O diretor executivo da empresa responsável pelo sistema de teleféricos no Curral das Freiras, na Madeira, manifestou-se este sábado convicto de que o projeto vai avançar, apesar de ter sido suspenso pelo Governo Regional.

“O projeto está suspenso, mas acredito que as entidades oficiais estão a fazer o que têm de fazer para retomar a normalidade do decorrer do projeto”, afirmou Nuno Freitas, em declarações aos jornalistas.

O responsável falava após uma apresentação pública que decorreu este sábado na freguesia do Curral das Freiras, no interior do concelho de Câmara de Lobos, numa altura em que o projeto se encontra suspenso na sequência da queda do Governo Regional (PSD/CDS-PP).

Não temos razão nenhuma para duvidar de que o projeto irá retomar a sua normalidade e, portanto, continuamos a fazer a nossa parte de acordo com o que foi contratualizado”, reforçou.

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Apesar de há cerca de um mês a empresa responsável pela iniciativa ter perspetivado, em resposta escrita à Lusa, o início das obras para maio, hoje o diretor executivo da Madeira Skypark Adventure reconheceu que “em maio não será possível”, acrescentando que recomeçarão “muito em breve”.

“O que tenho sentido é que em todas as reuniões que tivemos, não com todos os partidos, mas com os que nos quiseram receber, todos compreendem o projeto hoje em dia e nenhum se opõe ao projeto”, disse ainda, questionado sobre a influência da queda do executivo madeirense e das eleições antecipadas agendadas para maio.

Presente na apresentação, António João Costa, que faz parte de um grupo de pessoas nas redes sociais que se manifesta contra o projeto, disse aos jornalistas que acompanha com “alguma preocupação e constrangimento” esta construção.

No seu entender, a missão do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza da Madeira, promotor do sistema de teleféricos, “não será de promover este tipo de investimentos, turísti-cos na sua larga essência, ainda que tenha sido apresentado um centro de interpretação da natureza”.

Para António João Costa, o projeto devia ser cancelado, considerando as questões a proteção da natureza e a ausência de um discussão do “assunto com a seriedade que ele requer”.

De acordo com a Madeira Skypark Adventure, o projeto implica um investimento “totalmente privado” de 47 milhões de euros, tendo já sido investidos mais de 8,5 milhões de euros.

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O contrato é válido por 50 anos, a contar do início da exploração, e visa a construção e conservação de um sistema de teleféricos, de um parque aventura e de interpretação de natureza e de um ‘zip line’ (‘slide’), incluindo instalações de apoio e restauração, na zona do Curral das Freiras, freguesia localizada no interior do concelho de Câmara de Lobos, a oeste do Funchal.

Serão construídas três estações de teleférico — Curral das Freiras, Boca da Corrida e Paredão — e estima-se que o projeto possa gerar 40 postos de trabalho diretos.

O projeto tem motivado contestação de vários setores, nomeadamente associações ambientalistas e forças partidárias da oposição, sobretudo devido ao impacto ambiental.

Este sábado, durante a apresentação, Nuno Freitas reafirmou que esta é uma iniciativa “estrutural para a região”, que “vive de e para a natureza”, vincando que “sem preservação da natureza não faz sentido”.

Sublinhou, por isso, que “o Estudo de Impacte Ambiental concluiu não haver impactos associados”.

E acrescentou que a “avaliação de impactos sobre a freira da Madeira, morcegos, cagarras e borboletas e respetivos ‘habitats’, concluíram por impactes mínimos que serão mitigáveis”.

Segundo a empresa, será paga uma renda mensal de 2.000 euros ao Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (instituto público madeirense), valor que será ajustado anualmente à taxa de inflação.

O contrato prevê também o pagamento à Madeira de uma contrapartida de 1% da receita anual da bilheteira dos teleféricos a partir do décimo ano. De acordo com o Estudo de Viabilidade Económica e Financeira realizado pelo IFCN, em 2034 a receita anual pode atingir os 6,6 ME, o que representa cerca de 66 mil euros de contrapartida.

Somados todos os valores a pagar durante a concessão de 50 anos (incluindo rendas, impostos e contrapartidas), estima-se que a Madeira terá 400 ME de benefícios diretos.