primeira vez em duas décadas, Messi ficou agora com mais três Bolas de Ouro do que o internacional português. Perto dos dois, só mesmo Michel Platini, Johan Cruyff e Marco van Basten, todos com três troféus.

O segredo mais mal guardado de todos: Messi vence oitava Bola de Ouro e alarga o próprio recorde

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Sucedendo a Karim Benzema, que foi distinguido há um ano depois de conquistar a Liga dos Campeões, o Campeonato, o Mundial de Clubes e a Supertaça Europeia com o Real Madrid, o jogador tornou-se o primeiro a receber a Bola de Ouro a atuar fora da Europa. Messi assinou pelos norte-americanos do Inter Miami no verão, somando 11 golos e cinco assistências ao longo de 14 jogos — mas vai ficar sem competir até fevereiro, já que a equipa onde também atuam Sergio Busquets e Jordi Alba falhou o apuramento para os playoffs da MLS.

Na época passada, no PSG, o médio argentino conquistou a Ligue 1 e não foi além dos oitavos de final da Liga dos Campeões — um registo muito tímido quando comparado, por exemplo, com o triplete de Erling Haaland no Manchester City, que ganhou a Premier League, a Taça de Inglaterra e a Champions. Contas feitas e fica bastante claro que a decisão foi totalmente atribuída à conquista do Campeonato do Mundo, em dezembro do ano passado, onde Messi foi a figura central e crucial de uma Argentina que repetiu a glória de Mario Kempes e companhia em 1978 e de Diego Armando Maradona em 1986.

O reforço de um recorde entre outro registo histórico: Messi a caminho da oitava Bola de Ouro (primeira a jogar fora da Europa)

No Qatar, marcou sete golos (só ficou atrás dos oito de Kylian Mbappé), fez três assistências, cumpriu todos os minutos dos sete jogos disputados e recebeu também a Bola de Ouro, sendo distinguido como o melhor jogador do torneio. Num Mundial onde Portugal foi eliminado nos quartos de final e Cristiano Ronaldo perdeu a titularidade nos últimos dois jogos da Seleção Nacional, Messi assumiu a liderança da equipa de Lionel Scaloni e vingou a desilusão da final de 2014.

Nos últimos dias, o editor-chefe da France Football comentou mesmo o facto de Cristiano Ronaldo não ter feito parte da lista de finalistas pela primeira vez em 20 anos — algo que aconteceu com Lionel Messi, curiosamente, na temporada passada. “A ausência de Ronaldo não foi tema de discussão entre o Comité, de todo. Não brilhou no Mundial e joga num campeonato com menos visibilidade na Arábia Saudita. Ainda assim, continua a ser um grande jogador”, explicou Vincent Garcia em entrevista ao jornalista alemão Philipp Kessler, numa declaração que também confirma que a Bola de Ouro de Messi diz respeito ao Mundial e olvida o facto de o argentino jogar agora nos Estados Unidos.

Na mesma entrevista, e apesar de sublinhar nomes como De Bruyne, Haaland ou Mbappé, o responsável pela France Football lançou Jude Bellingham como um potencial vencedor em série da Bola de Ouro. “É mesmo impressionante. É um sério candidato, sobretudo se continuar a ter um bom desempenho no Real Madrid e se Inglaterra brilhar no Europeu. É um jogador versátil, inteligente e muito maduro para a sua idade”, disse Vincent Garcia sobre o médio inglês que esta segunda-feira recebeu o Prémio Kopa, que distingue o melhor jogador Sub-21 do mundo, e que ficou em 18.º lugar no troféu principal.

Seja como for, e partindo do princípio que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo vão ficar nos Estados Unidos e na Arábia Saudita e que o argentino já garantiu que não estará no Mundial 2026, esta poderá ter sido a última temporada em que a Bola de Ouro foi entregue a um dos dois melhores jogadores das últimas duas décadas. Segue-se o futuro. E segue-se, de forma cada vez mais óbvia, Jude Bellingham.

Diego quis, Lionel sonhou, a obra nasceu. E as portas dos céus abrem-se quando se joga para os deuses (a crónica da final do Mundial)