Em 2020, quando conquistou a última edição da Liga dos Campeões, o Bayern foi aqui apresentado como “o melhor clube do mundo”. A ideia não foi propriamente unânime mas apresentava através de uma visão mais global de todo o projeto em torno do conjunto da Baviera: a forma como pagou o novo Allianz Arena muitos anos antes do tempo, a maneira como tinha uma estrutura assumida de conselheiros não executivos com a representação dos três acionistas externos (Audi, Adidas e Allianz) que escolhiam depois uma administração executiva com os melhores de cada área, os planos que possibilitavam uma planificação a médio prazo dos plantéis com contratações cirúrgicas muitas vezes às melhores equipas alemãs e a custo zero, as ideias em termos técnicos que permitiam sucessões “limpas”. Palavra chave? Estabilidade. Aquilo que perdeu.

Bayern, provavelmente o melhor clube do mundo. Provavelmente não, de certeza. E tem muito a ensinar aos outros

Tudo aquilo que foi escrito nesse especial em termos meramente desportivos foi caindo com o tempo, sendo que até a forma com Oliver Kahn e Hasan Salihamidzic foram afastados dos cargos que ocupavam no futebol dos bávaros, com a oficialização da saída a ser feita poucos minutos depois da conquista de um título quase por “milagre” na última jornada da Bundesliga, mostrou que o clube entrou numa espiral que nada tinha a ver com o que conseguira consolidar com o tempo. A política de contratações não foi famosa, o cargo de treinador tornou-se quase uma dança de cadeiras e o próprio ambiente nem sempre é o melhor no interior do balneário, como se viu na cena de pugilato entre Leroy Sané e Sadio Mané (que foi vendido apenas um ano depois de ter chegado do Liverpool). No entanto, havia “limites”. Os limites que agora estavam em risco.

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Três derrotas seguidas, um “filme de terror” e um balneário perdido. Por agora, Tuchel fica no Bayern — mas até quando?

Na sequência da derrota em Itália pela margem mínima na primeira mão dos oitavos da Champions, restava ao Bayern um jogo de 90 minutos para ter ainda algo para lutar em termos desportivos até ao final de uma temporada que será a última com Thomas Tuchel no comando, numa decisão já anunciada pelos dirigentes sem que o sucessor esteja escolhido (pelo menos que se saiba). A época começou com uma derrota por 3-0 em Munique na final da Supertaça com o RB Leipzig, prosseguiu com uma eliminação com o FC Saarbrücken logo na segunda ronda da Taça da Alemanha e deixou com uma série de deslizes a equipa a dez pontos do líder Bayer Leverkusen quando estamos a dez jornadas do final. Sobrava a Liga dos Campeões.

Com Mourinho a ver e Tuchel de telemóvel na mão, Sarri sorriu: Bayern perde com a Lazio em Roma

“Temos de conseguir operar uma reviravolta contra um clube italiano treinador por Maurizio Sarri. Nós já conhecemos o treinador da Lazio e sabemos também como é complicado marcar dois golos a uma formação transalpina. Precisamos ter paciência e não ficar frustrados se as coisas não nos correrem bem logo no início do jogo. Temos 90 minutos para virar a eliminatória e não nos podemos esquecer disso. Precisamos manter a cabeça fria mas ao mesmo tempo sentir a emoção do desafio, deixando claro desde o início que queremos marcar golos”, apontara Tuchel. “Futuro? Goste-se ou não, o clube já tomou uma decisão sobre mim e agora é aceitar e focar-me apenas no próximo objetivo”, acrescentara. E o próximo objetivo, Bundesliga à parte, serão os quartos da Liga dos Campeões muito por culpa de Harry Kane, o goleador inglês com fama de carregar uma maldição qualquer que se mudou para a Alemanha para ganhar o seu primeiro título na carreira. Por ele, e isso é certo, não haverá “problemas” e ao todo já vão 33 golos em… 33 jogos.

Apesar de boa abordagem da Lazio nos minutos iniciais, mostrando não só uma boa organização defensiva sem bola mas também vontade de chegar sempre que possível à baliza de Neuer, o Bayern teve essa entrada forte a tentar instalar-se no meio-campo contrário e a tentar por várias vezes o golo que empatasse a um a eliminatória. Leroy Sané viu a tentativa travada por Ivan Provedel, Musiala arriscou mais um lance de génio com nova intervenção do guarda-redes, Harry Kane fez a bola rasar o poste depois de um ligeiro desvio num adversário. No entanto, o facto de a bola não entrar foi gerando alguma ansiedade nos bávaros, que numa transição defensiva mal feita viu Ciro Immobile desviar de cabeça pouco ao lado. Um susto aos 37′, o golo do 1-0 menos de dois minutos depois’: Pavlovic voltou a ter um passe fantástico, Raphael Guerreiro tentou o remate que saiu mal mas Harry Kane surgiu de forma rápida para desviar de cabeça (39′).

O intervalo estava quase a chegar em Munique mas ainda havia mais por escrever sobre esse período que foi aquele que acabou por decidir a eliminatória: Musiala ainda ficou muito perto da reviravolta total com um desvio na área que passou ao lado (41′) mas Thomas Müller, na sequência de um canto batido por Raphael Guerreiro na esquerda com um remate ao segundo poste de De Ligt, marcou de cabeça na pequena área e colocou o Bayern na frente (45+2′). Ainda havia um cenário em aberto caso a Lazio conseguisse apresentar outro peso em termos ofensivos no segundo tempo mas o Bayern rapidamente mostrou que era bem mais provável aumentar a vantagem do que permitir que os italianos voltassem à partida e foi isso mesmo que aconteceu de forma natural, com Harry Kane a aproveitar uma recarga após defesa de Ivan Provedel a remate de Leroy Sané para bisar na pequena área e sentenciar de vez a eliminatória (66′).