Antes de chegar ao púlpito do auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, Rui Tavares falou este sábado aos jornalistas sobre a crise política na Madeira, referindo que há partidos “que mudam a sua posição de acordo com os protagonistas”. Num recado claro a Luís Montenegro, alertou que “um político não pode ser um fato que fala”, mas sim “uma pessoa que pensa no futuro do país e a quem se pede uma certa consistência”.

“O Livre não pediu demissões, quando estas ocorrem têm de ser por consciência imperativa dos próprios. Está errado quem diz que só com eleições se pode resolver uma situação e depois diz que na Madeira basta substituir uma pessoa para resolver a situação”, atirou ainda o co-porta-voz do Livre, a participar no XIII Congresso do partido, que, pelo menos no local, regressa à casa de partida — o congresso fundador do Livre, há dez anos, decorreu nas mesmas quatro paredes, nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto.

Ainda sobre a crise na região autónoma, o deputado único alertou que deve haver consistência nos critérios aplicados aos casos de suspeita de corrupção de políticos. “Tivemos uma legislatura que começou com o Presidente da República a dizer que dissolveria a Assembleia da República em condições de o chefe de Governo da República Portuguesa não poder continuar” E acrescenta: “Nunca dissemos ao Presidente para decidir de uma maneira ou de outra, mas uma coisa que queremos é consistência de critérios. Não nos venham dizer que a mudança de um protagonista muda a política da Madeira.”

Rui Tavares mencionou também a “compressão da liberdade de imprensa na região autónoma, onde os poucos jornais que haviam e que eram da oposição” foram condicionados, sendo que uma das suspeitas que recai sobre Miguel Albuquerque, que se demitiu ontem do cargo de Presidente do Governo Regional da Madeira, é a de atentado ao Estado de Direito, através da interferência nos meios de comunicação social regionais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rui Tavares quer “contrato democrático” à esquerda para vencer “direita radicalizada a ser devorada pela extrema-direita”

Já ao púlpito e a falar para um auditório lotado de militantes, Rui Tavares falou sobre o futuro do país que vai a eleições a 10 de março e aponta: “O caminho que não começa onde estamos não vai para onde queremos ir”. O deputado rejeita a ideia da esquerda de que “teríamos de começar fora da UE ou do euro”. “O caminho para chegar ao país que queremos é partirmos do país que temos e aqui já temos tudo para o construir, já temos as pessoas, só precisamos de as valorizar”, garantiu.

O essencial, diz, é assinar um “contrato democrático” num país onde “temos uma direita cada vez mais radicalizada a ser devorada pela extrema-direita”. E reforça o desejo de convergência à esquerda: “O caminho que propomos começa com um grupo parlamentar do Livre e ajudar a uma maioria progressiva e ecológica e dar a oportunidade ao centro e à direita democrática de destronar a extrema-direita”.

Para Rui Tavares, “todos os humanos trazem consigo a possibilidade de se tornarem maiores”. E garante que é esta “a visão da humanidade” do Livre. O porta voz do Livre cita Sérgio Godinho, lembrando que ser livre “é o pão e habitação”, mas mais do que isso, “é andar de cabeça levantada, é ir ao hospital e sairmos a saber que conseguimos pagar”. “É entrar de cabeça levantada, de olhos nos olhos, e onde toda a gente entra em universidades, escolas e tribunais e é livre”, reforça. Rui Tavares apela: “Até dia 10 de março ser livre começa por todos nós”.

A manhã do primeiro dia do XIII Congresso do Livre começou com a apresentação do programa eleitoral provisório pela número dois do partido por Lisboa, Isabel Mendes Lopes, que é apontada como uma das principais candidatas a sentar-se ao lado de Rui Tavares na Assembleia da República a partir de 10 de março.