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“Eu Capitão”: pilotar a barca da humanidade

Leão de Prata em Veneza, nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional, “Io Capitano” filma a epopeia dos migrantes do Mediterrâneo como o épico histórico que de facto é: História do presente.

Filmado com um misto de atores profissionais e não atores, Eu Capitão transpira uma verdade que só podemos admirar
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Filmado com um misto de atores profissionais e não atores, Eu Capitão transpira uma verdade que só podemos admirar

Filmado com um misto de atores profissionais e não atores, Eu Capitão transpira uma verdade que só podemos admirar

Podem dizer o que quiserem; enquanto existirem as categorias de Melhor Filme Internacional, Melhor Documentário, Melhor Curta de Animação, Documental e de Ação Real e servirem, portanto, para dar palco global a alguns grandes filmes que se fazem, todos os anos, por esse mundo fora, e que não o teriam de outra maneira, os Óscares são bons, os Óscares são importantes, os Óscares merecem toda a atenção que têm.

Eu Capitão, filme de Matteo Garrone, a quem fomos, provavelmente, apresentados em 2008 com Gomorra, a adaptação do livro que valeu a Roberto Saviano uma fatwa da Máfia, é o mais recente argumento para esta causa, brilhando num leque de nomeados a melhor filme internacional que, como tem sido costume nos últimos anos, bate aos pontos o de nomeados a melhor filme tout cours.

Vencedor do prémio para Melhor Filme Europeu no Festival de San Sebastián, Melhor Realizador, Melhor Jovem Ator e prémio Unesco em Veneza, Io Capitano conta a incrível história de Seydou e do seu primo Moussa, dois jovens senegaleses que, como tantos outros africanos na última década, decidem tentar o salto migratório para a Europa. De Dakar à visão da Sicília, vão duas horas e um minuto de um épico que talvez não esperássemos.

[o trailer de “Eu Capitão”:]

Um épico que não se perde em grandiloquências, económico na narrativa e justo na exposição sentimental. Um épico para a História do nosso tempo, sobre os desafios do presente, aos ombros de heróis que vestem camisolas de clubes e seleções interessantemente tornadas universais, com as cores e os emblemas esbatidos pela lama e assim tornados iguais, uniformes de uma equipa que luta, literalmente, pela salvação.

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Filmado com um misto de atores profissionais e não atores, Eu Capitão transpira uma verdade que só podemos admirar. Como é que certos (muito poucos) realizadores conseguem esta proeza é fenómeno que nunca deve deixar de nos espantar. Este mergulho no real, ainda para mais, da parte de um realizador forasteiro, não africano. Este trabalho do ser humano que se eleva à linguagem de se representar a ele próprio. Seydou, a personagem, é mesmo o jovem Seydou Sarr; Moussa é mesmo o jovem Moustapha Fall, e os seus olhares comovem os nossos do princípio ao fim.

Matteo Garrone: “Os imigrantes que fizeram este filme sentiram-se representados, só isso interessa”

Pelos caminhos de Senegal, Mali, areias do Sahara, ruas da Líbia, o que nos é mostrado é um filme, simultaneamente, violento e feliz, que ilustra a epopeia, quantas vezes trágica, dos migrantes e que começa antes, muito antes, de sequer chegarem aos barcos sobrelotados onde vão arriscar tudo para chegar a uma costa europeia que talvez tenham sonhado de mais. Na verdade, esse que vemos nos noticiários é só último capítulo, a última etapa, de uma história que começou muitos quilómetros e muitos dólares atrás.

De um lado, estão as redes de tráfico de pessoas, os falsificadores de documentos, as autoridades corruptas, os ladrões, os guias, os vendedores de escravos modernos, as múltiplas máfias que se aproveitam daquele que se tornou, para todos os efeitos, um negócio, um dos mais embaraçosos do nosso tempo. Do outro, o que de mais belo tem a condição humana, as mães e os filhos, a fraternidade, a mão que se estende para ajudar um desconhecido, a compaixão pelo que sofre, a figura paternal que emerge perante a crise de orfandade, a responsabilidade perante a vida do próximo, que, bem ou mal, nos foi colocada nas mãos.

Eu Capitão é para todos verem: os que querem portas mais fechadas às migrações e os querem portas mais abertas e, sobretudo, os que ainda não têm opinião

Eu Capitão é para todos verem: os que querem portas mais fechadas às migrações e os querem portas mais abertas e, sobretudo, os que ainda não têm opinião. É para verem e, depois, discutirmos o que há a fazer. Porque é urgente fazer. Das suas imagens extraordinárias, algumas visitadas por um inesperado pendor onírico, embaladas pela banda sonora de Andrea Farri e onde pontificam nomes familiares como os Tinariwen, exala a certeza de que o cinema, quando quer, continua a ser grande, continua belo, continua relevante, e a tela um instrumento fundamental para a reflexão contínua que conduz a Humanidade ao progresso.

Uma palavra para aquele plano final, pedindo que saia aqui quem não queira qualquer espécie de spoiler: as luzes no olhar de Seydou dizendo tudo, o som das pás do helicóptero podendo ser a salvação ou a guerra, com ecos de Apocalipse Now. Está tudo ali, o que vemos e o que não vemos. Como o filme acaba, é a nossa cabeça que decide. Até ali, Seydou foi o capitão do seu destino – e agora, que é connosco?

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