Marlene Engelhorn tem 31 anos, é uma cidadã austríaca e alemã, nascida em Vienna, e recusa receber a herança da avó, cujo património encontra-se avaliado em 4,2 mil milhões de dólares, de acordo com a revista Forbes.

Traudl Engelhorn-Vechiatto, avó de Marlene e, atualmente, a 687.ª pessoa mais rica do mundo, morreu aos 95 anos, na Suíça, e era sócia da empresa BASF, um dos maiores grupos químicos e farmacêuticos do mundo. A família de Traudl detinha ainda outro negócio, Boehringer Mannheim, produtora de produtos farmacêuticos e equipamento de diagnóstico médico, vendida à empresa farmacêutica suíça Roche, em 1997, por 11 mil milhões de dólares.

A vida de Marlene foi passada numa mansão numa zona sofisticada de Viena, em escolas de língua francesa, a ler e a jogar futebol com os rapazes. Não compreendia o facto de os amigos viverem em apartamentos pequenos, questionando-se sobre o porquê de não escolherem viver numa casa grande com jardim, o que considerava “muito mais agradável”. “O privilégio dá-nos realmente uma visão muito, muito estreita do mundo”, disse a herdeira, segundo o The New York Times.

A estudar na universidade de Viena, assumiu-se como anticapitalista, voluntariou-se em grupos de defesa dos direitos homossexuais e alargou as suas perspetivas relativamente à discriminação económica, racial e de género.

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Quando a avó lhe comunicou os milhões de dólares que herdaria, juntou-se a grupos de milionários pró-impostos, onde os membros discutem os seus privilégios e como conseguir que o Estado os retire. Marlene considera que a decisão sobre como utilizar o dinheiro deve ser do Estado, não sua.

A austríaca pretende, assim, doar 90% do dinheiro que vai herdar e retribuir o valor através do pagamento de impostos, ficando com somente 10% do total da fortuna. “Não devia ser eu a decidir o que fazer com o dinheiro da minha família, para o qual não trabalhei”, disse à Vice News.

Entretanto, com o propósito de defender o aumento de impostos para os mais ricos e uma redistribuição mais equitativa da riqueza, Marlene co-fundou a organização “Tax Me Now, formada por herdeiros. Através deste movimento, e tendo reunido 44.000 assinaturas, apesar de apenas 50 serem de milionários, os membros solicitam aos governos que fiquem com a maior parte da riqueza herdada, acreditando que estas propostas poderiam ajudar a equilibrar a sociedade.

Além disso, pertence à organização “Milionários pela Humanidade“, que “defende um imposto sobre a riqueza de 1% aos multimilionários para apoiar a recuperação da Covid-19, combater a pobreza e as alterações climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, conforme o citado no site.

Em agosto de 2022, num evento dos “Milionários pela Humanidade”, que ocorreu em Amesterdão, Engelhorn discursou, num apelo à tributação da riqueza, argumentando que ela é “o produto de uma sociedade desigual […] Porque, de outra forma, não poderia ter nascido com milhões. Apenas nasci. Nada mais”.

Numa entrevista ao jornal austríaco Der Standard, Marlene afirmou que nada fez por aquela herança: “É pura sorte da lotaria do nascimento e pura coincidência. […] Nas nossas sociedades, a riqueza individual está estruturalmente ligada à pobreza coletiva. Eu não queria fazer parte disso”.

Não trabalhei um dia para receber o dinheiro e não pago um cêntimo de impostos para o receber”, lamentou.

Passados dois anos, Engelhorn continua sem dar uso aos milhões que se encontram na sua posse, mas mantém a opinião firme de que o dinheiro não lhe pertence, como informa o El Mundo: “Eu não fiz nada para ficar rica. No meu caso, foram as pessoas que trabalhavam na Boehringer Mannheim, a empresa em que o meu falecido avô tinha ações, e as pessoas das empresas em que o dinheiro está atualmente investido. Nenhum deles beneficia com isso, só eu”.