O Ministério das Informações israelita — um órgão consultivo que tem como principal função fazer propostas de políticas a implementar pelo governo de Telavive — elaborou um documento com várias ideias para o futuro da Faixa de Gaza e aquela que considera mais favorável é a de enviar os civis palestinianos para o estrangeiro. O destino principal seria a península do Sinai, no Egipto, mas, a longo-prazo, os especialistas sugerem que os refugiados sejam absorvidos por outros países, incluindo alguns na Europa como Espanha e Grécia.

O documento tem data de 13 de outubro de 2023 e foi revelado pela revista israelita +972, que confirmou a sua veracidade junto de uma fonte do Ministério, que admitiu que este “não era suposto ter chegado aos media“. Pode ser lido na íntegra, em inglês, aqui.

O organismo apresenta três cenários para lidar com a situação na Faixa de Gaza após o final da atual guerra, que considera potencialmente favoráveis para o Estado de Israel.

  • O primeiro é o de garantir que a governação de Gaza passa a estar sob o controlo da Autoridade Palestiniana (que governa atualmente a Cisjordânia), controlada pelo partido secular Fatah. No documento pode ler-se, contudo, que esta não é uma solução preferencial, por se considerar que a Autoridade Palestiniana é “um órgão hostil” para Israel e que a solução em Gaza se pode tornar semelhante à que vigora atualmente nas regiões da Judeia e da Samaria (ou seja, a Cisjordânia).
  • O segundo é a de instalar na região uma liderança árabe que substitua o Hamas. Contudo, o Ministério das Informações considera que essa solução é arriscada, porque pode não impedir “o surgimento de novos movimentos islamistas, possivelmente mais extremistas” e porque “a mensagem que transmite ao Irão e ao Hezbollah não será suficientemente forte”.
  • Sobra então a terceira opção, que implica uma retirada da população civil palestiniana da Faixa de Gaza. Esta é claramente a opção preferida dos autores do documento, que consideram que ajudará a limitar o número de baixas entre civis. Contudo, alertam que esta solução necessita de apoio internacional, em concreto de países como os Estados Unidos e os Estados árabes.

É nesta terceira opção que surge o envolvimento de países europeus. A primeira fase da retirada de civis prevê a criação de uma “zona estéril de vários quilómetros” na península do Sinai (no Egipto), onde sejam estabelecidas tendas e um perímetro de segurança que impeça a aproximação da população à fronteira com Gaza. De seguida, deve ser garantido o apoio de países como “Egipto, Turquia, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos” para garantir que estes absorvem parte dessa população ou dão apoio financeiro a outras países para que estes os recebam.

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Isso inclui, segundo o documento, “Países na Europa, em particular no Mediterrâneo”, como “Espanha e Grécia”, mas também outros como o “Canadá”. Para além disso, o Ministério propõe que sejam criadas campanhas por parte de agências de publicidade dirigidas aos próprios habitantes de Gaza, cuja mensagem principal deve ser a de “Alá fez com que perdessem esta terra por causa da liderança do Hamas. Não há outra escolha a não ser mudarem-se para outro lugar, com a ajuda dos vossos irmãos muçulmanos”.

Contactado pelo Times of Israel, o gabinete do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu confirmou que o documento é verdadeiro, mas disse que se tratava apenas de um exercício hipótetico, apelidando-o de “paper conceptual”.

A sua divulgação, contudo, pode agravar as relações entre Israel e o Egipto, já que o país teme há muito a possibilidade de que os palestinianos sejam colocados na península do Sinai.