As comemorações dos 50 anos de libertação dos presos políticos do campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, realizam-se esta quarta-feira no local com a presença de três chefes de Estado e o ministro da Defesa de Angola.

O antigo campo, hoje Museu da Resistência, foi preparado para receber as cerimónias centrais que evocam a resistência de mais de 500 pessoas que estiveram presas no “campo da morte lenta”, símbolo da opressão e violência da ditadura colonial portuguesa.

Um total de 36 pessoas não sobreviveu, a maioria, 32 mortos, eram portugueses que contestavam o regime fascista, presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.

O campo reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A libertação de quem se opunha ao Estado Novo aconteceu poucos dias depois de o regime fascista ter sido derrubado com a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal.

O programa inclui o descerramento de uma placa comemorativa, uma sessão especial com os chefes de Estado e uma conferência sobre o campo do Tarrafal pelo historiador Victor Barros. Luís Fonseca, antigo embaixador cabo-verdiano, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) entre 2004 e 2008, usará da palavra como porta-voz dos presos políticos.

Marcelo em Tarrafal, Cabo Verde: “Queremos um futuro de liberdade onde não caibam campos de morte lenta”

Depois de agredido pela PIDE, polícia política do regime, Luis Fonseca integrou o primeiro grupo de presos políticos cabo-verdianos a chegar ao Tarrafal (1970-1973). “O Tarrafal é de facto um símbolo do fascismo português”, da “negação de direitos”, referiu, numa entrevista à Lusa, a propósito dos 50 anos da libertação.

“Há um dever de memória para com os combatentes que deram a vida pela liberdade”, fazendo com que o sítio “não deva ser esquecido pelas gerações, porque representa a luta dos povos de quatro países”.

À tarde, os Presidentes de Cabo Verde, de Portugal e da Guiné-Bissau e o ministro da Defesa de Angola realizam uma visita guiada ao campo e as comemorações do dia terminam com um concerto com Mário Lúcio (Cabo Verde), Teresa Salgueiro (Portugal), Paulo Flores (Angola) e Karyna Gomes (Guiné Bissau), com entrada livre.