O Global Media Group (GMG) atribuiu esta quarta-feira o fracasso da venda das suas participações na agência Lusa a um “processo de permanente interferência política”, garantindo que a operação financeira “estava totalmente fechada”, com o “acordo expresso” do PSD.

“Ao longo do período que duraram as negociações entre o WOF [World Opportunity Fund, fundo que atualmente controla o GMG] e Marco Galinha, não foram poucas as tentativas de interferência por parte de alguns setores e personalidades políticas, criando e fomentando boatos que visavam descredibilizar o negócio e o próprio fundo de investimento”, lê-se num comunicado interno emitido esta quarta-feira pela Comissão Executiva do Global Media Group.

Segundo acrescenta, este “processo de permanente interferência política […] culminou no chumbo de última hora ao negócio da venda das participações do Global Media Group na agência Lusa”.

A este propósito, o Global Media Group garante que a operação financeira “estava totalmente fechada entre as partes, com valores definidos e prazos para pagamento já acordados” e “era do pleno conhecimento do principal partido da oposição que, a seu tempo, dera o seu acordo expresso, e do próprio Presidente da República”.

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De acordo com a administração do Global Media Group, foi o “inexplicável cancelamento de última hora” do negócio de venda das participações do grupo na Lusa que “obrigou à alteração de todo o planeamento financeiro programado até final deste ano” pela Comissão Executiva, “acrescendo dificuldades às já existentes e sendo a única razão que levou ao lamentável atraso no processamento de salários relativos ao mês de novembro”.

O Governo anunciou em 30 de novembro que o processo de compra, pelo Estado, de 45,7% da agência Lusa pertencentes à Global Media e à Páginas Civilizadas falhou por “falta de um consenso político alargado”.

Falhou compra da Lusa pelo Estado por “falta de consenso político alargado”

“No momento atual, não existindo um consenso político alargado, a operação revelou-se inviável”, lê-se num comunicado então divulgado pelo Ministério da Cultura.

No texto, o ministério afirma que “caberá ao próximo Governo assumir as suas responsabilidades e encontrar uma solução que garanta o salutar pluralismo, independência e salvaguarda do serviço público prestado pela Lusa  — essencial para o conjunto da comunicação social”.

Nas “circunstâncias da atual situação política”, o Governo considera, no comunicado, que não tem condições de tomar esta decisão.

Em quase quatro páginas, o Ministério da Cultura explica todo o processo, desde agosto, com a “manifestação de interesse dos acionistas” do Global Media Group e da Páginas Civilizadas em “alienar as participações sociais que detêm na Lusa”, altura em que o ministro da Cultura “mostrou abertura para iniciar uma negociação para que o Estado pudesse vir a assumir uma posição mais significativa na estrutura acionista” da agência.

O Governo considerava que a sensibilidade de uma intervenção deste tipo “num órgão de comunicação social” obrigaria a “partilhar a sequência de decisões que pudesse vir a tomar com os partidos políticos com assento parlamentar e, designadamente, com o maior partido da oposição”, o PSD.

“Isso foi feito desde o início, com total transparência, mesmo num contexto político que era ainda muito distinto do atual”, lê-se ainda no comunicado.

Em 22 de novembro de 2023, a Direção Geral do Tesouro e Finanças apresentou, em nome do Estado,“uma proposta formal de aquisição”, abrindo um processo negocial “exigente e confidencial”, que “incluía a liquidação integral da dívida do grupo Global Media à Lusa”.

Mas, para poder ser concluída, a negociação “esteve sempre associada à existência de um compromisso político alargado uma necessidade que já era reconhecida em agosto e que as atuais circunstâncias políticas só tornaram mais premente”, após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, e que levou à convocação de eleições antecipadas.

Entretanto, lê-se ainda no comunicado, o ministro da Cultura, Pedro Adão Silva, “foi informado da posição do PSD, rapidamente tornada pública em vários órgãos de comunicação social”, de que “qualquer decisão “deveria ser tomada pelo próximo Governo””.