Não é arriscado dizer que praticamente ninguém, durante a noite desta segunda-feira, esperava que Lionel Messi voltasse a ser distinguido com o The Best. O prémio da FIFA elegia o melhor jogador do mundo durante o período pós-Mundial e agosto do ano passado — altura em que o argentino cumpriu uma segunda metade de temporada algo banal e assinou pelo Inter Miami e Erling Haaland concluiu a época com três títulos e mais de 50 golos marcados. A surpresa, porém, aconteceu.

No Eventime Apollo, em Londres, a ideia de que a gala da FIFA não seria propriamente um sucesso ficou patente a partir do momento em que se percebeu que nenhum dos três finalistas ao The Best — Messi, Haaland e Mbappé — estariam presentes. Ou seja, já se sabia à partida que nenhum eventual vencedor iria subir ao palco para receber o prémio, algo estranho se recordarmos que raramente um finalista falha a gala da France Football que entrega a Bola de Ouro.

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Quando o nome de Lionel Messi soou na sala, quando a surpresa invadiu a gala, as caras de choque de vários elementos da plateia foram impossíveis de disfarçar. Desde Pep Guardiola, treinador de Haaland no Manchester City, a Alf-Inge Haaland, o pai do avançado norueguês que estava a representá-lo em Londres. Tudo ficou pior quando se percebeu que o argentino não tinha enviado ninguém em seu nome, ou seja, que não existia ninguém para receber o The Best relativo a 2023. Uma atitude que pode confirmar a surpresa da eleição, é certo, mas que também sublinha a falta de relevância que os jogadores atribuem à distinção.

Ainda assim, a ausência de Messi foi entretanto justificada por Guillem Balague, jornalista que escreveu uma biografia autorizada do jogador. “O Messi começou a treinar no Inter Miami e uma viagem para Londres significaria perder três ou quatro dias de trabalho. Ele tem de ajustar o seu novo calendário futebolístico. Teve alguns problemas físicos na segunda metade do ano e quer fazer uma boa pré-época, com o primeiro jogo a ser disputado já esta semana. Encara a preparação da pré-época de forma muito séria, principalmente numa temporada tão importante para o Inter Miami e para a Argentina, com a disputa da Copa América”, escreveu no X, antigo Twitter.

Depois da gala, percebeu-se que Messi e Haaland tinham empatado, mas que o argentino acabou por ser o vencedor por ter mais pontos atribuídos pelos capitães das seleções nacionais — e mesmo que o norueguês tenha sido o favorito tanto dos selecionadores como dos jornalistas. Na verdade, esse é o critério de desempate de todas as categorias do The Best: o voto dos homólogos é sempre o mais valioso e decide o vencedor, ou seja, o dos treinadores vale mais no Treinador do Ano e o das jogadoras vale mais na Jogadora do Ano.

Neste caso específico, a escolha dos capitães das seleções nacionais foi mesmo decisivo. Harry Kane, Mohamed Salah, Robert Lewandowski, Virgil van Dijk e o próprio Mbappé votaram todos em Messi, por exemplo, num total de 13 capitães que preferiram o argentino. Haaland somou 11, entre o compatriota Martin Odegaard, Casemiro, Gündoğan e o próprio Messi. Na votação do público, porém, o agora jogador do Inter Miami teve quase o dobro do resultado do oponente.

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Como sempre, a revelação dos detalhes da votação trouxe alguns pormenores curiosos. Roberto Martínez, selecionador nacional, votou em Brozović para Jogador do Ano, o médio croata que foi à final da Liga dos Campeões com o Inter Milão e que é agora colega de Cristiano Ronaldo no Al Nassr, juntando Bernardo Silva e Messi no top 3. Já Kvaratskhelia, avançado do Nápoles, foi o melhor do mundo para Georgi Dzhikiya, capitão da Rússia. E Declan Rice, antigo médio do West Ham que está agora no Arsenal, ficou no primeiro lugar da lista de Lyle Taylor, capitão de Montserrat.

Já Pepe, que votou na qualidade de capitão da Seleção Nacional, escolheu Bernardo Silva como Jogador do Ano, fechando o top 3 com Haaland e Osimhen, avançado nigeriano do Nápoles. Dos oito selecionadores portugueses, só dois colocaram Bernardo Silva no primeiro lugar (Rui Vitória, do Egito, e Paulo Duarte, do Togo), e só um não atribuiu qualquer voto ao avançado português (Carlos Queiroz, do Qatar). Por fim, só um fugiu à dicotomia Haaland/Messi para lá de Bernardo Silva — José Peseiro, que orienta a Nigéria e que escolheu naturalmente Osimhen.