Já aqui noticiámos, por diversas vezes e em relação a modelos de diferentes marcas, casos em que um incêndio deflagrado num veículo eléctrico consumiu tudo o que as labaredas conseguiram engolir à sua volta. Aconteceu com carros da Tesla, mas também da Mercedes e da Porsche sem esquecer o pesadelo financeiro que foi, sobretudo para a BMW e Mercedes, o dramático episódio a bordo do Fremantle Highway. Situações deste tipo continuam (e continuarão) a repetir-se, podendo por vezes servir como argumento contra a adesão a alternativas de mobilidade eléctrica. Afinal de contas, se até as trotinetas ardem e provocam sérios estragos no processo, por que razão hão-de os condutores mais temerosos arriscar mudar para um automóvel a bateria? A pergunta não é nova, mas um conjunto de estudos recentes, citados pelo jornal britânico The Guardian, deita por terra o argumento que alguns dos detractores dos veículos eléctricos insistem em esgrimir. Confirma-se agora que sem razão: chega a haver 18 vezes mais incêndios que envolvem carros a gasolina ou a gasóleo do que em automóveis com baterias (híbridos ou eléctricos).

A conclusão é retirada de um estudo elaborado pela Agência de Contingências Civis da Suécia, país cujo parque circulante ainda é maioritariamente dominado por veículos a gasolina ou diesel (4,4 milhões) e onde, pese embora o número de automóveis eléctricos tenha praticamente duplicado nos últimos anos, atingindo agora 611 mil unidades, o número de incêndios envolvendo modelos electrificados “estabilizou” nos últimos três anos. Feitas as contas, segundo a pesquisa, por cada 100.000 carros a combustão, 68 deles foram vítimas de um incêndio. Enquanto isso, nos veículos eléctricos a proporção baixa para apenas 3,8, contabilizando-se em ambos os casos mesmo os episódios em que o fogo é posto (mão criminosa), o que pode influenciar os resultados, mexendo com os dois pratos da balança.

Incrível. Um Tesla novo ardeu e nem imagina porquê

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Esta conclusão alinha por aquilo que o CEO da Tesla, Elon Musk, sempre defendeu: os carros que abastecem de combustível ardem mais que os que recarregam baterias. De acordo com o empresário — que advoga em causa própria, pois a Tesla fabrica exclusivamente modelos eléctricos —, entre 2012 e 2021, arderam 11 vezes menos modelos da marca por quilómetro do que o número de todos os carros. No período mencionado, “houve aproximadamente um incêndio num veículo Tesla para cada 340 milhões de quilómetros percorridos”, informa a marca. “Em comparação, dados da Associação Nacional de Protecção contra Incêndios (NFPA) e do Departamento de Transportes dos EUA mostram que nos Estados Unidos há um incêndio em um veículo a cada 30 milhões de quilómetros percorridos.” O construtor nota ainda que, apesar de as estatísticas favorecerem os modelos da Tesla, os números incluem os casos em que o incêndio não teve origem no carro, a fim da comparação com os dados da NFPA ser mais precisa.

E qual é a realidade no “paraíso” dos eléctricos?

Referimo-nos, claro, à Noruega, país na vanguarda da electrificação que se demarcou dos demais por assumir desde cedo uma política fiscal que isentava modelos a bateria, entre outros benefícios, levando os consumidores a aderir à tecnologia. Para se ter uma ideia, no acumulado de 2022, 79,3% das vendas de veículos ligeiros de passageiros foi absorvida por modelos a bateria, número que chegou mesmo a 83% no derradeiro mês do ano transacto. Ora, no mercado que é proporcionalmente o maior comprador do mundo de veículos eléctricos, concluiu-se que há entre quatro a cinco vezes mais incêndios em automóveis a gasolina e diesel do que em modelos recarregáveis.

Já na Austrália está em curso uma pesquisa, financiada pelo Departamento de Defesa, que visa desfazer alguns mitos associados aos veículos eléctricos e ao risco de incêndio. E a primeira conclusão do EV Fire Safe é que os automóveis eléctricos têm (muito) menos probabilidade de se incendiarem do que os ICE. “Os estudos estão a decorrer, mas as evidências sugerem que uma bateria de tracção tem menos probabilidade de pegar fogo do que os veículos com motor de combustão interna”, lê-se a abrir. Em concreto, enquanto estes últimos têm 0,1% de probabilidade de arder, o risco de uma bateria arder é de 0,0012%.

Mas e quando os veículos eléctricos começam a arder, o que acontece? Qual a melhor forma de proceder? Abaixo elencamos nove conclusões a que chegou o EV Fire Safe que, julgamos, podem contribuir para o esclarecimento dos condutores:

  1. Todos os incêndios que deflagram na bateria de um veículo eléctricos devem-se a uma fuga térmica, quando a célula sofre um curto-circuito ou perde o electrólito.
  2. Quando um modelo a combustão arde, a temperatura pode atingir 815ºC, num veículo eléctrico chega a 2760ºC.
  3. Numa bateria com um estado de carga (SoC) inferior a 50% há menos probabilidade de deflagrar um incêndio.
  4. A água é a forma mais eficaz de extinguir um incêndio num carro eléctrico. Para conter as chamas, deve-se apontar no mínimo para 4000 litros de água.
  5. As baterias colocadas sob o piso do veículo podem levar a que o veículo eléctrico tenha de ser levantado para apagar o fogo.
  6. A recomendação é “deixar arder” a bateria, se a localização assim o permitir. Diz a EV SafeFire que assim se reduzem os riscos a que estão expostas as equipas que prestam socorro.
  7. Sempre que a bateria não arde por completo, há risco de reignição.
  8. Um veículo eléctrico mergulhado em água não electrocuta.
  9. O fumo que se vê é uma nuvem de vapor de gases altamente inflamáveis, sobretudo hidrogénio.