Vários deputados da oposição abandonaram, por momentos, o debate no parlamento da Argentina sobre a reforma da economia, em protesto contra o que consideraram ser “a repressão policial” de uma manifestação antigovernamental no exterior do edifício.

Ao início da noite de quinta-feira (hora local), a polícia disparou balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes concentrados em frente ao parlamento argentino, disse a agência de notícias France-Presse.

As forças de segurança também usaram canhões de água e gás lacrimogéneo.

Os meios de comunicação social argentinos noticiaram que três pessoas ficaram feridas e duas foram detidas, números ainda sem confirmação oficial.

No dia seguinte a uma primeira sessão de 12 horas e pelo segundo dia consecutivo, os deputados argentinos prosseguiam a análise do vasto e polémico conjunto de reformas económicas do Presidente ultraliberal argentino, Javier Milei, conhecida como ‘lei omnibus’.

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“Não podemos ficar sentados assim”, disse Nicolás del Caño, da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores-Unidade (FIT-U), ao sair do Congresso Nacional, na quinta-feira, juntamente com outros membros da Câmara dos Deputados, a câmara baixa do parlamento.

Os quatro deputados da FIT-U e alguns deputados da União pela Pátria (UxP) retiraram-se do debate numa “demonstração de solidariedade com um povo que tem o direito de se expressar na praça“, disse Victoria Tolosa Paz, ao jornal La Nación.

“Este não é um projeto viável, com repressão, atacando os deputados nacionais. Temos de proibir a repressão do povo, é algo sem precedentes”, acrescentou a deputada da Frente de Todos, o partido com maior representação na Câmara.

Dezenas de milhares de argentinos nas ruas em protesto contra as políticas de Javier Milei

Del Caño acusou as forças de segurança de usarem gás lacrimogéneo e balas de borracha, causando feridos entre os manifestantes.

Imagens transmitidas pela televisão mostraram a polícia a efetuar disparos e a usar canhões de água para dispersar centenas de manifestantes em frente ao parlamento.

Alejandro Finocchiaro, aliado do governo de Milei, acusou os deputados que abandonaram o parlamento de realizarem manobras em concertação com os manifestantes “para pôr fim à sessão parlamentar”.

“Lá fora não há trabalhadores, porque se fossem trabalhadores não teriam ficado 48 horas sem fazer nada”, disse Finocchiaro.

A oposição apresentou uma moção para suspender a sessão, algo que foi rejeitado pela maioria dos deputados.

A Confederação Geral do Trabalho, a maior união laboral da Argentina, criticou a ministra da Segurança, Patricia Bullrich: “O envio por parte de Bullrich de forças federais para ameaçar a liberdade de protesto visa apenas esconder o quão verdadeiramente importante é a discussão legislativa. Enquanto isso, os argentinos estão inseguros nos bairros”.

Na quarta-feira, primeiro dia de debate da lei, a União Cívica Radical (UCR) tinha denunciado a “detenção irregular” de algumas militantes do partido durante os protestos antigovernamentais.

Horas mais tarde, o próprio partido informou que o Ministério Público tinha “ordenado a libertação” das mulheres, que foram detidas por cantarem o hino em frente ao Congresso Nacional.

“O partido no poder está a encorajar um perigoso avanço repressivo sobre aqueles que pensam de forma diferente e fazem protestos pacíficos”, acrescentou a UCR.