Vários responsáveis de agências noticiosas europeias apontaram esta sexta-feira, em Lisboa, que está a haver uma transformação na forma de operar destas agências para resistir a mudanças tecnológicas e de recursos humanos.

As agências de notícias estão realmente orientadas para o futuro neste momento. Estão a diversificar, estão a prestar agora muito mais atenção à tecnologia“, disse à Lusa o secretário-geral da Aliança Europeia das Agências de Notícias (EANA), Alexandru Ion Giboi, à margem da conferência europeia da organização.

No segundo e último dia da conferência, que decorreu na sede da Lusa, em Lisboa, Ion Giboi apontou que há diferenças no desenvolvimento entre as várias agências noticiosas, mas “não há uma diferença assim tão grande” nas metas para o futuro.

Entre os principais desafios para o futuro das agências de notícias, o secretário-geral da EANA apontou que o ritmo das mudanças no panorama noticioso tem sido elevado, pelo que estas se têm de adaptar.

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“Creio que um sentimento de flexibilidade e orientação para o futuro nas políticas das agências noticiosas deve ser a base para a evolução destas”, defendeu, à margem do debate “O papel das agências noticiosas no panorama mediático contemporâneo“.

A iniciativa contou também com o presidente da EANA e da agência France-Presse (AFP), Fabrice Fries, com o presidente da Lusa, Joaquim Carreira, e com a diretora-geral da agência noticiosa croata HINA, Branka-Gabriela Vojvodic.

No entender de Fabrice Fries, as agências noticiosas “já não estão num ambiente fechado em que apenas dependem de si”.

A nossa estratégia e estar em locais onde a comunicação social já não vai e investir, especialmente nesses países. Acreditamos que é muito difícil para um órgão de comunicação social cobrir, por exemplo, África, sem subscrever o serviço da AFP. A nossa estratégia não é muito tecnológica, é jornalismo no local“, afirmou o presidente da EANA e da AFP.

Branka-Gabriela Vojvodic assinalou que uma das dificuldades para a agência noticiosa que lidera está relacionada com os recursos humanos.

“A nossa média de idades é 54 anos e estamos com algumas dificuldades com jornalistas mais novos. É quase impossível – não encontrar, isso é fácil, porque o jornalismo é sexy —, mantê-los”, começou por dizer a diretora-geral da HINA.

A responsável da agência noticiosa croata apontou que além da questão salário, há carreiras no setor da comunicação, como marketing ou relações públicas, com incentivos superiores ao do jornalismo.

“Estamos a tentar adaptar-nos”, acrescentou.

Joaquim Carreira apontou que tem havido uma alteração do modelo de clientes.

“Estamos a fugir um pouco dos clientes de media tradicionais”, afirmou, assinalando que tem havido interesse em vender conteúdos a grandes plataformas.

“Os órgãos locais são pequenos e muito fragmentados. Temos cerca de 4% das empresas que reúnem 90% da faturação e 88% dos lucros. Há empresas muito grandes e muitas, muitas muito pequenas”, referiu, dizendo que há um processo que Portugal tem de fazer para que as empresas mais pequenas também cresçam.