Antes, durante e depois da passagem do Fenerbahçe, Jorge Jesus foi recebendo várias abordagens de clubes estrangeiros para prosseguir a carreira mas houve uma em especial, aquela de sempre, que mexeu mais com o treinador português. O português até pode ter deixado o Flamengo para aceitar voltar ao Benfica em 2020 mas o Flamengo nunca deixou de estar no técnico. No entanto, e mais uma vez, esse clima constante de um quase romance ou namoro acabou por voltar a não dar casamento. Nessa altura, a Arábia Saudita voltou a aparecer no seu radar. A primeira oferta que recebeu foi para comandar a seleção, Jesus perguntou se não poderia manter-se na rotina dos clubes e a porta do regresso ao Al Hilal abriu-se. E a bom tempo.

Com a capacidade de investimento ligada ao facto de o Al Hilal, a par do Al Nassr de Cristiano Ronaldo, do Al Ahli e do Al-Ittihad, ter passado a ser controlado pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita, Jorge Jesus podia ter voltado a falhar esse projeto pessoal de um dia chegar a uma grande liga mas tinha todas as ferramentas para construir um plantel à medida. Ao todo, nas duas últimas janelas de mercado, foram mais de 370 milhões de euros gastos em contratações de nomes como Neymar (que até se lesionou com gravidade no período inicial de aventura, neste caso ao serviço da seleção), Mitrovic, Milinkovic-Savic, Rúben Neves, Koulibaly, Malcolm, Bono ou Renan Lodi. A partir daí, era uma questão de construir uma equipa.

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A temporada até começou com uma derrota na final da Taça dos Campeões Árabes diante do Al Nassr após prolongamento mas nem por isso esse desaire sentenciou o resto do trajeto. Pelo contrário. Koulibaly foi-se assumindo cada vez mais com o patrão do setor defensivo, Rúben Neves e Milinkovic-Savic conseguiram encontrar uma harmonia para dominar o corredor central, Mitrovic tornou-se um goleador letal. Com isso, e perante as duas derrotas a abrir o Campeonato do Al Nassr, o Al Hilal foi consolidando a liderança na prova além de seguir em frente na Taça do Rei e na Liga dos Campeões asiática. Mas não ficaria por aí.

Depois do empate fora com o Damac, na terceira semana de setembro, o conjunto de Riade partiu para uma série de vitórias consecutivas. Uma, duas, cinco, dez, 15, 20. O próprio Jorge Jesus percebia o que podia estar em causa, como se percebeu numa conversa que teve com Neymar no ginásio em que dizia ao brasileiro que o grande objetivo do Al Hilal era continuar a somar triunfos seguidos para chegar ao recorde do Ajax. Bem, o recorde-recorde não pertence aos neerlandeses mas esse era o objetivo presente na cabeça do treinador português e o caminho até chegar a essa fasquia está cada vez mais próximo: com a 24.ª vitória na deslocação a Damã para defrontar o Al-Ettifaq de Steven Gerrard, o Al Hilal igualou o Coritiba na quarta maior série de sempre. O que falta agora para a entrada no Guinness Book? Um triunfo com o Al-Ittihad na Liga permite chegar ao Ajax de 1995, outro triunfo com o Al-Ittihad mas para a Liga dos Campeões iguala o Ajax de 1971/72 e mais um triunfo diante do Al-Riyadh para a Liga chega ao registo máximo do modesto conjunto galês do The New Saints, que durante o ano de 2016 alcançou esse recorde de 27 vitórias consecutivas.

O encontro começou com o Al-Ettifaq a mostrar mais argumentos do que na primeira volta, também pelas caras novas que recebeu na reabertura do mercado, mas o Al Hilal não demorou a agarrar o controlo do jogo mesmo com dificuldades em criar oportunidades. Houve um remate de Koulibaly numa segunda bola na área que Paulo Vítor defendeu (15′), uma tentativa de meia distância de Rúben Neves que passou perto (19′), um erro corrigido depois por Koulibaly que quase ofereceu o golo inaugural à equipa da casa e a Dembélé (27′) e pouco mais. No entanto, a equipa de Jorge Jesus respira confiança e continua a mostrar argumentos de peso para chegar à vantagem em qualquer situação ou contexto. Foi assim que, na sequência de um canto à direita de Rúben Neves, Milinkovic-Savic apareceu ao primeiro poste beneficiando de vários bloqueios para fazer de cabeça o 1-0 (39′). Foi assim que, numa zona de pressão mais alta na saída a partir de trás do Al-Ettifaq, Salem Al-Dawsari recuperou a bola, seguiu pela esquerda, entrou na área e fez o 2-0 (45+5′).

O segundo tempo baixou o ritmo e a intensidade da partida, o que foi fazendo de quando em vez que Jesus tivesse autênticas explosões no banco a pedir mais aos seus jogadores. Milinkovic-Savic, num remate de meia distância, ainda acertou no poste num lance em que Paulo Vítor estava batido (63′) mas o Al Hilal geria o avanço de dois golos com uma capacidade que acaba por ser ainda hoje a grande diferença em relação ao Al Nassr de Luís Castro, sem consentir sequer uma oportunidade para o Al-Ettifaq reentrar na partida e com o técnico português munido de um iPad nos minutos finais para corrigir alguns posicionamentos num jogo onde a surpresa acabou por ser a falta de golos de Mitrovic, que marcava há oito encontros seguidos.