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“Situações de destruição do património, grafitagem e ameaça à segurança” levaram a que a reitoria da Universidade de Lisboa apelasse à intervenção da PSP na Faculdade de Psicologia na noite da passada quinta-feira para dispersar os estudantes que têm ocupado o espaço desta instituição académica em defesa da Palestina. A justificação lê-se num comunicado enviado pela Universidade de Lisboa ao Observador.

Este grupo de estudantes quis associar-se a um protesto estudantil que se iniciou nos campus norte-americanos e já se estendeu a universidades de várias cidades europeias, do Canadá, México e até Austrália, a exigir o fim da ofensiva israelita na Faixa de Gaza. Ao início da madrugada, o coletivo Greve Climática Estudantil Lisboa anunciou que oito estudantes tinham sido detidos.

Há dois dias e meio que este grupo de estudantes universitário ocupa a Faculdade de Psicologia, mas na noite de quinta-feira “começaram a verificar-se preocupantes situações de destruição do património, grafitagem e ameaça à segurança através da eliminação e arrombamento de fechaduras“, denuncia a Univeridade de Lisboa em comunicado. Os manifestantes deixaram assim “livre acesso a zonas do edifício onde se encontram laboratórios, serviços administrativos, gabinetes das direções e salas de aula. A facilidade de acesso a registos de dados pessoais e académicos, a materiais de laboratório e tecnológico e a documentos e posses, constitui um risco inaceitável”.

A reitoria alega ainda que, além desta situação, se registou um “aumento da preocupação dos estudantes das duas instituições [Faculdade de Psicologia e Instituto de Educação da Universidade de Lisboa] com possíveis interrupções de atividades previstas, letivas e não letivas”. Neste sentido, “o Reitor da ULisboa e os diretores da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação solicitaram a intervenção das autoridades, de forma a repor a segurança de bens, equipamentos e pessoas das suas instituições”, confirma a instituição.

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A intervenção policial foi inicialmente confirmada ao Expresso pela própria PSP — tendo o Comando Metropolitano de Lisboa avançado que lhe “foi comunicada a ocupação” e que iria “agir de acordo com o que está determinado na lei”– e pela Climáximo, um dos grupos ambientalistas que organizou o protesto, que também contesta os combustíveis fósseis. Nas redes sociais, os jovens foram partilhando imagens de elementos das Forças de Segurança no edifício, sendo possível ver alunos a sair pelo seu próprio pé e outros a serem levantados, arrastados e levados pelos agentes. 

À Lusa, Joana Fraga, uma das porta-vozes da ocupação, contou que a polícia chegou às instalações pelas 22h00 desta quinta-feira e disse que “por indicação da direção [da Faculdade] tinha ordens para mandar sair” os participantes da ocupação. “Neste momento, estão cerca de oito estudantes lá dentro a resistir. Cá fora temos uma manifestação de apoio com todas as restantes estudantes que também se encontravam no acampamento e mais outras que de forma independente ou em coletivos, vieram demonstrar apoio”, explicou esta porta-voz da ocupação perto da meia-noite. Já pela 1h30 desta sexta-feira, foi revelado que estas oito pessoas tinham sido detidas e que a polícia carregou sobre os manifestantes.

“À nossa chegada, houve bastante violência policial. Falo de fortes empurrões e bastonadas, deixando inclusivamente pais de estudantes, que se encontravam a apoiar o protesto, no chão”, contou.

A representante referiu ainda que os oito detidos se encontram na esquadra dos Olivais, que vão passar a noite “noutro local e amanhã serão presentes a juiz”. Outra fonte deste movimento estudantil, que não se quis identificar, detalhou à Lusa que a PSP surgiu na faculdade com entre 20 a 25 agentes e que à porta do edifício estavam cerca de 50 pessoas em solidariedade com os estudantes que permaneciam dentro da faculdade.

Joana Fraga disse que, na terça-feira, quando começou a ocupação, decorreu uma reunião com a direção e “houve um compromisso de não despejar e dar ordem de dispersão desde que se fosse mantida a atividade letiva normal e que esta ocupação não perturbasse a atividade letiva normal”.

A porta-voz garantiu que até quinta-feira “todas as aulas têm acontecido com normalidade”. “Houve aqui, de certa forma, uma quebra desta palavra que ainda estamos a tentar perceber, ainda estamos a tentar dialogar e entrar em contacto com a direção para perceber o que é que aconteceu”, acrescentou.

Médio Oriente: Protesto estudantil em Lisboa prossegue com o dobro das tendas

A reitoria garantiu que as direções das faculdades de Lisboa “favoreceram inicialmente a coexistência da manifestação de protesto com o desenvolvimento das atividades”, valorizando  “a expressão livre de ideias”, mas os “métodos e comportamentos” dos estudantes envolvidos na ação “põem seriamente em causa a segurança de pessoas e bens e, por extensão, o bom funcionamento da ULisboa e das suas Escolas”.

O protesto de estudantes teve início na terça-feira e, no dia seguinte, quase duplicou de tamanho, havendo 15 tendas no local, obrigando a que o protesto fosse alargado para um pátio interior do edifício. Logo no primeiro dia, uma das representantes do protesto revelou que a direção da faculdade fez na terça-feira um breve contacto com os ativistas, a quem transmitiu que não chamaria a polícia se eles decidissem pernoitar. Os ativistas organizaram-se em turnos para o que chamam de “trabalho reprodutivo”, dividindo-se em equipas de cuidado, comida ou limpeza.