De forma obrigatória, o Valencia-Real Madrid seria sempre um jogo para falar, falar e falar. Falar porque era o regresso de Vinícius Jr. ao local onde teve o principal episódio de racismo na Liga espanhola na temporada anterior. Falar porque o mesmo Vinícius Jr. cumpria o seu jogo 250 pelos merengues numa carreira iniciada em 2018 quando chegou do Flamengo e que o colocou como símbolo da nova era da equipa. Falar porque, resultado desportivo à parte, haveria sempre mais protestos contra Peter Lim, o dono do conjunto che. O que ninguém poderia imaginar era que seria falado por um caso atípico que está a marcar o dia em Espanha e que promete dar muito que falar no empate que pode deixar o Girona a quatro pontos e o Barcelona a seis.

Rebobinando 90 minutos em poucos segundos, depois de algumas provocações a Vinícius Jr. (apelidado de Pinóquio pelos adeptos visitados) no exterior do estádio e da homenagem antes do apito inicial aos heróis que combateram o grande incêndio na zona de Valência que vitimou na semana passada dez pessoas num prédio residencial, Hugo Duro e Yaremchuk colocaram os visitados na frente com dois golos de avanço mas Vinícius Jr., depois de um cruzamento de Carvajal (que errara no 2-0), reduziu nos descontos antes do intervalo. Ficava assim tudo em aberto e o Real Madrid chegou mesmo ao empate, de novo com o brasileiro a aparecer ao segundo poste na pequena área a desviar um cruzamento de Brahim Díaz (76′).

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Os descontos da partida chegavam com o 2-2 no marcador e os visitantes, como é habitual, carregavam no acelerador para mais uma remontada nesta Liga e o golo apareceu mesmo, com Jude Bellingham a vestir o papel de herói com um desvio de cabeça ao primeiro poste para o 3-2. Problema? O árbitro, Gil Manzano, acabara o encontro um par de segundos antes, não deixando a jogada seguir por considerar que o tempo extra de compensações já tinha chegado ao fim. E gerou-se a confusão total, sendo que o médio inglês ainda viu vermelho direto por protestos com a frase “It’s a fucking goal! The ball is in the air!” [“É golo! A bola estava no ar!”] entre uma revolta que começou no relvado mas que continuou depois do apito final.

“É algo inédito porque depois do corte tínhamos a posse de bola e devia parar se o Valencia tivesse a posse de bola. Não há muito mais a dizer, nunca tinha acontecido comigo. O Bellingham disse ‘fucking goal‘ mas não era um insulto e foi expulso. Foi algo inédito, nunca tinha acontecido comigo. Se apitasse quando o guarda-redes do Valencia cortou a bola, está bem, mas deixou seguir, tínhamos a posse e… Creio que foi um erro”, disse Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, no final da partida. “Estamos de cabeça quente e chateados mas agora é tentar voltar à normalidade. O balneário ainda está um pouco quente”, acrescentou.

Da parte dos merengues, que não tomaram até ao momento qualquer posição oficial, a Marca fala num dos erros mais grosseiros dos últimos anos mas com a consciência interna no clube de que existe uma guerra aberta em torno da arbitragem na Liga espanhola que tem o Barcelona também como protagonista entre as críticas de Joan Laporta e Xavi e as respostas que vão surgindo no canal televisivo do Real Madrid (sendo que o técnico dos blaugrana já chegou a falar em “competição adulterada todas as semanas”). O caso Negreira, em que os catalães são acusados de tentativa de favorecimento através de arbitragens ao longo de várias épocas, tornou-se o ponto de viragem (para pior) no clima que se tem vivido no Campeonato.