O negócio da Nikola não corre de feição. Só este ano anunciou prejuízos de 169 milhões de dólares, no primeiro trimestre, sendo posteriormente (Maio) afastada do NASDAQ, depois de estar cotada abaixo de um dólar durante um período demasiado longo. Pouco depois, em Junho, anunciou que ia cortar 270 postos de trabalho, na mesma altura em que um incêndio devorou quatro dos camiões que estava a desenvolver. E a condenação a quatro anos de prisão e 1 milhão de dólares conhecida esta semana, para o fundador e primeiro CEO da Nikola, Trevor Milton, não contribuiu minimamente para serenar os ânimos.

O Ministério Público pedia 11 anos e 5 milhões, pelo que a pena aplicada pelo juiz a Milton não surpreendeu ninguém, pois nos EUA o longo braço da lei não é meigo para os que praticam fraude com empresas cotadas em bolsa. Foi em 2018 que o então CEO admitiu ter burlado os investidores, mentindo em relação ao potencial dos veículos fabricados pela Nikola, bem como em relação à tecnologia alegadamente controlada pela empresa. Foi julgado em 2022 e agora, finalmente, surgiu a sentença, de que Milton vai recorrer. Mas sem grandes esperanças de sucesso, de acordo com os especialistas locais.

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Milton criou uma startup com o objectivo de produzir camiões eléctricos, alimentados por bateria e por fuel cells a hidrogénio. Dizia abertamente mal da concorrência e afirmava dominar ambas as tecnologias, tendo até produzido um vídeo para demonstrar o dinamismo com que o tractor semi-reboque de Classe 8 da Nikola se deslocava, visando atrair novos investidores. Mas a realidade superou a ficção quando se provou que, afinal, as imagens tinham sido captadas numa descida e que o camião nem sequer tinha motor.

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Desde que o fundador foi acusado e afastado da direcção da Nikola, a empresa viu os chorudos contratos que tinha com a General Motors e a Iveco serem revistos em baixa, mas ainda assim permitindo-lhe continuar a desenvolver camiões a fuel cell para a empresa norte-americana e a bateria para a italiana.

Ex-CFO da VW USA, Michael Lohscheller passou depois a CEO da Opel e, mais tarde, da Vinn, antes de rumar à Nikola

Resta saber se a empresa que prometeu tanto no passado vai conseguir superar as dificuldades que tem pela frente. Além da reputação manchada pelas habilidades e invenções do primeiro CEO, não aumenta a confiança no futuro da Nikola o facto de o mais recente gestor, o experiente alemão Michael Lohscheller, ter assumido a liderança da marca em Janeiro de 2022 e ter abandonado o cargo em Agosto de 2023. O antigo CFO da VW USA, antes de assumir o papel de CEO na Opel e depois na Vinfast, saiu da Nikola alegadamente devido a questões familiares – uma justificação politicamente correcta que nada fez para tranquilizar os mercados.