A DGS recomendou à população em geral para evitar esforços prolongados e atividades físicas ao ar livre e aos idosos e crianças a ficarem em casa, devido à concentração de poeiras no ar provenientes do Norte de África, que se verificaram em maiores concentrações esta segunda-feira e vão manter-se ainda mais uns dias, ainda que em menores quantidades.

A culpa é de uma massa de ar proveniente do Saara, que transporta poeiras em suspensão. Trata-se de um fenómeno mais comum na primavera e no verão e algo anormal nesta época do ano, sobretudo tendo em conta a dimensão: é normal que estas massas cheguem às Canárias e ao sul da Península Ibérica, mas não que se se alarguem até tão longe, tendo em conta que massa vai atravessar desta vez a Europa e atingir mesmo a Escandinávia.

Segundo o comunicado da DGS, “prevê-se a ocorrência de uma situação de fraca qualidade do ar no Continente, registando-se um aumento das concentrações de partículas inaláveis de origem natural no ar afetando, nomeadamente, as regiões do Alentejo e Algarve e o interior da Região Centro”.

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Que efeitos para a saúde humana podem resultar do contacto com estas poeiras?

Segundo resposta da DGS ao Observador, “está em causa um poluente — as partículas inaláveis – PM10”. Estas “têm efeitos na saúde humana, principalmente na população mais sensível, crianças e idosos, cujos cuidados de saúde devem ser redobrados durante a ocorrência destas situações”. Por isso, enquanto este fenómeno se mantiver, a Direção-Geral da Saúde recomendou: (e atenção que se trata apenas de uma recomendação)

• Que a população em geral evite esforços prolongados, limite a atividade física ao ar livre a exposição a fatores de risco, como o fumo do tabaco e o contacto com produtos irritantes.

• Os grupos de pessoas com maior vulnerabilidade aos efeitos deste fenómeno, para além de cumprirem as recomendações para a população em geral, devem, sempre que viável, permanecer no interior dos edifícios e, preferencialmente, com as janelas fechadas: crianças; idosos; doentes com problemas respiratórios crónicos, designadamente asma; doentes do foro cardiovascular.

Os doentes crónicos devem manter os tratamentos médicos em curso. E, em caso de agravamento de sintomas, devem contactar a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) ou recorrer a um serviço de saúde.

Até quando se espera que estas poeiras afetem a qualidade do ar em Portugal?

Quer o IPMA, quer a DGS, apontam como o pior dia de concentração de poeiras esta segunda-feira. Sendo as regiões do Alentejo e Algarve e o interior da Região Centro as mais afetadas. A partir de terça, “já se preveem valores mais baixos”. Em qualquer dos casos, e apesar das recomendações, como esta massa de poeira está acima da área respirável, a Direção-Geral da Saúde diz que o “impacto na saúde, para já, não se prevê muito elevado”, porque “os efeitos, geralmente, dependem em grande medida da concentração das partículas inaláveis – as PM10 — e do tempo de exposição”.

Ou seja, se estivéssemos (ou estivermos) perante vários dias — 2, 3 ou 4 dias — os impactos poderão ser maiores, sobretudo “no caso das partículas estarem à altura respirável” e, também, claro, da exposição “de pessoas mais suscetíveis”.

No entanto, dadas as condições dos ventos, há uma mudança dos atuais ventos que estão a vir do Norte de África (de levante) e de Sul prevista para a madrugada de dia 1 (quinta) e que não só alterarão a massa de poeira africana como também o cheiro a azeitonas que está a chegar a Lisboa e arredores.

Lisboa está a cheirar a “azeitonas”? O mistério do odor “atípico” que se sente na capital e arredores (e que vem com as poeiras do deserto)

O que diferencia esta situação das restantes do género?

Nada e muito. Esta situação é similar a situações anteriores quando há massas de poeira. Têm origem no deserto do Norte de África e são transportadas pelo vento quando este está de Leste ou Sul. Só que, por norma, ocorriam na primavera e no verão e eram muito muito pouco habituais no inverno e muito menos com esta dimensão.

Contudo, com as alterações climáticas que estão a mudar a dinâmica da atmosfera, e face às condições meteorológicas atuais, ocorrem cada vez mais noutras épocas do ano, situação que começa a ser usual.

A Península Ibérica está neste momento sob influência de um enorme bloqueio anticiclónico (desde o início da semana passada) — e que deve manter-se —, que não só impede que as tempestades e o frio vindas do Atlântico Norte cheguem às nossas latitudes, como Portugal estejam com temperaturas 5 a 6ºC acima da média para esta altura do ano.

Quão frequente é a passagem deste tipo de poeiras? Está a aumentar a frequência destes fenómenos em Portugal?

Sim. Segundo a DGS, é possível que estas condições possam ocorrer com mais frequência, face às alterações climáticas expectáveis para a Europa e para Portugal. O que se tem verificado é que começam, também, a ocorrer fora da época em que ocorriam no passado, uma vez que este calor anómalo a alturas anómalas é também cada vez mais frequente (basta lembrar as temperaturas de dezembro de 2022 e abril de 2023).

Deve ser equacionado o uso de máscara?

Não. Face à situação atual verificada, e estando, para já, as partículas a uma altura superior às vias respiráveis, não é recomendado o uso de máscara, diz a DGS.