Há muitos anos que o início do Estoril Open tem sempre João Sousa como figura central. Sempre e em tudo. Por ser a maior esperança nacional num triunfo como a épica vitória diante de Frances Tiafoe em 2018. Por ser o grande expoente português no ténis em termos internacionais. Por ser uma figura que todas as marcas e parceiros do torneio gostavam de contar nas ativações que são feitas antes e durante a competição. E ele não falhava. Até mesmo quando perdia nas rondas iniciais, dava tudo o que tinha o que não tinha por saber que estava a jogar no seu terreno sagrado como é a maior prova da modalidade no país. Agora, e mais do que nunca, João Sousa era “a” figura. O sorriso era o mesmo, o apoio talvez mais. Nada seria como antes.

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Depois de ter desistido do challenger de Girona por uma questão de precaução com o físico numa altura em que iria jogar os quartos da competição, o vimaranense que fez 35 anos no passado sábado colocava todo o foco naquele que seria o último torneio no circuito profissional de ténis. Esse era a grande diferença em comparação com os anos anteriores, sendo que depois das lágrimas que não aguentou quando anunciou a retirada havia sobretudo aquela sensação de dever cumprido para dizer adeus da melhor forma. Estavam reunidos todos os ingredientes para a Última Dança que podia ou não acontecer esta quarta-feira.

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“É uma edição muito especial para mim, pelo facto de ter decidido retirar-me do ténis profissional no Estoril Open. É um torneio que me diz muito, no qual fui muito feliz em 2018 e consegui vencer, e por ser em casa e com o carinho do público. Espero ter esse carinho, por si só especial por jogar em Portugal, mas também por ser o meu último torneio. Estão a ser dias especiais por serem os últimos mas estou a preparar o Estoril Open da melhor maneira e da forma como tenho vindo a preparar todos os torneios da minha vida, com a maior ambição para tentar fazer um grande torneio e, no final, vemos como é que as coisas correm. Tem sido ótimo jogar na Catalunha, com amigos e pessoas que me seguem a vida toda. Sinto-me bem a jogar”, tinha referido em declarações à agência Lusa, na sequência desse challenger que jogou em Girona.

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“Não é igual a todas as outras vezes, este é o meu último torneio. Ainda há bocado estava a falar com o Frederico [Marques] que é o último dia de preparação para um torneio, que é sempre especial, vai correr bem. Amanhã [Terça-feira] vai ser um dia muito especial. Venho cá para vencer jogos, se não o puder fazer, tudo bem. Mas vou dar tudo em campo, como sempre fiz, e depois no final fazemos as contas”, dissera também no primeiro dia do quadro principal, antes de ver o encontro com o francês Arthur Fils, jogador de 19 anos que já ocupa o 37.º lugar do ranking, ser adiado por um dia devido à chuva que caiu ao longo do dia.

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Em campo estava o único jogador português a chegar a 11 finais de torneios ATP. Estava o único jogador português a ganhar quatro torneios ATP (Kuala Lumpur em 2013 frente Julien Benneteau, Valência em 2015 diante do Roberto Bautista Agut, Estoril em 2018 com Frances Tiafoe e Pune em 2022 ante Emil Ruusuvuori). Estava o único jogador português a chegar alguma vez ao top 30 do ranking mundial (28.º). Estava o único a participar em 38 torneios dos quatro Majors. Estava o único jogador português a chegar às meias-finais de um Grand Slam em pares com Leonardo Mayer em 2019 no Open da Austrália. Estava o único jogador português a ir a uma final do Masters 1.000 em Roma, em 2018. Estava um jogador português que era único. Era, é e será sempre, mesmo sendo eliminado na primeira ronda do Estoril Open.

Depois de um bom início a ganhar os três primeiros pontos do encontro, João Sousa teve de ir às vantagens para fechar o jogo inicial mas conseguiu segurar o serviço, levando depois o primeiro jogo com Fils a servir ao 40-30 antes de uma resposta mais longa ao segundo saque que fez o 1-1 e marcando de seguida o 2-1 ao fazer imperar também o seu jogo nas trocas de bola mais longas. O português ainda teve um ponto de break para o 3-1 mas o francês fez prevalecer o jogo de acelerações rápidas para segurar o 2-2 e de seguida chegar ao 3-2 no serviço de Sousa, naquela que foi o primeiro break do jogo. Sousa não quebrou: aproveitando a perda de primeiro serviço do gaulês, conseguiu de imediato o contra break e segurou o seu jogo para o 4-3 antes de uma autêntica “batalha” para fazer o 5-4. O set aproximava-se da altura das decisões e foi aí que Sousa claudicou, cedendo o serviço no primeiro ponto de break e salvando um set point antes do 7-5 de Fils.

A forma como deixou escapar o primeiro parcial seria mais um obstáculo para João Sousa, que tinha do outro lado um adversário que pode não estar a atravessar o melhor momento mas que em cada bola mais curta ou menos bem colocada não demorava a aproveitar. Era por isso que a entrada no segundo set assumia especial relevância, com o vimaranense a fazer o 1-0 e a levar o segundo às vantagens sem conseguir o break que iria surgir somente no quinto jogo, com Arthur Fils a fazer o 3-2 no serviço do vimaranense. Não sendo um jogo decisivo, acabou por ser uma espécie de barreira que não mais seria superada, com o melhor português de todos os tempos a lutar até ao fim como é habitual, sobretudo numa oitava partida que esteve quatro vezes em vantagens, mas a não impedir nova derrota por 6-4 e o adeus ao Estoril Open e à carreira.