Segundo ato de contrição de Nuno Melo. Depois de ter sido obrigado a escrever um comunicado a esclarecer que a Aliança Democrática não viabilizaria um governo minoritário de Pedro Nuno Santos, o líder do CDS aproveitou o discurso a partir da “Convenção por Portugal” para tentar fazer esquecer o deslize anterior. “Para que fique claro, o único governo que a AD vai viabilizar depois de 10 de março vai ser o governo da AD quando vencermos as eleições, contados todos os votos. Vai ser o único governo que vamos viabilizar”, reiterou o líder do CDS.

Recorde-se que as declarações de Nuno Melo, que em entrevista à CNN admitiu viabilizar um governo socialista, causaram um enorme mal-estar na coligação, com elementos do núcleo duro de Luís Montenegro a condenarem a “infantilidade” de Melo e a exigirem correção. O eurodeputado emitiu um primeiro comunicado a corrigir o tiro e, este domingo, procurou enterrar o assunto.

[Ouça aqui a intervenção de Nuno Melo]

Nuno Melo: “Unico Governo que vamos viabilizar vai ser o Governo da Aliança Democrática”

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De resto, o democrata-cristão cumpriu aquela que parece ser a estratégia da AD — Montenegro fará o discurso ao centro, Melo servirá para alimentar o combate e, com isso, blindar o flanco direito. No discurso, tentou pressionar André Ventura, acusando-o de ser “a muleta útil das esquerdas, disponível para apresentar moções de rejeição a este governo da AD, para dar a mão ao PS, BE, PCP, PAN e Livre”.

Mais à frente, Melo classificou mesmo de “delírio” aquilo que vai acontecendo no partido à sua direita, referindo-se às propostas já apresentadas por André Ventura em matéria que existe em torno das propostas, comparando mesmo Bloco de Esquerda e Chega em matérias como  a contribuição extraordinária sobre a banca, o aumento das taxas sobre combustíveis ou o aumento das pensões em linha com o salário mínimo nacional. “De comum, Mariana Mortágua e André Ventura têm a capacidade para levar Portugal à bancarrota tal e qual José Sócrates, só que mais rápido”, disse.

Melo centrou-se depois em Pedro Nuno Santos. Referindo-se à ideia que vai sendo repetida pelo adversário (“Portugal não pode continuar a arrastar os pés”), o líder do CDS devolveu a acusação ao socialista: “Quem manteve Portugal a arrastar os pés durante oito anos não nos vai pôr agora a correr e a saltar obstáculos”.

O democrata-cristão sugeriu também que o PS está a usar os meios do Estado para fazer campanha eleitoral e “propaganda” política. “Se o PS já merecia perder as eleições por razão de absoluta incompetência, merece agora perder as eleições por razão de princípio e de decência.” Para Melo, aliás, a grande marca desta governação é a existência de uma “classe média vergastada”, vítima de “extorsão tributária”.

“O socialismo é inimigo do mérito e do esforço. Vive com a mão no bolso das pessoas e o lápis azul na outra. Pagamos impostos mais altos cada vez que comemos, bebemos, fumamos, conduzimos, quando queremos ser proprietários, até quando morremos. Se Pedro Nuno Santos vencer, pagamos impostos mais altos até morrer. Até à campa. Votar neste PS é mais ou menos como comprar um bilhete para viajar no Titanic, mas sabendo-se que vai afundar”, rematou o líder do CDS.

“Infantilidade” de Melo causa embaraço a Montenegro. “Caiu na casca de banana”