Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Buenos Aires e de outras cidades argentinas em protesto contra as políticas do novo Presidente do país, Javier Milei, eleito há dois meses. Aos populares, juntaram-se representantes sindicais, políticos da oposição e outros grupos e organizações, num protesto contra o desmantelamento do Estado, a desregulação da economia e a captura de parte do poder legislativo por parte do Presidente Javier Milei, sublinha o El País.

Javier Milei, o economista ultraliberal que venceu tomou posse em Dezembro, quer também aplicar cortes significativos aos gastos públicos e limitar o poder de ação dos sindicatos. As manifestações desta quarta-feira decorreram no mesmo dia da primeira greve geral no país desde 2019, convocada pela Confederação Geral do Trabalho, a maior central sindical do país. “A pátria não se vende” foi o slogan que mais se cantou esta quarta-feira, em frente ao Congresso argentino, um dos locais da capital Buenos Aires onde os manifestantes se concentraram. A greve afetou hospitais, serviços de recolha de lixo e até os aeroportos.

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Perante os relatos que davam conta de que dezenas de milhares de pessoas tinham saído às ruas, a ministra da Administração Interna, Patricia Bullrich, desvalorizou as manifestações, sublinhando que o número de argentinos que se encontrava a trabalhar era incomparavelmente superior. “Nós não somos encurralados por ninguém, muito menos por uma marcha de 40 mil pessoas. São 0,5% de oito milhões de trabalhadores”, disse a Bullrich, que foi candidata à presidência.

Esta foi a terceira vez que os argentinos saíram às ruas em protesto contra o novo Presidente, desde que Javier Milei entrou na Casa Rosada, em dezembro.

Eleito com um programa de rutura em relação a vários áreas, o governo de Milei não perdeu tempo e aprovou, em dezembro, um decreto para alterar mais de 300 leis. Entre as medidas mais polémicas, estão a limitação do poder das organizações sindicais e várias alterações no funcionamento da economia, no sentido de diminuir a regulação sobre várias atividades (o ministro da Economia anunciou, por exemplo, o corte de vários subsídios nas áreas da energia e dos transportes e a desvalorização do peso, a moeda argentina). O governo enviou, entretanto, ao Congresso um projeto de lei que pretende aprofundar as reformas nos campos político, social, fiscal, legal, administrativo e de segurança. No total, o governo propõe alterar ou eliminar mais de 660 leis, explica a Euronews.

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A dimensão das ambições políticas de Milei levaram a Presidente a pedir ao Congresso — onde o seu partido União Pela Pátria não tem maioria em nenhuma das câmaras — que lhe dê maiores poderes para aprovar leis sem ter de as submeter ao poder legislativo, ao abrigo de declarações de “emergência pública”. Uma das exigências dos manifestantes que esta quarta-feira saíram às ruas é que os deputados da Câmara baixa do Congresso rejeitem as intenções de Milei. “Pedimos aos deputados que tenham dignidade e princípios. Que não traiam os trabalhadores, os aposentados, os que menos têm”, reclamou o sindicalista Pablo Moyano.