O ministro da Justiça francês, Eric Dupond Moretti, começou esta segunda-feira a ser julgado por ter alegadamente abusado do seu cargo para acertar contas com quatro magistrados com quem teve atritos quando era advogado, numa situação inédita em França.

O julgamento perante o Tribunal de Justiça da República, com jurisdição específica para apurar eventuais responsabilidades de membros do Governo no exercício dos seus cargos, criou uma situação sem precedentes, porque Dupond Moretti continua a dirigir o seu departamento.

Uma situação que, apesar das críticas do mundo judiciário e de toda a oposição, foi esta segunda-feira novamente defendida pela primeira-ministra, Elisabeth Borne, que reconheceu no entanto tratar-se de “uma situação insólita”. Borne insistiu que o ministro francês “tem direito à presunção de inocência” e que, como chefe do seu departamento, tem “toda” a sua confiança.

Dupond Moretti, de 62 anos, chamado em 2020 pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, para o executivo, é acusado de conflito de interesses por ter instaurado processos administrativos contra quatro magistrados com os quais teve conflitos quando exercia advocacia.

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No caso de três deles, membros da Procuradoria Nacional das Finanças, Moretti chegou mesmo a denunciá-los depois de os ter criticado publicamente.

O motivo foi uma investigação de corrupção que realizaram contra o antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy, que os levou a examinar os contactos telefónicos entre o seu advogado, Thierry Herzog, e o seu colega Dupond Moretti, entre outros.

O ministro defendeu-se, insistindo que, se foram instaurados processos contra os quatro magistrados, foi por recomendação da sua administração e não por iniciativa pessoal ou espírito de vingança.

Caso seja considerado culpado, o atual ministro pode ser condenado a uma pena de prisão de até cinco anos e uma multa até 500 mil euros, para além da inibição do exercício de funções públicas.

Embora não exista uma regra escrita, desde o primeiro-ministro socialista Pierre Bérégovoy (1992-93) que, em França, se aplica o princípio de que um membro do executivo deve demitir-se em caso de acusação.