Foi por volta das 9h30 (hora local) deste domingo, dia 31 de março, que os pais de Emile Soleil, o menino de dois anos e meio desaparecido há oito meses, receberam uma chamada. Estavam a caminho da missa de Páscoa quando os investigadores encarregues pelo caso do filho lhes telefonaram a informar que os restos mortais da criança tinham sido encontrados no dia anterior e levados para análise.

Emile Soleil desapareceu a 8 de julho de 2023 da casa dos avós maternos na aldeia de Vernet, na região dos Alpes franceses, onde passava férias de Verão. Foi visto pela última vez pelas 17h15 desse mesmo dia vestido com uma t-shirt amarela, uns calções brancos e umas botas de caminhada.

Encontrados restos mortais de Emile Soleil, o menino francês desaparecido desde julho de 2023

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Este sábado, por volta das 12h00, os seus restos mortais foram encontrados. A menos de dois quilómetros de distância da aldeia de Vernet, o crânio e dentes do menino foram descobertos por uma mulher enquanto fazia uma caminhada. Pegou então nos ossos e transportou-os até às autoridades, que se deslocaram depois ao local pedindo-lhe que indicasse o lcoal onde encontrara os ossos, de acordo com o canal francês BFMTV. Naquele mesmo sítio, já haviam sido feitas buscas e escavações nos últimos oito meses, pelo que há dúvidas que começam a surgir:

“É interessante saber se esta é a primeira vez que [a mulher] passa por aqui”, afirmou o comandante da polícia à BFMTV. “Se o faz regularmente, será que [os ossos] apareceram, ou será que ela os descobriu enquanto se afastava?”, questionou.

Ao Le Figaro uma fonte próxima da investigação acrescentou que esta mulher “é uma residente local que não sabemos se estava realmente a fazer uma caminhada”.

Dois dias antes, a 28 de março, foi organizada uma reconstituição do desaparecimento de Emile. Família, vizinhos e testemunhas juntaram-se na aldeia de Vernet e realizaram um “cenário” que durou cerca de oito horas para tentarem reconstruir o momento em que a criança foi vista pela última vez, a 8 de julho. No total, foram convocadas pelo juiz de instrução 17 pessoas.

Ossos de Emile estavam em “zona plana e não montanhosa”

“Este é um local onde os caçadores e os seus cães e os habitantes passam diariamente e onde foram efetuados trabalhos florestais no outono”, afirmou o autarca de Vernet ao canal francês. Foi a estes caçadores que a BFMTV recorreu para perceber que tipo de terreno é este onde Emile foi encontrado. Segundo Stéphane Chevrier, presidente do clube de caça de Vernet, é uma “zona relativamente plana e não montanhosa”.

“Mas se formos um pouco mais longe e em direção a Les Auches, ou mesmo um pouco mais acima de Saint-Martin, há um riacho, chama-se vale de Auches”, acrescentou, explicando depois que, no início da primavera, e com a “neve derretida e as chuvas fortes”, podem ocorrer correntes fortes que podem ter deslocado “troncos, pedras, ossos”.

Émile tem dois anos e desapareceu do jardim de casa dos avós há três dias. Centenas de pessoas nas buscas

A hipótese de os ossos terem sido deslocados ou arrastados tem sido abordada por vários especialistas que, em declarações à imprensa francesa, explicam que tanto uma terceira pessoa nesta história pode tê-los deixado cair naquele local como “um animal pode ter apanhado alguns dos ossos e tê-los trazido para aqui, o que explicaria o desaparecimento de alguns”. afirmou Marie-Laure Pezant, porta-voz da polícia francesa.

No entanto, continua a haver a hipótese de os ossos terem estado sempre lá e não terem sido detetados, apesar das buscas e escavações:

“Na altura do relatório, estávamos em condições diferentes, em pleno verão. O terreno não era o mesmo que é atualmente, com uma vegetação muito densa”, continou Marie-Laure Pezant, porta-voz da polícia francesa, acrescentando: “O terreno continua a ser muito íngreme, pelo que há uma possibilidade muito pequena de não termos visto os ossos e de não os termos conseguido detetar“. “Também podem ter sido as condições climatéricas que fizeram com que o solo evoluísse e revelasse estes ossos agora”, concluiu.

Por sua vez, Bernard Marc, um médico forense entrevistado pela BFMTV, afirmou acreditar que através dos ossos vai ser possível determinar quando Emile morreu e que “dentro do crânio, nas cavidades ocas, vamos encontrar terra”. “Esta terra é do local onde a criança foi encontrada ou é de outra zona?”, questionou.

O local onde os ossos do menino foram encontrados foi esta segunda-feira cercado de forma a permitir que os cerca de 75 investigadores possam trabalhar “nas melhores condições possíveis”: “Foi criado um sistema de controlo de área para evitar que as pessoas possam poluir o local das buscas”, explicaram as autoridades, acrescentando que a investigação levará “o tempo que for necessário”.

“Enquanto os investigadores precisarem de trabalhar num ambiente seguro, a área será proibida”.

Como aconteceu ao longo dos últimos oito meses, também a entrada na aldeia de Vernet está impedida. No domingo, o autarca François Balique proibiu o acesso de forma a “assegurar a tranquilidade dos habitantes de Vernet e dos arredores”, citou-o o Le Figaro.

Acesso à aldeia onde Émile desapareceu foi novamente cortado. Autarca acredita na hipótese de sequestro

Lançada angariação de fundos para o funeral de Emile

Ainda no domingo, foi lançada uma campanha de angariação de fundos, no grupo de Facebook “Rezar por Emile”, com o objetivo de ajudar a família a pagar o funeral e fazer marcação de missas. A campanha já conta com mais de 100 contribuições.

“Estando os pais de Emile neste grupo, acreditem que se se tratasse de uma fraude (como alguns podem pensar), esta angariação não teria sido partilhada nesta página”, explicou o responsável pela campanha.

No mesmo dia, os pais de Emile reagiram à descoberta dos restos mortais do filho através de um comunicado divulgado pelo advogado da família: “Embora esta notícia desoladora fosse esperada, chegou o momento de fazer o luto, refletir e rezar”.

“Os investigadores continuam o seu trabalho no necessário segredo de justiça para que se possam descobrir as causas do desaparecimento e da morte de Émile”, continua o comunicado, citado pela imprensa francesa., como o Le Parisien.

“Marie e Colomban gostariam de agradecer a todas as pessoas que os ajudaram e apoiaram, bem como aos juízes de instrução e aos investigadores, pelo seu trabalho, pelo seu profissionalismo, pelo seu empenho pessoal e pela sua humanidade, que foram um grande conforto para eles ao longo dos últimos meses e hoje em particular”, acrescentou o advogado.