O Everton está metido em sarilhos. A dedução de 10 pontos devido ao incumprimento do regulamento financeiro da Premier League fez os jovens adeptos dos toffees pedirem algo diferente ao Pai Natal. “Tudo o que queremos para o Natal são os nossos 10 pontos de volta” (All I want for christmas is our 10 points back) foi a mensagem exibida por algumas crianças no Goodison Park antes do virar do ano. E que jeito davam estes à equipa de Sean Dyche.

Há sensivelmente dois meses que o Everton não vence qualquer encontro para a Premier League e não resistiu a mergulhar para a parte inferior da linha de água. A visita ao Etihad, para defrontar o Manchester City, não era propriamente a corrida por um lugar na fila para a sopa dos pobres. A equipa de Guardiola é pouco de dado coisas aos adversários e em 2024 até só sabe ganhar, numa útil sequência de cinco triunfos consecutivos que deixa a liderança do Liverpool (que vem de uma derrota com o Arsenal) comprometida.

Porém, se o Everton perdeu 10 pontos (castigo do qual recorreu) e pode enfrentar uma nova acusação, ao Manchester City estão apontadas um total de 115 irregularidades financeiras cometidas entre as temporadas 2009/10 e 2022/23 e nunca foi sancionado. Por ter sido condenado à partida e ver o oponente, na sua opinião, escapar às regras, Sean Dyche alertou para o facto de existir “uma regra para um e uma regra para o outro” ou, pelo menos, o escrutínio ser mais vincado num dos casos. “As pessoas na rua perguntam: ‘Porquê o Everton em particular?’. Não sei qual é o número exato, mas eles estão referidos em mais de 100 acusações”.

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O treinador do Manchester City, Pep Guardiola, não alimentou a questão. “Sei a minha opinião sobre isso. Partilhei-a muitas vezes. Não tenho mais nada a acrescentar. Vamos esperar”. A verdade é que a UEFA já chegou a punir os citizens, em 2020, com o afastamento das competições europeias, algo que nunca chegou a acontecer.

Por força das restrições financeiras, o Everton não se movimentou no mercado de inverno como gostaria tendo em vista reverter a situação classificativa em que se encontra. Com André Gomes lesionado, nas limitadas soluções de Sean Dyche estão os portugueses João Virgínia, Beto e Youssef Chermiti, mas todos começaram no banco neste encontro. Só que todo o poder de fogo é pouco contra um Manchester City na máxima força e a cheirar o primeiro lugar, posto que ia alcançar, à condição, se somasse três pontos, mas que não era tão ilusório assim, visto que o Liverpool vai terminar a jornada 24 com mais um jogo realizado do que os citizens.

Matheus Nunes foi lançado no onze inicial por Guardiola. Rúben Dias também foi titular ao passo que Bernardo Silva ficou no banco ao lado de Kevin De Bruyne. O Manchester City tentou dar relevância tática a Manuel Akanji, colocando o pseudo-central ao lado de Rodri no meio-campo. Nesta filosofia de subvalorização de posições, Matheus tentava influenciar o jogo junto da última linha do Everton, onde também Julián Álvarez e Haaland operaram. Foden e Doku ofereciam largura a uma equipa a jogar nos metros quadrados ofensivos do relvado.

O Everton ativava a pressão do bloco médio/baixo quando Akanji se oferecia para receber a bola de costas para a baliza. O internacional suíço foi forçado pela marcação de Gana Gueye e Jack Harrisson a alguns passes errados, mas sem consequências para o Manchester City. Os toffees limitavam o seu jogo às ligações diretas cuja distância era inversamente proporcional à taxa de sucesso dos passes para Calvert-Lewin.

Após meia hora à procura de espaços que não existiam, o Manchester City teve os momentos de maior virtuosismo ofensivo através de Jérémy Doku. O belga arrancou alguns cruzamentos pela esquerda que falharam em encontrar quem lhes desse o devido valor. No final da primeira parte, que terminou com Haaland a ver um remate no coração da área ser intercetado pela defesa, o volume atacante já era outro.

Foi igualmente de uma forma atravancada que Haaland (71′) chegou ao golo. O canto de Julián Álvarez tinha ficado retido na defesa do Everton depois do cabeceamento ineficaz de Rúben Dias. A bola sobrou para o norueguês que desferiu um tiro que furou as luvas de Jordan Pickford. Já com o Manchester City em vantagem, Bernardo Silva entrou na equipa de Guardiola e Beto também foi a jogo nos toffees.

Para a segunda parte, veio também De Bruyne, a clarividência em pessoa que aportou tudo o que é ao encontro. Numa rara possibilidade de contra-ataque que os incaracterísticos minutos finais proporcionaram, o belga lançou Haaland (85′) que, embalado, fez o segundo e até derrubou Jarrad Branthwaite. Para tentar minimizar os estragos (2-0), Sean Dyche juntou Chermiti a Beto, sendo que este segundo ainda viu um golo ser-lhe invalidado por fora de jogo pouco antes do apito final.