Oito meses depois da estreia mundial, e já com vários Óscares no currículo, a longa-metragem “Oppenheimer” estreou no Japão, onde o lançamento das bombas atómicas, pelos EUA, continua a representar um trauma nacional. Em algumas salas de cinema em Tóquio, segundo a Reuters, foram afixados avisos a alertar para a possibilidade de as imagens evocarem os danos causados pelas bombas.

Até aqui, o filme não tinha sido incluído na calendarização da Universal Pictures de distribuição cinematográfica no Japão, que recebeu com duras críticas a campanha de marketing “Barbenheimer”, um fenómeno que levou milhões de espectadores às salas de cinema para verem no mesmo dia o mundo colorido de Barbie, de Greta Gerwig, e a longa-metragem que retrata o processo de criação da bomba atómica pelo físico J. Robert Oppenheimer, de Christopher Nolan. A Warner Bros, responsável pelo lançamento de “Barbie”, chegou mesmo a pedir desculpa pela associação.

“Lamentável”. Japão crítica insensibilidade da campanha de marketing de “Barbie” e “Oppenheimer” nos EUA

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Segundo a Reuters, foi a distribuidora japonesa de filmes independentes Bitters Ends a avançar, agora, com o lançamento de “Oppenheimer” no Japão, que estreou esta sexta-feira. Algumas salas de cinema em Tóquio afixaram avisos a alertar para a possibilidade de o filme exibir imagens de testes nucleares que podem evocar os danos humanos causados pelas bombas.

As reações dos espectadores ouvidos pela Reuters e pelo The Guardian foram mistas. “Não tenho a certeza de que este seja um filme que os cidadãos japoneses devam fazer um esforço especial para ver”, disse um fã de Nolan à Reuters. Um morador de Hiroshima defendeu, por sua vez, que se sentiu “muito desconfortável com algumas cenas, como o julgamento de Oppenheimer nos EUA, no final”. As bombas atómicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagasaki terão feito cerca de 200 mil mortos.

Outros apontam o facto de o filme não mostrar as consequências humanas causadas pelas bombas. “Podia ter havido muito mais descrição, representação do horror das bombas atómicas”, frisou o antigo Presidente da Câmara de Hiroshima, de 96 anos, citado pelo jornal britânico. “Do ponto de vista de Hiroshima não se falou o suficiente sobre o horror das armas nucleares, mas eu encorajaria as pessoas a irem ver o filme”, considera, ainda assim.

Já Masao Tomonaga, sobrevivente da bomba atómica e diretor honorário do hospital da bomba atómica de Nagasaki da Cruz Vermelha Japonesa, disse que acredita que este é um filme “anti-nuclear”. “Pensava que a falta de imagens de sobreviventes da bomba atómica era um ponto fraco do filme. Mas, na verdade, as falas de Oppenheimer em dezenas de cenas mostram o seu choque com a realidade da bomba atómica. Isso foi suficiente para mim”, afirmou.

Um outro espectador, morador de Hiroshima e fã assumido de Nolan, considera que, sendo focado no “pai da bomba atómica”, fez “sentido não alargar demasiado o âmbito para mostrar as consequências” dos bombardeamentos no Japão.