Apesar das suspeitas que recaem sobre si, e que motivaram esta quarta-feira buscas à sua residência oficial, Miguel Albuquerque recusa demitir-se, garantindo estar “de consciência tranquila”. Horas depois de ter começado a operação policial, o presidente do governo regional da Madeira apareceu para garantir que mesmo que seja arguido não se demite — tudo isto minutos antes de o líder do PSD, Luís Montenegro, dizer aos jornalistas que “neste momento” não tem motivos para lhe retirar a confiança política, mas admitindo que isso pode mudar.

Aos jornalistas, Albuquerque garantiu estar a colaborar de forma “ativa e consistente” com a polícia e os procuradores, tentando contribuir para o “esclarecimento” da situação, até porque não quer ser suspeito “eternamente”.

A investigação terá, segundo o seu relato, a ver com os seguintes pontos: adjudicações de obras públicas, o concurso do teleférico do Curral das Freiras, o licenciamento da Praia Formosa e o concurso dos autocarros para a região. “Todos os elementos solicitados estão a ser fornecidos. Estamos de consciência tranquila”, assegurou.

Presidente da Câmara do Funchal e dois empresários detidos em operação que também visa Miguel Albuquerque

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E insistiu por várias vezes que está inocente, começando por frisar que na sua longa vida política nunca foi “acusado e nada” e sempre teve “independência económica” e acabando a rematar assim: ““Não tive nem vou ter nenhum caso de corrupção na vida. A mim ninguém me compra. Nunca roubei ninguém, nunca pedi dinheiro a ninguém”.

Sobre Pedro Calado, o presidente da Câmara do Funchal, que está a ser investigado e foi mesmo detido esta terça-feira, Albuquerque só teve elogios, descrevendo-o como um “político de grande qualidade” e uma pessoa “séria”. E recusou efeitos políticos de maior sobre o PSD — “o que é que Luís Montenegro tem a ver com isto?” –, embora assumindo que o caso pode ser usado como “arma de arremesso” na campanha para as eleições legislativas.

Montenegro mantém confiança política (para já)

Poucos minutos depois, chegava a vez de o líder do partido, Luís Montenegro, falar do assunto. E se por agora mantém a confiança em Miguel Albuquerque, fez questão de deixar uma garantia: ninguém está “acima da lei”.

Aos jornalistas, minutos antes de apresentar o programa económico da Aliança Democrática, Montenegro disse esperar que a investigação decorra com “rapidez e diligência” para que tudo fique esclarecido, admitindo que esta é uma “perturbação na atenção política” que os portugueses prestam à campanha.

Mas acrescentou: “É evidente que ninguém está acima da lei e não é por estas pessoas exercerem funções em representação do PSD que se aplica um princípio diferente”. Por isso, Montenegro espera que haja um “esclarecimento elucidativo” e diz que “do ponto de vista político não há nada que mude, neste momento“. Isso pode, no entanto, “mudar”, consoante as informações que forem apuradas.

Sobre se a opinião que tem neste caso é agora diferente em relação à que teve quando António Costa também se viu envolvido num processo judicial, o social-democrata diz que sempre defendeu que a demissão do primeiro-ministro não teve a ver apenas com o parágrafo da Procuradoria-Geral da República sobre Costa, para recusar que haja uma incoerência na forma como encara as responsabilidades políticas a retirar em cada caso.