Portugal apresenta-se como aliado empenhado da NATO, comprometendo-se com um reforço financeiro na participação do fundo para a parceria com países vizinhos do sul, no ano em que a Aliança comemora 75 anos.

Portugal — que foi um dos 12 países fundadores, na assinatura do Tratado do Atlântico Norte, em 4 de abril de 1949 — anunciou em julho do ano passado o reforço em 1,5 milhões de euros da sua comparticipação no fundo para a parceria com os países da vizinhança sul, para contribuir com o esforço financeiro adicional nos mecanismos de defesa coletiva da NATO.

Este compromisso concertou-se com o envio de militares para missões da Aliança Atlântica na Lituânia e na Roménia, bem como com a continuação do contributo para a segurança da Ucrânia face à invasão russa, com cedência de equipamentos e de formação militar, designadamente de pilotos de aviões caça F-16.

Esta semana — quando se comemoram os 75 anos da assinatura do Tratado, na quinta-feira — Portugal enviou 95 militares da Força Aérea e quatro aeronaves F-16 para uma missão no Báltico, numa iniciativa que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, José Nunes da Fonseca, considerou ser “sinal da determinação coletiva da Aliança” contra as aspirações expansionistas russas na Europa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Militares portugueses participam em missão da NATO no Báltico

No fim do terceiro quarto de século de integração da NATO, Portugal possui uma representação permanente ao nível de oficial-general da organização, bem como vários elementos nos quartéis-generais da Aliança, incluindo na sua unidade operacional principal — o quartel SHAPE, na Bélgica.

Quando foi membro fundador, em 1949, Portugal criou mesmo uma estrutura própria, com uma unidade em Santa Margarida, afeta à NATO, reforçando o seu poder armamentista, em particular com o contributo dos Estados Unidos.

A colaboração tem sido permanente — com um interregno de 13 anos, quando o regime português se envolveu em guerras contra os movimentos independentistas em África — e desde a revolução de abril de 1974 que tem feito um esforço para revelar o seu empenho na Aliança Atlântica.

Contudo, Portugal é um dos países que ainda não atingiu o valor mínimo de investimento na defesa, estabelecido na cimeira de Vílnius num mínimo de 2% do Produto Interno Bruto, estando apenas perto de 1,5%.

“Na era da incerteza”, países da NATO investem mais em Defesa. Mas vários (incluindo Portugal) falham meta dos 2% do PIB

O Governo que esta semana foi substituído pelo executivo liderado por Luís Montenegro tinha-se comprometido em atingir o valor mínimo “logo que possível” e será uma tarefa do novo ministro da Defesa, Nuno Melo, ajudar a consignar essa cifra, que o Estado-Maior das Forças Armadas já disse ser importante para colmatar algumas lacunas no equipamento militar, incluindo a substituição dos F-16.

Contudo, durante a campanha eleitoral, o novo primeiro-ministro, Luís Montenegro, assumiu que chegar a essa meta de 2% de investimento seria particularmente difícil durante a legislatura que agora se inicia.

“É evidente que Portugal está comprometido em reforçar o investimento, [mas] não é possível fazê-lo imediatamente, tenho dúvidas de que o consiga fazer na próxima legislatura”, disse Montenegro, durante um dos debates de campanha eleitoral.

Esta intenção de reforço de investimento enquadra-se com o apoio popular à presença de Portugal na NATO, já que uma recente sondagem da Aliança Atlântica revelava que, se houvesse agora um referendo sobre esta matéria 83% dos portugueses estaria de acordo com essa participação, enquanto 74% se mostram mais seguros por causa dessa participação.

Portugal é mesmo o quinto país do grupo de 32 em que a população mais apoia a presença na Aliança Atlântica, a seguir à Albânia, Lituânia, Noruega e Polónia.

Larga maioria dos portugueses, 83%, apoia pertença do país à NATO

Em termos de posicionamento político, Portugal assume que procurará tirar proveito da sua geografia e das suas parcerias privilegiadas com o continente africano e, recentemente, o embaixador português junto da NATO, Pedro Costa Pereira, defendeu que a Aliança Atlântica deve fortalecer a sua “dimensão sul”, numa altura em que a guerra na Ucrânia desviou as atenções para leste.

“O nosso objetivo deve ser que a agenda da NATO tenha uma dimensão sul, quando a preocupação da Aliança Atlântica é ser polivalente em todas as frentes”, disse Costa Pereira, durante uma conferência intitulada “A NATO e a Segurança e a Defesa Europeias”.

Ao mesmo tempo, Portugal serve-se do posicionamento estratégico da Base das Lajes, nos Açores, como um ponto de negociação com os Estados Unidos dentro da NATO, embora Washington tenha desvalorizado esse posto avançado norte-americano junto da Europa.

Em 2015, o então embaixador dos EUA em Portugal, Robert Sherman, descreveu a Base das Lajes como uma “bomba de gasolina” no Atlântico, em declarações que foram lidas como alguma frieza em Lisboa, mas para muitos, os Açores continuam a ser fundamentais para a segurança do Atlântico Norte, o que foi confirmado pelo recente regresso a essa base militar dos aviões antissubmarinos P-8.

Ao mesmo tempo, o comandante norte-americano da Base das Lajes, Brian Hardeman, assumiu que esta unidade militar da NATO nos Açores constitui um “ponto privilegiado” para prestar apoio à Ucrânia, na ajuda militar que a Aliança Atlântica tem garantido a Kiev nos últimos dois anos.

Hardeman admitia mesmo o reforço da posição dos EUA nos Açores, lembrando que essa atitude se deve também ao reconhecimento do empenho de Portugal no esforço de defesa do Atlântico Norte e dos compromissos mais amplos da NATO.