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"Expats": o caos entre os ricos longe de casa (e Nicole Kidman a ceder o protagonismo)

Na nova série da Amazon Prime Video, o luto bate à porta dos privilegiados. Os dois primeiros episódios estreiam-se esta sexta-feira, dia 26, também para descobrir a verdadeira estrela: Sarayu Blue.

O nome mais sonante pode ser o de Nicole Kidman (que é igualmente produtora executiva) e o seu arco narrativo pode até ser o principal, mas há muito mais por explorar em "Expats"
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O nome mais sonante pode ser o de Nicole Kidman (que é igualmente produtora executiva) e o seu arco narrativo pode até ser o principal, mas há muito mais por explorar em "Expats"

O nome mais sonante pode ser o de Nicole Kidman (que é igualmente produtora executiva) e o seu arco narrativo pode até ser o principal, mas há muito mais por explorar em "Expats"

Três mulheres norte-americanas, embora com ascendências muito diferentes, vivem em Hong Kong, cenário de uma tragédia familiar que acaba por ligar este triângulo para sempre. É esta a premissa de Expats, que se estreia na Amazon Prime Video esta sexta-feira, dia 26 de janeiro. Ficam disponíveis os dois primeiros episódios, sendo os restantes quatro libertados semanalmente a partir daí.

A história baseia-se no livro The Expatriates (1998), de Janice Y. K. Lee. A adaptação também tem a sua assinatura, mas é sobretudo obra de Lulu Wang (conhecida por realizar uma tocante história de família, A Despedida, de 2019). É ela quem dirige a temporada inteira, além de assinar o guião dos dois primeiros capítulos. São eles os responsáveis por garantir a nossa atenção até ao final (isto porque, se não ficássemos logo agarrados, facilmente perderíamos o interesse com os desvios e o ritmo lento de algumas passagens).

Margaret (Nicole Kidman), outrora uma conceituada arquiteta paisagista em Nova Iorque, limita-se a sobreviver, é apenas um corpo a pairar pelos espaços, completamente alienada do que se passa à volta dela. Depois do desaparecimento do filho mais novo, Gus, há cerca de um ano, ela é apenas uma junção pouco equilibrada de raiva, culpa, desespero e impotência. Isola-se na dor, deixando toda a gente do lado de fora, não percebendo o que se passa com os outros filhos (cada um a lidar com o trauma de forma muito diferente e preocupante), com o marido (que se refugia numa fé acabada de descobrir e tenta a todo o custo ter alguma normalidade, seja lá o que isso for após o desaparecimento de um filho) ou com a amiga, cujo casamento está a desmoronar-se mais depressa do que uma torre de Jenga.

[o trailer de “Expats”:]

Essa amiga é Hilary (Sarayu Blue), extremamente bem-sucedida no mundo de campanhas publicitárias de marcas de luxo, só se veste de bege, um tom neutro e bem comportado que deveria transparecer uma vida muito controlada e metódica. Só que o marido, David (Jack Huston) é um alcoólico, que lhe mente. E ela mente a David porque ele quer ter filhos. Hilary não quer. Mas finge que quer.

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Mercy (Ji-young Yoo) é uma coreana que cresceu nos EUA e se refugiou em Hong Kong para começar de novo e fugir ao sufoco do controlo da mãe. Ela tem um papel fulcral no desaparecimento de Gus e passa a temporada inteira a lidar com a própria culpa e a inabalável convicção de que tem um qualquer feitiço que a persegue e só traz infelicidade e desgraças. Inconsequente, é uma personagem difícil de ler quase até ao fim, quando finalmente as inúmeras cenas em que a vemos deambular pelas ruas da cidade são trocadas por conversas incómodas que lhe dão mais substância e empatia.

O nome mais sonante pode ser o de Nicole Kidman (que é igualmente produtora executiva) e o seu arco narrativo pode até ser o principal, mas quem brilha aqui sem qualquer rivalidade é Sarayu Blue. Enquanto a primeira é exagerada no meio do seu caos emocional e parece por vezes louca (o que é compreensível), a personagem de Hilary é contida (até não ser) e cheia de camadas (até explodirem todas umas atrás das outras). Num dos episódios fica presa num elevador com a mãe, uma indiana que julga e critica mais depressa do que respira e que está de visita, e uma vizinha com quem nunca falou. Num ambiente improvável, começa a debitar os traumas antigos como se, depois de sair a primeira frase, fosse impossível manter o resto dentro da boca.

Esta é a história de quem está longe de casa e nunca se integra. É a história de várias dores e culpas que são sempre vividas de forma solitária. E tem uma notável Sarayu Blue

Outro momento marcante dá-se no meio de uma tempestade, quando maquilha a empregada como se fosse uma boneca, tal e qual como fazia em miúda para esconder as nódoas negras da mãe, provocadas pelo pai. Esta personagem tem um círculo perfeito, percebemos de onde veio e porque está onde está e conseguimos, inclusive, adivinhar-lhe o futuro. Em contrapartida, nem sempre é possível dizer o mesmo de Mercy, mergulhada muitas vezes num nevoeiro, e de Margaret. Não ajuda o facto de, quando o plano é fechado na cara dela, ficarmos mais focados a tentar descobrir o que raio fizeram à cara de Nicole Kidman (e porque lhe puseram, mais uma vez, uma peruca) do que atentos ao que está a dizer.

Em torno destas três figuras principais gravitam duas mulheres, Essie (Ruby Ruiz) e Puri (Amelyn Pardenilla), duas filipinas que são empregadas internas de Margaret e Hilary, respetivamente.

Margaret refere-se constantemente a Essie “como família”, mas não diz “é família”, e Hilary tem um momento de carência que a aproxima de Puri, desaparecendo a fronteira empregador/empregado. Claro que isto se passa durante uma tempestade e, quando o vendaval passa e a eletricidade regressa, tudo é visto com uma luz diferente.

Margaret (Nicole Kidman), outrora uma conceituada arquiteta paisagista em Nova Iorque, limita-se a sobreviver, é apenas um corpo a pairar pelos espaços, completamente alienada do que se passa à volta dela

O quinto e penúltimo episódio dá mais espaço a estas mulheres secundárias e é quase um filme (tem cerca de 1h30). É diversificado e tem ritmo e introduz novas personagens (além destas duas) cheias de potencial. Porém, assim que a tempestade se esfuma, também desaparecem estas pessoas. Quase como Gus, no espaço de um segundo estávamos a dar-lhes a mão para sabermos mais sobre elas para, logo a seguir, as perdermos no meio da multidão de uma cidade frenética.

Expats é a história do desaparecimento de uma criança — podemos ficar até ao fim só para descobrir o que lhe acontece —, mas não só. É também a história de mulheres ricas, que deviam ter tudo, mas são profundamente infelizes. É a história de empregadas que são bem tratadas, mas que nunca passam a família. É a história de quem está longe de casa e nunca se integra. É a história de várias dores e culpas que são sempre vividas de forma solitária.

O guião é bem escrito, a fotografia impecável e a edição é a chave para, muitas vezes, juntar tudo de forma perfeita. Há uma conversa triangular no final (nunca sabemos bem quem está a falar com quem) que é das melhores decisões da série. Ainda assim, apesar de haver muitos aspetos que fazem lembrar A Despedida, Lulu Wang não consegue levar a série até ao final de forma tão coerente. Há demasiadas pontas soltas (como a história de um vizinho de Hilary e Magaret e um importante protesto de 2014 em Hong Kong que é incluído na narrativa). Curiosamente, os episódios mais pequenos são os mais lentos, deixando-nos sem saber muito bem o que procuramos em Expats. Há respostas no final (e outras tantas perguntas). Vale a pena chegar lá e decidir quais queremos escolher.

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