Ia ser sempre um encontro para a história. Polémicas fora de campo à parte, com constantes episódios de violência entre adeptos dos dois clubes nas ruas e nas praias do Rio de Janeiro que chegaram a colocar até a hipótese de jogo à porta fechada em aberto, Fluminense e Boca Juniors lutavam por mais do que um troféu, neste caso o principal da América do Sul que nas últimas quatro edições teve técnicos portugueses a ganhar por três ocasiões (Jorge Jesus com o Flamengo em 2019, Abel Ferreira com o Palmeiras em 2020 e 2021). No caso dos brasileiros, um triunfo valeria a primeira Taça dos Libertadores, naquele que seria em paralelo o sucesso do 11.º clube diferente do país; do lado dos argentinos, uma vitória 16 anos depois da última conquista possibilitaria que a formação de Buenos Aires igualasse o recorde do Independiente (sete).

Havia outras histórias paralelos de interesse, como a possibilidade de Marcelo ou Edison Cavani ganharem o principal título continental no ano de regresso à América do Sul depois de longas carreiras na Europa (e em breve, depois desta decisão, alguns jogadores de ambos os conjuntos deverão fazer o caminho contrário que os experientes internacionais fizeram em 2023), mas era aí que se focavam todas as atenções num ambiente incrível no Maracanã que tinha prolongamento fora do maior estádio do Brasil ou não tivesse por exemplo o Boca Juniors levado 100.000 adeptos, a maioria sem bilhete, até ao Rio de Janeiro para uma noite que podia ficar para sempre escrita na longa lista de êxitos do clube e que prometia sempre ser longa na cidade.

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No final, foi o Fluminense a fazer história. Porque foi sempre a melhor equipa, porque tem qualidade para dar e vender, porque tem um treinador chamado Fernando Diniz que mudou o paradigma técnico no Brasil pela forma como conseguiu colocar o conjunto carioca a jogar futebol (o que lhe valeu a passagem interina para a seleção enquanto não chega Carlo Ancelotti). Entre a festa, ficaram também as lágrimas de Marcelo, que aos 35 anos e uma passagem pelos gregos do Olympiacos após 15 anos no Real Madrid, voltou ao seu Flu para conquistar um dos poucos troféus que lhe faltavam num currículo com mais de 30 títulos.

O primeiro tempo foi marcado pela tendência esperada antes da partida mas sem grandes oportunidades de perigo junto das duas balizas, depois de um início arrepiante em que Felipe Melo chegou a emocionar-se ao ouvir o hino: o Fluminense a assumir o controlo da partida, o Boca Juniors a tentar sair em transições mas com dificuldades em trocar a bola sequer no seu meio-campo, a agressividade argentina a impedir também que os brasileiros encontrassem os espaços para desequilibrar no último terço. Quando isso aconteceu, o golo apareceu: Keno combinou bem com Arias na direita, cruzou rasteiro para a área e o inevitável Germán Cano, experiente avançado argentino de 35 anos que se tornou uma autêntica máquina goleadora desde que trocou em 2022 o Vasco da Gama pelo Fluminense, a rematar de primeira para o 1-0 (35′). Contas feitas, Cano chegava ao 13.º golo na competição com a média de um remate certeiro a cada… 83 minutos.

O segundo tempo manteve a tendência do Fluminense por cima do jogo mas sem a mesma intensidade e agressividade no encontro, o que foi permitindo que o Boca Juniors, sempre empurrado pelos adeptos, fosse acreditando que teria ainda uma palavra a dizer na final. Acreditou, acreditou um pouco mais e, numa fase em que Jorge Almirón já preparava substituições na equipa, Advíncula puxou da direita para o meio, encheu-se de fé e rematou rasteiro para o empate de fora da área (72′). Diogo Barbosa ainda teve uma oportunidade perto do fim mas a decisão seguiu mesmo para prolongamento, altura em que o conjunto brasileiro foi encontrar forças onde já não pareciam existir para chegar de novo em vantagem por John Kennedy, num remate após assistência de Keno que motivou depois o segundo amarelo pelos seus festejos (99′) antes de uma segunda expulsão com vermelho direto de Frank Fabra por agressão a Nino pouco depois (105′).