O novo Presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, tomou posse esta segunda-feira, após meses de incerteza e com quase 10 horas de atraso, devido a tentativas de suspensão do partido que apoia, por alegadas irregularidades.

O chefe de Estado do país centro-americano, de 65 anos, acabou por tomar posse pouco depois da meia-noite (7h00 em Lisboa), sob aplausos do público, no Teatro Nacional da Guatemala, sucedendo ao conservador Alejandro Giammattei, que não esteve presente.

A tomada de posse de Arévalo, eleito em agosto, deveria ter começado às 15h00 de domingo (21h00 de Lisboa), mas a essa hora o hemiciclo ainda debatia sobre se os deputados do Movimento Semilla, partido com o qual o novo Presidente venceu as eleições, deviam ser inscritos como independentes.

Progressista Bernardo Arévalo vence presidenciais na Guatemala

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O Congresso acabou por revogar a suspensão do partido, com 93 dos 160 deputados a votarem a favor, permitindo aos 23 deputados do Semilla tomarem também posse.

O atraso, que se seguiu a meses de incerteza, levou centenas de apoiantes de Arévalo, que se tinham reunido na emblemática Plaza de la Constitución, na Cidade da Guatemala, a furarem o cordão policial, concentrando-se em torno do edifício do Congresso em protesto.

A situação tinha criado receios de um possível “golpe de Estado”, como o próprio Presidente eleito tem vindo a denunciar, acusando a Procuradora-Geral da Guatemala, Consuelo Porras, e “outros atores corruptos” de obstruírem a tomada de posse.

O Ministério Público e a Procuradora-Geral, incluída numa lista de figuras “corruptas” do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, conseguiram a suspensão provisória do partido do Presidente eleito por alegadas irregularidades no seu processo de criação, em 2017.

O Ministério Público também tentou anular as eleições e retirar a imunidade a Arévalo e ao vice-presidente eleito, manobras severamente criticadas pelos Estados Unidos, União Europeia (UE), Organização das Nações Unidas e Organização dos Estados Americanos (OEA).

Arévalo foi eleito em agosto com o compromisso de combater a corrupção endémica na Guatemala, classificado em 150.º lugar entre 180 países pela Transparência Internacional.

A tomada de posse contou com a presença dos Presidentes chileno, Gabriel Boric, e colombiano, Gustavo Petro, bem como o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, e representantes dos Estados Unidos e do rei de Espanha, entre outros dirigentes estrangeiros.

Durante a espera de quase 10 horas, Gomes Cravinho disse, por telefone à Lusa, a partir da capital, que acreditava que Arévalo tomaria posse ainda no domingo.

Filho do reformista Juan José Arévalo, primeiro Presidente democraticamente eleito da Guatemala, em 1945, após décadas de ditadura, Arévalo sucede a Giammatei, criticado pelo apoio à Procuradora-Geral, e sob cujo mandato foram detidos ou forçados ao exílio vários procuradores que combatiam a corrupção.