Luís Marques Mendes avisa que se o “Chega tiver um resultado na dimensão dos 15%, a AD não ganha as eleições e Montenegro não será primeiro-ministro”. Ou seja, nessa altura, e com esse resultado para o partido liderado por André Ventura, “a grande ajuda indireta é a Pedro Nuno Santos, que poderá ser indigitado primeiro-ministro”, afirmou o comentar e ex-presidente do PSD no seu espaço semanal da SIC. Daí que o crescimento do Chega para lá de um certo patamar seja “um problema sério para a AD” porque pode impedir a coligação de ganhar as eleições.

Para Marques Mendes, a AD deve apresentar “um projeto transformador” nos próximos dias, antes que seja tarde demais.  “Os portugueses querem que a AD apresente o seu pensamento e as suas alternativas, as suas ideias, o que vai fazer em diferentes áreas da governação e isso está a tardar. É preciso um projeto transformar e, se não for apresentado nos próximos dias, pode ser tarde demais. Eu diria que o limite é a convenção que a AD vai realizar na próxima semana. Isto é uma questão essencial.” E se os PSD e CDS não estiverem preocupados é porque “estão descolados da realidade”.

Montenegro cabeça de lista da AD em Lisboa. Miguel Guimarães pelo Porto

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Apesar de elogiar a escolha de cabeças de lista para as próximas legislativas, conhecida esta noite, com foco em alguns independentes — tento mesmo avançado dois nomes (Rita Júdice para Coimbra e Telmo Faria para Leiria) — Luís Marques Mendes faz as contas à média dos resultados por partido das sondagens publicadas em dezembro, para tirar algumas conclusões. Se ganhar a AD ou o PS? Será um “incerto até ao fim”. Mas destaca que já depois destas sondagens Pedro Nuno Santos “começou bem a sua liderança, goste-se ou não se goste dele. É objetivo, saiu-se bem no Congresso, esteve acima das expectativas, beneficiou das expectativas em torno da apresentação da AD não terem sido fantásticas — esperava-se mais — e está a tentar refazer a sua imagem. Se tem ou não tem sorte nesse esforço, só mais tarde se verá”.

Para já, e tendo como base as sondagens do final do ano, PS e os partidos à esquerda não chegam para formar um maioria. À direita pode verificar-se uma maioria aritmética, mas que não passa a maioria política por causa das posições dos outros partidos em relação ao Chega. E pode-se a assistir a uma situação de “impasse e bloqueio” dos dois lados do espectro.

“Chamar à atenção a isto é importante, porque os portugueses ao votarem no dia 10 de março quererem ou não quererem desbloquear esse impasse.”

O radicalismo, o aproveitamento de Sá Carneiro e as novas velhas propostas. O discurso de Ventura nas entrelinhas

Sobre a convenção nacional do Chega, Marques Mendes considera que André Ventura não moderou o discurso, como alguns esperariam. “Eu acho que ele não se moderou, acentuou a natureza do Chega como partido de contestação e de protesto. Até pode ser eficaz nessa área, mas continua a ser um partido de protesto e contestação.” Para além de não apresentar ninguém com imagem de experiência governativa, as propostas que apresentou não indiciam ser propostas de quem está a pensar ir para o governo. Um exemplo: reverter a extinção do SEF”. Ainda que esta tenha sido uma ideia errada, voltar a atrás seria “criar caos um, dois, três, quatro anos”.

Ainda assim, reconhece, as sondagens indicam que o partido “pode ter um resultado histórico nestas eleições” — os tais 15% —  e que conquista votos em vários setores — da esquerda e da direita. Mas o partido mais afetado com o crescimento do Chega é o PSD.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a convenção do Chega.

O Chega moderou-se a pensar em 10 de março?

Para o comentador, a invocação repetida de Sá Carneiro por parte de André Ventura tem como objetivo “mostrar que votar no PSD e no Chega é mesmo”. Tal como ir buscar deputados ao PSD. Para o comentador, esta troca de partidos é censurável, defendendo que deveria ser guardado um período de nojo. “Não acho nada edificante que um partido vá pescar deputados — no passado, o PSD e PS já fizeram o mesmo, mas são maus exemplos. Apelar a que haja princípios e valores”.